Por João Duque
O MONTEPIO lançou uma OPA sobre o Finibanco. Sempre tive pelo Montepio uma simpatia especial porque, como associação mutualista, rege-se por princípios diferentes da banca comercial, e achei curioso, quando entrou no saudável 'jogo' do mercado tentando, pela via do preço, convencer os atuais acionistas a venderem-lhe a posição.
Neste negócio a coisa era transparente, pensava eu! Não há golden shares. O preço e o controlo seriam suficientes para convencer os interessados no negócio.
Durante o último ano as ações do Finibanco têm vindo a descer em patamares sucessivos. Aproveitando o momento atual com a cotação a 1,25 euro, o Montepio avançou com uma proposta generosa de comprar pelo menos 75% do banco a 1,95 euro.
O desfecho do negócio está na mão da família Costa Leite que detém 63% do banco. Se vender, o negócio pode fazer-se; se não vender, o negócio não se realizará. Só eles sabem se o vão ou não fazer e deles depende tudo. Eles detêm uma posição invejável e mais ninguém pode ter esta posição. Mais, sabem que há um conjunto de outros acionistas presentes na administração da empresa que se mostram disponíveis para vender (a fazer fé em declarações públicas).
O caso é que, uma sociedade detida pela dita família, desatou a comprar ações antes de dizer ao mercado o que vai fazer, conseguindo arrebanhar 350 mil ações a um preço médio de quase €1,90. Isso significa que se venderem estas ações ao Montepio vão ganhar a fabulosa quantia de 17.500 euros!
Quando soube desta magnífica negociata fiquei triste.
Primeiro porque não entendo como é que sendo acionista e gestor de uma empresa cotada não há sensibilidade para estas questões de assimetria de informação. Ou não se entende que se os que venderam a 1,90 euros soubessem o que sabe o acionista maioritário não teriam, muito provavelmente, vendido àquele preço?
Fiquei triste porque uma esperteza destas, que acho absolutamente ilegal, destrói a credibilidade do mercado e dá razões a quem pensa que isto é neoliberalismo, arruinando a boa-fé aos que acreditam no mecanismo de mercado e de financiamento da economia: a Bolsa. O que é que direi aos meus alunos nas aulas sobre mercado de capitais, se estas ações se repetem e são executadas por pessoas que deveriam ser profissionais?
Fiquei triste porque esta atitude foi realizada por um grupo financeiro. Poderia ter sido feita por um grupo industrial ou comercial, podendo invocar-se, sem desculpa, o desconhecimento de regras mínimas de natureza ética e deontológica de mercado, mas de um banqueiro, meu Deus?
Por fim fiquei triste pela mancha que deixa nesta família e pelo estado de penúria em que devem estar envolvidos, o que não imaginava, uma vez que se 17.500 euros farão a diferença e tentarão quem assim decide, então muito mal estarão, seguramente...
Mas há formas mais bonitas de ganhar a vida, que às vezes são uma treta, não é António?
.O MONTEPIO lançou uma OPA sobre o Finibanco. Sempre tive pelo Montepio uma simpatia especial porque, como associação mutualista, rege-se por princípios diferentes da banca comercial, e achei curioso, quando entrou no saudável 'jogo' do mercado tentando, pela via do preço, convencer os atuais acionistas a venderem-lhe a posição.
Neste negócio a coisa era transparente, pensava eu! Não há golden shares. O preço e o controlo seriam suficientes para convencer os interessados no negócio.
Durante o último ano as ações do Finibanco têm vindo a descer em patamares sucessivos. Aproveitando o momento atual com a cotação a 1,25 euro, o Montepio avançou com uma proposta generosa de comprar pelo menos 75% do banco a 1,95 euro.
O desfecho do negócio está na mão da família Costa Leite que detém 63% do banco. Se vender, o negócio pode fazer-se; se não vender, o negócio não se realizará. Só eles sabem se o vão ou não fazer e deles depende tudo. Eles detêm uma posição invejável e mais ninguém pode ter esta posição. Mais, sabem que há um conjunto de outros acionistas presentes na administração da empresa que se mostram disponíveis para vender (a fazer fé em declarações públicas).
O caso é que, uma sociedade detida pela dita família, desatou a comprar ações antes de dizer ao mercado o que vai fazer, conseguindo arrebanhar 350 mil ações a um preço médio de quase €1,90. Isso significa que se venderem estas ações ao Montepio vão ganhar a fabulosa quantia de 17.500 euros!
Quando soube desta magnífica negociata fiquei triste.
Primeiro porque não entendo como é que sendo acionista e gestor de uma empresa cotada não há sensibilidade para estas questões de assimetria de informação. Ou não se entende que se os que venderam a 1,90 euros soubessem o que sabe o acionista maioritário não teriam, muito provavelmente, vendido àquele preço?
Fiquei triste porque uma esperteza destas, que acho absolutamente ilegal, destrói a credibilidade do mercado e dá razões a quem pensa que isto é neoliberalismo, arruinando a boa-fé aos que acreditam no mecanismo de mercado e de financiamento da economia: a Bolsa. O que é que direi aos meus alunos nas aulas sobre mercado de capitais, se estas ações se repetem e são executadas por pessoas que deveriam ser profissionais?
Fiquei triste porque esta atitude foi realizada por um grupo financeiro. Poderia ter sido feita por um grupo industrial ou comercial, podendo invocar-se, sem desculpa, o desconhecimento de regras mínimas de natureza ética e deontológica de mercado, mas de um banqueiro, meu Deus?
Por fim fiquei triste pela mancha que deixa nesta família e pelo estado de penúria em que devem estar envolvidos, o que não imaginava, uma vez que se 17.500 euros farão a diferença e tentarão quem assim decide, então muito mal estarão, seguramente...
Mas há formas mais bonitas de ganhar a vida, que às vezes são uma treta, não é António?
«Expresso» de 7 Ago 10
NOTA (CMR): julgo que o "António", a que João Duque se refere no fim do texto, é o cronista que publica ao lado dele, nos mesmos dias e na mesma página.