sexta-feira, 20 de agosto de 2010

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

VITALINO CANAS, que ficou a assegurar os serviços mínimos do PS na época balnear, apareceu ao país, nas televisões, com ar escandalizado, por Passos Coelho ter sido «tão claro no seu discurso» do Pontal ao «abrir a possibilidade de uma crise política, associada com a não aprovação do Orçamento para 2011». Com voz contristada, Canas lamentou ainda que o líder do PSD tivesse lançado tal heresia «em pleno mês de Agosto», mês que, no entender de Canas, deve estar reservado aos incêndios e às retemperadoras férias dos políticos – excepto alguns desventurados como ele, obrigados a ficar de serviço para responderem com frases ocas e de circunstância a qualquer iniciativa imprevista dos partidos adversários.

Ora, é certo que o discurso de Passos Coelho, no ressuscitado Pontal, foi muito contundente na forma – fez uma espécie de ultimato a Sócrates e ao PS «até ao dia 9 de Setembro» para assumirem se querem ou não governar o país e até sublinhou: «O aviso está feito e é muito claro». Mas não é menos verdade que a intervenção e as exigências do líder do PSD não podiam ser mais brandas no conteúdo – apenas impôs, para deixar passar o OE de 2011, que o Governo «aperte na despesa pública» e «não aumente os impostos, por exemplo através da forte redução das deduções fiscais na área da Saúde e da Educação».

Cabe a Sócrates, que não tem maioria de apoio suficiente no Parlamento, tomar a iniciativa de abrir o diálogo com os partidos da Oposição para viabilizar o OE de 2011. E as suaves condições de Passos Coelho não parecem difíceis de negociar. Aceitando mesmo uma redução fraca – forte não, claro – das deduções fiscais. Não valia a pena o pobre Vitalino Canas ter-se escandalizado tanto.

Se o Pontal correu, política e mediaticamente, bem a Passos Coelho, há pormenores que são reveladores para o futuro. O seu desmedido elogio público a Menezes, a sua bênção a Mendes Bota e o regresso à cena de figuras como Arlindo Carvalho (só lá faltava o seu amigo Isaltino) revelam que Passos Coelho não é um líder liberto de compromissos. Que está em alto grau dependente do velho aparelho do PSD. E do pior que esse aparelho tem. Preocupante…
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«SOL» de 20 Ago 10