terça-feira, 10 de agosto de 2010

Um tribunal do 'carats'

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Por Ferreira Fernandes

QUEM nunca teve ganas de oferecer diamantes a Naomi Campbell que atire a primeira pedra, lapidada ou não. E, no entanto, essa parece ser a falta venial de Charles Taylor, antigo presidente da Libéria e cúmplice dos senhores da guerra civil na vizinha Serra Leoa. Desta, sabemos pouco. Em compensação, sabemos tudo do jantar de benemerência na casa de Nelson Mandela, até que foi a favor de crianças (veremos, à frente, a indecência de juntar esse pretexto e Taylor).
De madrugada, pois, Naomi Campbell foi acordada por diamantes em nome de alguém. Oferta de quem? A modelo diz não saber, para ela é fastidioso saber quem lhe estende presentes. Ontem, Mia Farrow desmentiu-a e por aqui estamos.
Ora, a razão de ser dos tribunais internacionais é preparar uma consciência para lá das fronteiras. Não lhes chega a mera eficiência daquele juiz que meteu Al Capone na prisão por não pagar impostos - aí, só importava desarmar o mafioso. Charles Taylor está a ser julgado por cumplicidade com o Revolutionary Unite Front, o das crianças-assassinas de Freetown: "Escolhe, a mão direita ou a esquerda?", e os soldaditos drogados cortavam a que lhes apetecia. Ou, com o mesmo fastio com que Naomi recebe presentes, uma orelha. A capital da Serra Leoa é a capital mundial de mutilados. As audiências com modelos e actrizes só nos afastam da consciência disso.
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«DN» de 10 Ago 10