domingo, 23 de maio de 2010

Plágios, cópias e outras fraudes

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Por Nuno Crato

CHEGAM-NOS PERIODICAMENTE notícias sobre fraudes académicas. Fala-se um pouco de perguntas sopradas nos exames — mas quase como se esse comportamento fosse natural —, dá-se alguma importância a trabalhos demasiado inspirados noutros e levanta-se um escândalo quando aparecem teses de doutoramento completamente copiadas, como ainda há pouco se noticiou.

Há uma lógica em tudo isto, ou melhor, há culpas distribuídas a que os docentes e o sistema de ensino não são imunes. Culturalmente, somos propensos a desculpar pequenas fraudes, como as cópias nos testes, que aparecem justificadas pela solidariedade entre colegas. Mas há mais do que a cultura estudantil. As confusões sobre o que é originalidade, o que é investigação e o que é simples reescrita ajudam a diluir o que devia ser separado.

Não é invulgar que em livros de síntese sobre alguns temas apareça apenas um autor, mas depois se venha a perceber, por uma observação minuciosa, que o livro é a reprodução ou adaptação de teses ou de trabalhos orientados por esse professor, mas feitos pelos seus estudantes de doutoramento ou mestrado. Não é também invulgar que em livros ou artigos sejam copiadas ou parafraseados parágrafos inteiros de outros autores, parecendo que basta inserir a menção a esses outros trabalhos nas referências bibliográficas para tudo ser aceitável.

Por vezes, as coisas começam na escola. Com a insistência em trabalhos “investigativos” que têm como pretexto desenvolver a criatividade dos estudantes, mas que os transformam em praticantes do corte-e-cola da Internet, começa-se a dar a impressão de que “investigar” é copiar. Claro que os trabalhos livres são educativos, desde que em moderação e com assistência do professor. Só com adequado acompanhamento se pode perceber se o aluno aprende alguma coisa, reinterpreta alguma coisa ou se tudo se limita a ser uma iniciação ao plágio.

As coisas complicam-se quando são os próprios professores a confundir investigação com estudo ou cópia. A primeira actividade consiste na procura de resultados novos, verificáveis e significativos pela sua generalidade, portanto publicáveis internacionalmente. A segunda é a assimilação, quanto muito a assimilação e aplicação criativas, de resultados e modelos gerais. Tudo isto, que é simples de entender, é frequentemente confundido em documentos orientadores da política educativa. Diz-se, por exemplo, que «investigar [é] uma actividade fundamental no ensino e na aprendizagem» e defende-se que professores e alunos se transformem em «investigadores».

Num estudo recentemente publicado na revista “Physical Review Special Topics: Physics Education Research”, 6–010104, um grupo de professores do MIT e da Universidade do Kansas relata a sua observação ao longo de quatro anos dos hábitos de estudo de estudantes de física. Notaram, entre outras coisas curiosas, que a fraude em trabalhos escritos é mais frequente do que em respostas em serviços de teste online e que os estudantes que têm menos escrúpulos em copiar têm uma probabilidade de reprovar três vezes maior que os outros. Mas o mais interessante é que o melhor preditor do sucesso no curso é o cumprimento dos trabalho de casa ao longo do semestre. Os estudantes que copiam menos e que acabam por ter melhores resultados são os que cumprem com regularidade os exercícios e as práticas dirigidas que os professores indicam. Claro: a melhor maneira de evitar a fraude é trabalhar.
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«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 15 Mai 10