quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A gente mata, não se incomode

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Por Ferreira Fernandes

JÁ AQUI FALEI de Sakineh Ashtiani, a iraniana que foi condenada a morrer apedrejada por adultério. E isso é o quê?, dir-me-á uma pessoa normal. A condenada é enterrada com a cabeça de fora e atiram-lhe pedras. É, existe. E como os códigos penais nunca são simples, nem a primeira, nem a segunda pedra podem ter tamanho que mate - para fazer durar.
Voltando ao planeta Terra: o Presidente brasileiro, que tem andado a fazer olhinhos ao Irão para se dar (a ele, Lula) um papel na estratégia mundial, adiantou uma solução. "Se essa mulher está causando incómodo, nós a receberemos no Brasil", disse ele, oferecendo asilo a Sakineh. É Lula escarrapachado, o "Lula, paz e amor" com que foi eleito, de surpresa, da primeira vez, em 2002, quando os adversários ainda o vendiam como o terror do capitalismo. Depois, Lula passou dois mandatos a fazer compromissos à esquerda e à direita e o Brasil ficou a ganhar. Ele acabou a acreditar que pode fazer isso com todos, até com malucos que mandam matar à pedrada. Se a mulher é incómodo, dêem-ma que trato do incómodo... - é Lula, todinho. O que interessa é o resultado. Mas Ahmadinejad, o presidente do Irão, desenganou-o: "Não há necessidade de criar problemas para o Presidente Lula e enviá-la ao Brasil."
A esse Ahmadinejad já não o interpreto. Fala a sério? Ironiza? Não sei, consultório de psiquiatria não é o meu forte.

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«DN» de 18 Ago 10