quinta-feira, 13 de maio de 2010

Tirar partido do cinto apertado

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Por Ferreira Fernandes

OS IRLANDESES, por causa da mãe de todas as crises (importada dos banqueiros americanos), já apertam o cinto há dois anos. E deles não ouvimos queixumes. É gente que desconfiava do seu próprio sucesso recente. E, depois, é gente com memória, têm os anos da fome da batata registados no ADN. Eles baixaram salários e reformas e não abriram telejornais queimando bancos.

Com os gregos foi outra coisa. Os gregos são outra coisa. Eles não são vítimas só da irresponsabilidade dos financeiros, são vítimas de si próprios. Os de cima aldrabaram nas contas públicas e os de baixo, como todos os que caem no conto-do-vigário, foram vítimas da própria cupidez. Sim, ser reformado aos 58 anos (qualquer um [pode] ser reformado aos 58 anos, não só os mineiros) é cupidez e esta só não a pagam os ricos.

Agora, chegou-nos a vez de apertar o cinto. Apertar, apertaremos sempre, por mais ou menos que estrebuchemos (como os irlandeses ou os gregos). Podemos é partir para o sacrifício mais ou menos convencidos. E poderemos ser encarreirados para um ou outro caminho consoante as medidas políticas. As medidas financeiras doerão a todos. As políticas ajudarão a suportar a dor. Bater em fundações imprestáveis e cargos inúteis, por exemplo, seriam medidas políticas. E há outra coisa: talvez nos criassem bons hábitos.

«DN» de 13 Mai 10