Por Baptista-Bastos
PEDRO PASSOS COELHO falou, com amenidade, acerca das alterações ao programa do PSD, que pretende intentar. Acentuou que o mundo está em mudança e que o partido, naturalmente, tem de acompanhar o mundo e a mudança. Para aviso das almas mais sobressaltadas esclareceu que Sá Carneiro, na "sua época", chegara a afirmar que o SPD alemão (o de Willy Brandt) era o seu paradigma e o molde que desejava aplicar ao partido que fundara. Neste momento, Passos Coelho sorriu levemente, e informou ser a CDU germânica o actual arquétipo do actual PSD, reconhecendo, assim, que caminhava, desenvolto, com os tempos novos. (Para os esquecidos, a CDU era o partido de Franz-Josef Strauss, o "toiro da Baviera", e um dos políticos mais reaccionários e perigosos da Europa daquele tempo, um paladino da Guerra Fria e do confronto sem concessões. É, também, o partido de Angela Merkel).
Não me parece que, actualmente, este seja o exemplo mais apropriado de partido e a ideologia mais adequada para enfrentar os nossos dilemas. Há dias, confidenciei, a um amigo comum, que Passos Coelho está a falar de mais e a não dizer rigorosamente nada.
O novo presidente do PSD está a encaminhá-lo para as zonas dos objectos perdidos, no propósito (acaso sem intenção, o que é pior) de romper os laços sociais, e de fazer desaparecer, simultaneamente, as garantias dos nossos direitos individuais, e um horizonte de valores cuja importância nunca denegámos. A exigência democrática não se compadece com a incerteza.
As últimas sondagens não são propícias a grandes euforias. Apesar da corrosão do PS, e de Sócrates ser o primeiro-ministro mais vilipendiado da democracia, os equilíbrios são surpreendentemente mais estáveis do que se previa. E a esquerda continua maioritária. Penso que o discurso de Pedro Passos Coelho provoca uma lógica de semelhança com o PS. Quando assevera que o PSD está, apenas, a ajudar o País, Passos Coelho embrulha-se numa dualidade de critérios que não encoraja a tomada de decisão por parte dos eleitores. De contrário, as conclusões da última sondagem, publicada anteontem no DN, seriam obviamente muito diferentes.
Se o Governo é a baralhada que se conhece, os torções a que procede o PSD, entre a palavra e a acção, impedem-nos de descortinar uma perspectiva de escolhas, de valores e de padrões. A tese de que não agir faz parte do agir parece-me anacrónica. Sobretudo quando, apesar de lacunas e desconsolos, o português comum já não participa nessa "adesão passiva" que fez a história das tiranias e das democracias de superfície.
E não há jornalistas estipendiados, nem comentadores do óbvio que consigam alterar esta direcção das coisas.
.
«DN» de 30 Jun 10
PEDRO PASSOS COELHO falou, com amenidade, acerca das alterações ao programa do PSD, que pretende intentar. Acentuou que o mundo está em mudança e que o partido, naturalmente, tem de acompanhar o mundo e a mudança. Para aviso das almas mais sobressaltadas esclareceu que Sá Carneiro, na "sua época", chegara a afirmar que o SPD alemão (o de Willy Brandt) era o seu paradigma e o molde que desejava aplicar ao partido que fundara. Neste momento, Passos Coelho sorriu levemente, e informou ser a CDU germânica o actual arquétipo do actual PSD, reconhecendo, assim, que caminhava, desenvolto, com os tempos novos. (Para os esquecidos, a CDU era o partido de Franz-Josef Strauss, o "toiro da Baviera", e um dos políticos mais reaccionários e perigosos da Europa daquele tempo, um paladino da Guerra Fria e do confronto sem concessões. É, também, o partido de Angela Merkel).
Não me parece que, actualmente, este seja o exemplo mais apropriado de partido e a ideologia mais adequada para enfrentar os nossos dilemas. Há dias, confidenciei, a um amigo comum, que Passos Coelho está a falar de mais e a não dizer rigorosamente nada.
O novo presidente do PSD está a encaminhá-lo para as zonas dos objectos perdidos, no propósito (acaso sem intenção, o que é pior) de romper os laços sociais, e de fazer desaparecer, simultaneamente, as garantias dos nossos direitos individuais, e um horizonte de valores cuja importância nunca denegámos. A exigência democrática não se compadece com a incerteza.
As últimas sondagens não são propícias a grandes euforias. Apesar da corrosão do PS, e de Sócrates ser o primeiro-ministro mais vilipendiado da democracia, os equilíbrios são surpreendentemente mais estáveis do que se previa. E a esquerda continua maioritária. Penso que o discurso de Pedro Passos Coelho provoca uma lógica de semelhança com o PS. Quando assevera que o PSD está, apenas, a ajudar o País, Passos Coelho embrulha-se numa dualidade de critérios que não encoraja a tomada de decisão por parte dos eleitores. De contrário, as conclusões da última sondagem, publicada anteontem no DN, seriam obviamente muito diferentes.
Se o Governo é a baralhada que se conhece, os torções a que procede o PSD, entre a palavra e a acção, impedem-nos de descortinar uma perspectiva de escolhas, de valores e de padrões. A tese de que não agir faz parte do agir parece-me anacrónica. Sobretudo quando, apesar de lacunas e desconsolos, o português comum já não participa nessa "adesão passiva" que fez a história das tiranias e das democracias de superfície.
E não há jornalistas estipendiados, nem comentadores do óbvio que consigam alterar esta direcção das coisas.
.