sábado, 7 de agosto de 2010

Os ossos do atleta pobre

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Por Ferreira Fernandes

O NORMAL, na América, são os lugares estranhos. O uísque Jack Daniel's faz-se em Lynchburg, no Tennessee, um condado ainda sob a Lei Seca (é proibido beber álcool).
O próprio dos lugares americanos é agitarem-se, nem que seja com trocadilho: Reno, no Nevada, apresenta-se como "a maior pequena cidade do mundo!".
Antigamente ninguém parava numa vila mineira na Pensilvânia que ainda não se chamava Jim Thorpe. Depois, em 1953, a cidadezinha comprou à viúva de Jim Thorpe o direito de ficar com o túmulo e o nome do atleta - e atraiu turistas. A Associated Press acabara de eleger Jim Thorpe o maior atleta da primeira metade do século. Índio mestiço, ele foi ouro no pentatlo e no decatlo, nos JO de Estocolmo, em 1912. Mas em 1913 retiraram-lhe as medalhas por não ser amador puro. Quando estudante tinha ganho 35 dólares semanais num campeonato liceal...
Thorpe morreu em 1953, na miséria e sem as medalhas (que só seriam devolvidas aos filhos em 1983). Ontem, o Times de Londres contava que os filhos queriam também recuperar os ossos do pai para levá-lo para a terra natal no Oklahoma. Ele nunca tinha vivido na cidade a que deu o nome.
O milionário Avery Brundage ficou 6.º no pentatlo, em 1912. Enquanto foi presidente do Comité Olímpico Internacional, nunca permitiu que as medalhas de Jim Thorpe lhe fossem devolvidas. Brundage está sepultado no cemitério que quis, em Rosehill, Chicago.

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«DN» de 7 Ago 10