Por Baptista-Bastos
A IDA DE UM GRUPO de banqueiros a Bruxelas possui contornos tão pouco esclarecidos como a lesão de Nani: rigorosamente, nada se sabe. Sabe-se, isso sim, que há assuntos cuja natureza nos parece sempre embrulhada em ambiguidades e evasivas. A certeza das certezas é que não nos sentimos bem, nem à vontade. A história das nossas vidas corresponde a uma decepção quase ininterrupta. Atingiu--se, em Portugal, os 10,8 por cento de desempregados, número assustador, mesmo assim enganoso: há mais, muitos mais portugueses sem emprego. Ninguém espera que o vistoso grupo de banqueiros tenha viajado a Bruxelas com o coração apoquentado pela nossa desgraça, e o alvoroço de quem se consome na procura de uma solução.
No mesmo dia soube-se que, desde Janeiro, faliram mais 1800 empresas, numa média de onze por dia. O rol dos infortúnios não termina aqui. Nem os perigos que nos ameaçam têm, nestes números, um definitivo ponto final. Com perdão da palavra, não acredito que aqueles senhores se preocupem com a salvação da pátria. Nem que procedam a um mea culpa, pela circunstância de serem os representantes típicos da falência do que têm defendido e nos arrastou para a situação miserável em que nos encontramos.
Há tempos, um outro airoso conjunto de génios, desta vez economistas, foi recebido pelo dr. Cavaco. Também se desconhece o resultado da reunião. Transpirou, para o público ignaro, que os senhores estavam muito mortificados com o estado da nação. Muitos deles haviam sido governantes; outros, decisores. Falavam como se nada tivessem a ver com as condições de desincorporação político-social em que nos achamos. Nenhum deles disse que a crise é sistémica, e corresponde ao carácter relacional do poder. Marx explicou. Mas se Marx provoca brotoeja, Max Weber também o disse, de outro modo. Leia-se, por obséquio, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
Carlos Pimenta, social-democrata e ambientalista, afirmou, recentemente, numa palestra promovida pela Intervenção Democrática: "Acho que quem alguma vez leu Marx, o próprio Marx ou Engels (não os divulgadores do Marx, pois sobre estes tenho a opinião de que são os maiores adulteradores do marxismo, propositadamente ou, tão somente, porque tornaram simplório e linear o que era dialéctico e complexo), quem estudou Marx e quem procurou interpretá-lo, inevitavelmente transportará Marx por toda a vida."
A leitura dos velhos mestres, associada à consciência de quem se não submete ao fatalismo da imutabilidade, provoca o conflito de forças e a explicação da índole do lucro e da mais-valia. Portugal não é insustentável. A noção de responsabilidade deveria corresponder à noção do exacto significado das palavras.
.A IDA DE UM GRUPO de banqueiros a Bruxelas possui contornos tão pouco esclarecidos como a lesão de Nani: rigorosamente, nada se sabe. Sabe-se, isso sim, que há assuntos cuja natureza nos parece sempre embrulhada em ambiguidades e evasivas. A certeza das certezas é que não nos sentimos bem, nem à vontade. A história das nossas vidas corresponde a uma decepção quase ininterrupta. Atingiu--se, em Portugal, os 10,8 por cento de desempregados, número assustador, mesmo assim enganoso: há mais, muitos mais portugueses sem emprego. Ninguém espera que o vistoso grupo de banqueiros tenha viajado a Bruxelas com o coração apoquentado pela nossa desgraça, e o alvoroço de quem se consome na procura de uma solução.
No mesmo dia soube-se que, desde Janeiro, faliram mais 1800 empresas, numa média de onze por dia. O rol dos infortúnios não termina aqui. Nem os perigos que nos ameaçam têm, nestes números, um definitivo ponto final. Com perdão da palavra, não acredito que aqueles senhores se preocupem com a salvação da pátria. Nem que procedam a um mea culpa, pela circunstância de serem os representantes típicos da falência do que têm defendido e nos arrastou para a situação miserável em que nos encontramos.
Há tempos, um outro airoso conjunto de génios, desta vez economistas, foi recebido pelo dr. Cavaco. Também se desconhece o resultado da reunião. Transpirou, para o público ignaro, que os senhores estavam muito mortificados com o estado da nação. Muitos deles haviam sido governantes; outros, decisores. Falavam como se nada tivessem a ver com as condições de desincorporação político-social em que nos achamos. Nenhum deles disse que a crise é sistémica, e corresponde ao carácter relacional do poder. Marx explicou. Mas se Marx provoca brotoeja, Max Weber também o disse, de outro modo. Leia-se, por obséquio, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
Carlos Pimenta, social-democrata e ambientalista, afirmou, recentemente, numa palestra promovida pela Intervenção Democrática: "Acho que quem alguma vez leu Marx, o próprio Marx ou Engels (não os divulgadores do Marx, pois sobre estes tenho a opinião de que são os maiores adulteradores do marxismo, propositadamente ou, tão somente, porque tornaram simplório e linear o que era dialéctico e complexo), quem estudou Marx e quem procurou interpretá-lo, inevitavelmente transportará Marx por toda a vida."
A leitura dos velhos mestres, associada à consciência de quem se não submete ao fatalismo da imutabilidade, provoca o conflito de forças e a explicação da índole do lucro e da mais-valia. Portugal não é insustentável. A noção de responsabilidade deveria corresponder à noção do exacto significado das palavras.
«DE» de 16 Jun 10