segunda-feira, 14 de junho de 2010

Vergonha

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Por João Paulo Guerra

UMA SONDAGEM publicada no final na semana passada pelo Correio da Manhã dava o primeiro-ministro a cair desamparado no índice de confiança dos portugueses.

Não admira. O que admira é que o guarda-costas do primeiro-ministro, o líder da chamada oposição, registasse uma subida idêntica à queda do chefe do governo. Porque na verdade tudo o que José Sócrates tenha feito nos últimos tempos, que explique a descida no índice da confiança dos portugueses, o fez com o ámen de Passos Coelho. Mas é assim a lógica perversa da democracia bipolarizada. Porque não contando apenas com o quadro míope da bipolarização imposta mediática e subconscientemente como modelo de alternância, o somatório das intenções de voto na esquerda é maioritário, o que não tem nunca qualquer efeito prático em Portugal.

Notícias publicadas nos últimos dias revelam um país que desautoriza e desacredita quem o governa e as políticas sem saída que conduziram Portugal ao beco da crise e às ruas da amargura. Ao fim de três décadas de governação PS e PSD, alternados ou em bloco, com ou sem CDS na bolsa marsupial, Portugal voltou a ser um país bom para se fugir daqui para fora. Há uma nova vaga de emigração, com portugueses a procurarem lá fora aquilo que não encontram cá dentro: emprego, melhores salários e realização profissional. E entre os portugueses que ficam começa a ser dramático o défice demográfico. Segundo um especialista citado pela imprensa a propósito das estimativas demográficas do INE, em Portugal faltam condições para ter e criar filhos.

Este retrato de um país de onde se foge ou se evita nascer devia encher de vergonha os governantes. Ou será que a vergonha é um produto que se esgota ainda mais depressa que as promessas eleitorais?
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«DE» de 14 Jun 10