Por João Duque
DIZ O POVO, e eu repito-o nas aulas de Finanças Empresariais, que “o casar, o pagar e o morrer, o mais tarde que puder ser”.
A ideia subjacente ao morrer é óbvia embora, quando a vida se torna penosa, particularmente do ponto de vista físico, muitos dos que rodeiam o paciente, e por vezes, até o próprio, peçam à caridade divina a antecipação da data de expiração.
Quanto ao casar, a ideia é mais rebuscada. Se o casamento é um passo para a felicidade, porque razão diz o povo que o ideal é adiá-lo? Vários motivos podemos apontar para isso, mas o que me diverte mais é quando penso que exercendo o direito do matrimónio se exerce uma opção que, como muitas outras, tem bem mais valor viva do que "morta". É sempre possível encontrar um outro parceiro bem mais abastado por quem valha muito mais o exercício da companhia e a perda de liberdade...
E o pagar? O mais tarde que puder ser, ensino eu nas aulas de Finanças Empresariais, admitindo que esse pagar mais tardio significa uma fonte de financiamento fácil, barata e legal! Não advogo o pagar tardio para além do estipulado, pois uma coisa é o prazo acordado e que deve ser cumprido, outra, o prazo efectivo. Mas quando pugno para dilatação dos prazos de pagamento a fornecedores isso significa tentar dilatar prazos de pagamentos negociados no acto da preparação anterior à celebração dos contratos. Depois, é pagar na hora devida.
O que se passa em Portugal é um preocupante e generalizado incumprimento nos prazos de pagamento. A Intrum Justitia publicou recentemente um estudo que mostra que particulares, empresas e Estado todos pagam bem mais tarde do que o acordado e, pior, que o Estado é quem mais se atrasa no pagamento. Em média os particulares acordam pagar a 30 dias, mas pagam a 62 (um desvio de 107%). As empresas acordam pagar em média a 51 dias, mas pagam a 88 (um desvio de 63%). E o Estado acorda pagar em média a 57 dias e paga a 141 dias (com um desvio de 147%)! Quer dizer, mesmo em termos relativos o Estado é o que mais se atrasa.
Portugal tem um prazo médio de pagamentos muito superior ao da média europeia (97 dias para Portugal e 55 dias para a média europeia) e o nosso só é inferior ao da Espanha, Grécia e Itália. Isto é, em termos de prazos médios de pagamento eis que se encontram outra vez os PIGS da Europa!
E se a coisa está mal, acresce que piorou no último ano. De 2009 para 2010, o Estado aumentou o prazo médio de pagamento 12 dias... Não seria melhor o Estado financiar-se (se puder!) a taxa mais baixa e pagar o que deve a horas, do que pressionar as empresas a procurarem financiamento no sistema financeiro a taxas mais elevadas, porque ele (Estado) se atrasa 84 dias após a data estabelecida?
É também por este endividamento oculto e que também não aparece nas contas públicas que me leva a considerar que até os cenários mais pessimistas dos estudos do BPI relativos à dívida pública portuguesa são optimistas.
.
«DE» de 16 Jun 10
DIZ O POVO, e eu repito-o nas aulas de Finanças Empresariais, que “o casar, o pagar e o morrer, o mais tarde que puder ser”.
A ideia subjacente ao morrer é óbvia embora, quando a vida se torna penosa, particularmente do ponto de vista físico, muitos dos que rodeiam o paciente, e por vezes, até o próprio, peçam à caridade divina a antecipação da data de expiração.
Quanto ao casar, a ideia é mais rebuscada. Se o casamento é um passo para a felicidade, porque razão diz o povo que o ideal é adiá-lo? Vários motivos podemos apontar para isso, mas o que me diverte mais é quando penso que exercendo o direito do matrimónio se exerce uma opção que, como muitas outras, tem bem mais valor viva do que "morta". É sempre possível encontrar um outro parceiro bem mais abastado por quem valha muito mais o exercício da companhia e a perda de liberdade...
E o pagar? O mais tarde que puder ser, ensino eu nas aulas de Finanças Empresariais, admitindo que esse pagar mais tardio significa uma fonte de financiamento fácil, barata e legal! Não advogo o pagar tardio para além do estipulado, pois uma coisa é o prazo acordado e que deve ser cumprido, outra, o prazo efectivo. Mas quando pugno para dilatação dos prazos de pagamento a fornecedores isso significa tentar dilatar prazos de pagamentos negociados no acto da preparação anterior à celebração dos contratos. Depois, é pagar na hora devida.
O que se passa em Portugal é um preocupante e generalizado incumprimento nos prazos de pagamento. A Intrum Justitia publicou recentemente um estudo que mostra que particulares, empresas e Estado todos pagam bem mais tarde do que o acordado e, pior, que o Estado é quem mais se atrasa no pagamento. Em média os particulares acordam pagar a 30 dias, mas pagam a 62 (um desvio de 107%). As empresas acordam pagar em média a 51 dias, mas pagam a 88 (um desvio de 63%). E o Estado acorda pagar em média a 57 dias e paga a 141 dias (com um desvio de 147%)! Quer dizer, mesmo em termos relativos o Estado é o que mais se atrasa.
Portugal tem um prazo médio de pagamentos muito superior ao da média europeia (97 dias para Portugal e 55 dias para a média europeia) e o nosso só é inferior ao da Espanha, Grécia e Itália. Isto é, em termos de prazos médios de pagamento eis que se encontram outra vez os PIGS da Europa!
E se a coisa está mal, acresce que piorou no último ano. De 2009 para 2010, o Estado aumentou o prazo médio de pagamento 12 dias... Não seria melhor o Estado financiar-se (se puder!) a taxa mais baixa e pagar o que deve a horas, do que pressionar as empresas a procurarem financiamento no sistema financeiro a taxas mais elevadas, porque ele (Estado) se atrasa 84 dias após a data estabelecida?
É também por este endividamento oculto e que também não aparece nas contas públicas que me leva a considerar que até os cenários mais pessimistas dos estudos do BPI relativos à dívida pública portuguesa são optimistas.
.
«DE» de 16 Jun 10