sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A enxaqueca nacional

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Por Antunes Ferreira

JÁ SE SABIA, mas agora está confirmado: somos um País com dores de cabeça, ou, ainda pior, com enxaquecas. Que são muito mais complicadas, pois à dor de cabeça, aliam-se as no pescoço ou na zona cervical. Diz quem sabe, particular e obviamente os médicos que são causadas por vasos sanguíneos dilatados. Ora em Portugal o que não falta são vasos dilatados, sanguíneos ou não. Donde, somos um País com enxaquecas.

Mais de um décimo dos portugueses sofre delas e até à data muito se questionava – e muitos – sobre a sua origem. Mas, agora, é outra loiça: investigadores portugueses (pelos vistos ainda os temos, o que já não é mau) descobriram que a susceptibilidade à enxaqueca pode estar ligada ao gene STX1A, responsável pela produção da proteína sintaxina 1A, que regula a libertação de neurotransmissores no sistema nervoso central. Desde já me permito adiantar que nesta matéria sou um leigo praticante e, por isso mesmo, sugiro uma consulta à Wikipedia.

Prossigo. Os investigadores portugueses trabalham no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto e estudaram 475 pessoas - 188 doentes que sofrem de enxaqueca e um grupo de controlo de 287 pessoas sem sintomas da doença - com o objectivo de identificar variantes que apontassem uma maior susceptibilidade de determinados grupos familiares para a enxaqueca.

Os resultados mostraram duas variantes genéticas associadas a um risco aumentado de enxaqueca nos doentes. O estudo, publicado na revista científica "Archives of Neurology", permitiu pela primeira vez a associação efectiva do gene à susceptibilidade da doença, tornando ainda possível identificar uma nova variante do gene em questão que nunca tinha sido associada à enxaqueca. Esta descoberta poderá abrir caminho para novas terapêuticas para esta doença incapacitante. Os investigadores lusos avançam ainda que a identificação destas variantes genéticas explica o risco aumentado de enxaqueca na população portuguesa.

Reporto-me, evidentemente, ao que a Comunicação Social publicou a este respeito, já que a minha ignorância militante não levaria, nunca, a que me pronunciasse nestes termos científicos. Mas, para alem do registo que aqui fica acompanhado pelo meu agradecimento a quem fez a descoberta e a quem a publicou, retenho o que se afigura mais significativo.

É a altura, penso, de muito boa gente deste País reflectir sobre este assunto. Nomeadamente aqueles que se repartem entre o Poder e as Oposições, entre os que administram (?) a Justiça e os que nela sofrem, entre os docentes, os discentes e outros pacientes. Talvez fosse uma boa oportunidade para a enxaqueca nacional, no mínimo, começar a decrescer. Não disse a ser curada.