terça-feira, 25 de maio de 2010

Tango

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Por João Paulo Guerra

A CLARIFICAÇÃO da política portuguesa acaba de dar um passo em frente.


Seis anos após Durão Barroso ter criado essa figura de linguagem política que consistia em "o país de tanga", José Sócrates acaba de constituir parceiro para o país entrar na fase da "coligação de tango". Trata-se de uma alteração de género. Enrique Discépolo, mais conhecido por Discrépolin, autor de letras para tangos argentinos, diria com razão, como disse do tango, que estamos em presença de "um pensamento triste que se pode dançar". Que o pensamento é triste não restam dúvidas. Quanto a poder-se dançar, para isso são necessários dois e o parceiro reagiu mal: disse que era "de mau gosto". Mas a grande questão é que José Sócrates acaba de desmentir Jorge Luís Borges. Não, não é verdade que o tango só possa ter nascido em Montevideu ou Buenos Aires. Pode renascer entre o Largo do Rato e a calçada de São Caetano, em Lisboa, e ser registado em Madrid, perante uma audiência de empresários estupefactos.

A "alegoria da caverna" marcou o pensamento filosófico platónico. Assim a socrática "alegoria do tango" definirá o pensamento político português da actualidade: pura milonga. É certo que tangos têm havido muitos, de Gardel a Piazzola, do maxixe ao Gotan Project. Mas há sempre lugar para mais um: ei-lo. A sua característica de dança carnal levou, em tempos recuados, a que não fosse fácil encontrar parceira para o tango. Vem desse tempo os parceiros do tango, ambos homens, dançarem de cara virada para o lado: era para evitar mal-entendidos.

A reacção de Passos Coelho ao convite para dançar de José Sócrates não deixa antever que, neste particular, o par venha a acertar o passo. Veremos o que dão as próximas cenas da "agenda ‘ tanguera'".
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«DE» de 25 Mai 10

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