sexta-feira, 28 de maio de 2010

Os valores tão simples da razão

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Por Pedro Barroso

O PAÍS VOTA HOJE, ao que parece, o cancelamento do TGV. Depois de ser o progresso e a rede fantasiosa de uma teia cheia de futuros, tornou-se vagamente condicional, para passar a ser hoje, mais que provavelmente, simplesmente pretérito. Ou coisa adiada, indefinida, adiante se saberá.

No Ensino, hoje reconsidera-se o neo-liberalismo, fundado nos super livres direitos do jovem a uma educação aberta, generosa e passiva, pedagogicamente suave, sem peias disciplinares, nem aprendizagens exigentes nem dolorosas. Porque, afinal, se calhar, é preciso repensar e tornar a ensinar, com a responsabilidade de preparar quem vai gerir o futuro.
Isto é, com conhecimento e responsabilidade.

Nas Obras públicas a 3ª travessia do Tejo já foi e deixou de ser várias vezes. Impressionante o papel que se gasta com coisas que são e não são, para talvez renascerem em projecto, cujo, afinal, não se confirma. Não há taco para fazer – calem-se e aguardem por melhores dias. É como eu faço.

Na questão do Aeroporto, o Mundo também mudou, ao que parece. Sorrio com o que sentirão os investidores que apostaram em compras maciças em desertos da Camelândia, território coutado do “jamais”, para, afinal, hoje, muito provavelmente, aquilo continuar simplesmente a ser vinha - e da boa…- e o pessoal do Poceirão continuar a ter tomates!

Sinceramente, gosto.

No Freeport, na PT e mais não sei quantos episódios novelescos da vida pública, julga-se que há mentira que, afinal, nunca foi, mas, agora, noutro mais moderno desenvolvimento… parece ter sido mesmo mentira.

Nada melhor para anular de vez o nosso já desconfiado e proverbialmente difícil convívio com a ilustre classe politica. Nem vale a pena roubar gravadores. Já todos sabemos que o que se promete não é para se gravar.

Na política de barragens; na gestão de Natureza; na Justiça – o maravilhoso pagão revisitado no saboroso episódio da Braga Parques, meu Deus, que delícia… – no investimento público; nas privatizações; na Cultura – neste caso, permito-me inquirir, qual política de Cultura? Mas enfim… – em quase todas as matérias de Estado, vemos sempre tudo mais do mesmo. A promessa incumprida com valor muito efémero e normalmente contradita pela evolução das coisas.

Ai, senhores! O simples bom-senso teria conseguido decidir o mesmo, em menos tempo, mais barato e com menos consultores…

Na política de Saúde diminuiu-se o número de Hospitais. Muito bem. Para as pessoas nascerem, ou tratarem das pernas partidas, AVC’s, etc descobre-se em seguida que estão a horas de penoso caminho e difícil sobrevivência do local onde vivem. Por isso, agora, já ouvi admitir que, afinal, se calhar, os Centros Regionais de Saúde têm de ter valências alargadas. E que os Hospitais distritais estão cheios de carências e resposta a todo o nível.

Na fiscalidade, uma politica de aumentos de IVA levou-nos a crescer até aos 21% para baixar o IVA para 20%, para afinal agora, tornar a subir o IVA. Para 21% outra vez, até ver. Já que a nossa vocação é sofrer, mais valia estar quieto.

Yes! Prime-minister!...
A saudosa e humorística serie britânica não saberia fazer melhor!

Acontece que o meu saudoso e destrambelhadíssimo empregado Luís fazia o mesmo. Um dia apareceu-me todo vaidoso com uma aparelhagem de som que mal cabia no seu quarto. Coisa de luxo – som de envergonhar o patrão.
Dois meses depois, o acumulado calote levou-lha, pois o comerciante não esteve com meias medidas e veio buscá-la. Mas o saudoso Luís bebia demais e, não sendo, de modo algum, estúpido, era digamos, clinicamente tontinho. Fraco de miolo e completamente descabelado de responsabilidade. Nem o Bilhete de Identidade tinha actualizado. Vivia em Marte, onde talvez hoje - sinceramente lho desejo – seja feliz.

Mas um Governo?! Pessoas de fato e gravata? Bem pagos? Chiça, senhores!

Que tal meter a mão na consciência, abordar os conhecedores nas matérias, aconselhar-se bem antes de decidir, não olhar a interesses privados, mas ao superior interesse nacional, legislar em função de um País que se pretende fiável, competente e funcionante?

Pessoalmente acho facílimo ser competente.

E honesto, então, nem se fala. Basta dizer a verdade, que a mentira dá sempre um trabalhão.

Eu disse um trabalhão?
Disparate, claro!
Queria obviamente dizer que a mentira dá sempre um trambolhão.