terça-feira, 18 de maio de 2010

Aperto

.
Por João Paulo Guerra

AO MESMO TEMPO que o PSD empossou um líder que antes mesmo que mexesse um dedo já estava à cabeça das intenções de voto dos portugueses, no PS parece ter aberto a corrida à sucessão de José Sócrates.

Como se isso não bastasse, politólogos auscultados na edição de ontem do JN opinaram que o acordo entre PS e PSD vai penalizar os primeiros e beneficiar os segundos. Que se passa? Passa-se que estamos em Portugal, país governado por socialistas modernos cujo destino e função histórica, como se vê por essa Europa fora, é preparar o terreno para a direita mais radical.

A alternância democrática foi transformada nos últimos tempos em dança e contradança de frustrações. Os eleitores votam no partido cara porque se fartaram do partido coroa e vice-versa. Isto explica também outro fenómeno da comédia política portuguesa que é o dos dirigentes aos quais o poder cai no colo. Aconteceu com Durão Barroso, em 2002. Andava o PSD a conspirar às escâncaras para "remover" o líder e encontrar alguém mais apresentável para a figura de chefe de governo e eis que o primeiro-ministro foge e com a pressa deixa cair o poder no colo do adversário. Poderá vir a acontecer algo parecido com Passos Coelho. Porque algo se passa no interior do PS para que, de um momento para o outro, comecem a proliferar candidatos à liderança. Com Seguro já são quatro.

Ou então a casta política sabe alguma coisa que não diz ao povinho. Por exemplo, que uma reeleição de Cavaco Silva - que a direcção do PS tanto se está a esforçar por ajudar - fará cair o Governo do PS e o mais avisado será ir aparelhando os camelos para a travessia do deserto.

O pior será quando os portugueses encolherem os ombros, porque tanto se lhes dá quem é que os manda apertar o cinto.
.
«DE» de 18 Mai 10