sábado, 1 de agosto de 2015

1 AGO 15 - Resposta do Prof. Galopim de Carvalho a um leitor

Pedi ajuda para poder responder a este comentário e obtive, através do Carlos Fiolhais a resposta dada por Francisco Gil.
Assim sendo peço-lhe o favor de responder por mim ao dito comentário.

Tendo dificuldade em responder ao seu comentário sobre uma matéria demasiado especializada, pedi ajuda a quem sabe do que está a falar e eis a resposta de Francisco Gil que recebi através do meu amigo Carlos Fiolhais
“ Em estilo de resposta resumida, poderei dizer que o comentador tem razão ao invocar algumas questões. Passo a expôr:

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Podemos resumir a questão da cor dos objectos a três aspectos: a luz incidente sobre o objecto, a forma como a luz interfere com o objecto, que depende da sua constituição, e o observador (olhos para os animais, ou detectores para os aparelhos de captação de imagem).

Fixando a questão do observador num padrão de percepção, podemos falar no que se costuma chamar 'luz visível', que corresponde a uma gama restrita de frequências (ou de comprimentos de onda, dependendo da escala com que se trabalhar) no espectro das ondas electromagnéticas.


No que se refere ao objecto, podem ocorrer vários fenómenos concorrentes de interacção entre a luz incidente e o material que compõe o objecto. 
O objecto pode ser opaco a uma certa gama de frequências e ser transparente a outras. O objecto pode ser translúcido, mais ou menos reflector ou difusor. 

A transparência refere-se à possibilidade da luz atravessar o objecto, sofrendo apenas fenómenos de refracção (ao passar do ar para o interior e do interior novamente para o ar) e reflexão nas superfícies de separação entre o ar e o objecto.

A translucidez implica a existência de outros fenómenos superficiais ou de corpo com difusão da luz (ou reflexão difusa, que tem a propriedade de reflectir de forma diferente de ponto para ponto do objecto, seja a nível da superfície, seja no interior do corpo).

A reflexão total (típica de objectos metálicos, por exemplo) tem a ver com o retorno da luz para o meio de onde incide de forma regular.

Tendo em conta a constituição a nível atómico e/ou molecular dos objectos, a luz também pode ser absorvida em certas gamas de frequências e não noutras. O efeito da absorção é a não passagem dessa luz através do objecto, nem a sua reflexão. Em alguns casos, a luz que é absorvida permite alterar o estado energético das partículas (para a luz visível as interacções dão-se essencialmente a nível electrónico), depois do que o sistema regressa ao seu estado de menor energia, dissipando a energia que tinha por várias vias, como relaxação de estrutura ou por emissão de luz, tipicamente com frequências menores do que da luz incidente. A este fenómeno de emissão chama-se 'fluorescência' (também pode ser fosforescência, levemente diferente da fluorescência, em particular no tempo de emissão).

Um último fenómeno concorrente é a difracção, mais raro de observar com luz natural (do sol, ou de uma lâmpada comum, por exemplo). Este fenómeno baseia-se no facto de que em certos casos, feixes de luz que tomam um caminho podem interferir com outros feixes de luz que percorrem outro caminho, dando como resultado a interferência construtiva (é um fenómeno que está relacionado com o carácter ondulatório da luz), ou seja obtém-se luz com maior intensidade, ou a interferência destrutiva, ou seja obtendo-se ausência de luz ou diminuição de intensidade. Em certas circunstâncias, a geometria do sistema permite que a interferência construtiva e a destrutiva possam ocorrer em posições fixas e diferentes. Além disso, este fenómeno depende da frequência da luz, pelo que a localização dos pontos de interferência construtiva é diferente para frequências diferentes. Assim, mesmo com luz de espectro largo (como é o caso do sol ou de lâmpadas de filamento, por exemplo), os objectos 'adquirem' cores.

Em estilo de resumo, e lembrando que todos estes fenómenos dependem da frequência da luz incidente:

- A reflexão nas superfícies dos objectos, se for especular pode conferir cor ao objecto por redirigir a luz incidente de outros objectos para os nossos olhos, vendo nós a 'cor' dos outros objectos (exemplo da 'cor' que a água adquire dos objectos que estão fora dela e dos quais a luz que chega à sua superfície é reflectida para o observador)
- A refracção pode fazer com que os objectos adquiram cor, uma vez que, mesmo que a luz incidente cubra todo o espectro da 'luz visível', o possível desvio da luz depende da frequência - caso da luz que atravessa um pedaço de vidro através do qual a luz do sol se vai dispersar, ou seja, vai observar-se o 'arco-íris'.
- A absorção da luz depende da frequência da luz incidente, assim como da constituição do material de que é composto esse objecto. Por isso, alguns materiais não absorvem nada no 'visível', sendo que a sua cor só virá eventualmente de fenómenos de reflexão e de refracção, outros poderão absorver na zona do azul, por exemplo, deixando que apenas luz nas outras zonas do espectro visível atravessem o objecto ou sejam reflectidas ou difundidas nas suas superfícies ou interior.
- A fluorescência pode ser observada mais claramente em objectos que, iluminados com luz ultravioleta próximo, adquirem uma cor azul (não quer isto dizer que não aconteça em outras zonas do espectro visível).

Assim, tanto para objectos transparentes como para objectos opacos à luz visível, os fenómenos mais comuns de observar são a absorção, reflexão e refracção. O primeiro destes fenómenos é marcante, pois vai 'retirar' à luz incidente a 'luz' que é absorvida pelo objecto. A título de exemplo, um objecto que absorva na zona espectral do azul, tem cor amarela, laranja ou vermelha, consoante a extensão espectral dessa absorção. Do mesmo modo que um corpo absorva na zona espectral do vermelho, ficará mais verde ou azul.

Por tudo isto, diria que a primeira parte do texto sobre a cor dos minerais não está correcta.

Espero não ter contribuído muito para baralhar, mas de facto, esta questão tem várias variáveis em competição e tem que se avaliar caso a caso, para perceber quais os fenómenos mais determinantes para este efeito.


Francisco Gil

segunda-feira, 20 de julho de 2015

A Chegada dos Primeiros Escravos a Lagos

Vista da Baía de Lagos (Portugal), local privilegiado para a partida
e chegada dos navios de exploração e tráfico - de escravos, mas não só.
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O Infante D. Henrique, o impulsionador das viagens de descobrimentos no séc. XV,
ficava com 1/5 de tudo o que chegava a Lagos, incluindo, obviamente, os escravos - tendo começado logo por aqueles de que aqui fala Zurara.
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Local onde em tempos existiu o 1.º mercado de escravos da Europa
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Réplica de uma caravela do séc. XV, neste caso aquela com que Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, em 1488, confirmando que era possível contornar a África pelo sul e chegar à Índia por mar (o que veio a suceder 10 anos mais tarde). 
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Localização da Baía de Lagos, o porto português mais indicado (pela sua dimensão, calma das águas, ventos N/S e localização, bem perto de África) para a partida e chegada dos navios que se dedicavam ao tráfico com as populações das costas africanas.
Curiosidade: à esquerda, em baixo, o Cabo de S. Vicente, o ponto mais a sudoeste do continente europeu.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Nomes com História

Por Antunes Ferreira
Ainda não tinha contado que o Amigão Dr. Zito Menezes, já muitas vezes citado nas colunas da nossa Travessa, decidira levar-me à Professora Doutora Flora Miranda para que ela me visse a perna esquerda muito escalavrada. Assim aconteceu e ilustre médica receitou-me um antibiótico forte, um sabonete desinfectante e… Betadine. Pela consulta, paguei a exorbitância de 300 rupias, pouco mais de… quatro euros; uma exorbitância… Já comecei o tratamento e a pata esquerda parece melhorar.
 Por isso, voltou-me alguma disposição, animado pelos Amigos Zito Menezes, Carminho Costa e Álvaro Amorim, este de longa data e que é o “presidente” da nossa tertúlia Sabores & Saberes que todas semanas às quintas-feiras se reúne no restaurante “Sabores de Goa” no Bairro das Colónias aí em Lisboa. Note-se que foi a única denominação escapada ao frenesim salazarento que, como bom provinciano, pensou ter enganado a ONU com a transformação em… províncias ultramarinas. Porém o Bairro manteve orgulhosamente a assim e ninguém foi capaz de do derrotar, por decreto-lei aprovado na Assembleia Nacional.
Daí que hoje na antevéspera do Carnaval (que por estas bandas é também e ainda muito comemorado, com desfile de carros alegóricos e toda a parafernália do entrudo) me decida a escrever um textículo tendo por cabeça ÁGUA DE COCO. Quem nunca a experimentou faça como disse o Camões: “mais vale experimenta-lo que julga-lo; mas julgue-o que não pode experimenta-lo. Serão prosas curtas e convalescentes. Férias são férias, serviço é serviço, conhaque é conhaque.
Um exemplo: no centro de Pangim, mais coisa menos coisa, a caminho da praça da igreja da capital, há um jardim (que já vi mais do maltratado) e agora reconstruído pela “câmara municipal” da cidade, o City Council. Chama-se ele Garcia de Orta - quando puto o desgraçado que dissesse Garcia da Orta ira imediatamente premiado com cinco palmatoadas pela dona Clélia Marques, directora da escola Mouzinho da Silveira e professora da quarta-classe – em homenagem ao médico e botânico que chegou a físico da Imperatriz da Rússia, no século XVI.
Pois num dos prédios que o rodeiam pode encontrar-se o Clube Vasco da Gama onde nos tempos dos portugueses decorriam bailes famosos até de madrugada, com serviço aprimorado (e apropriado), onde eram famosos os croquetes de carne bem picantes, O clube fica num terceiro andar, debruçado sobre o jardim, mas hoje está reduzido a um restaurante sem grandes motivos para aplauso. Nele continuam a pontificar os croquetes, que posso dizê-lo por experiência própria têm vindo a definhar. A freguesia é cada vez mais menor. Por lá param muitos cabelos brancos, que mais dia, menos dia seguirão o seu destino final.
Nesta terra de contrastes mas também de singularidades, é curioso para um luso-viajante que aqui aporta encontrar esta curiosidade. Para quem já está habituado, com é o caso do escriba, não tem especial significado esta coincidência. No entanto, e mesmo assim, em prédios onde há mais de cento e muitas lojas que na maioria dos casos ostentam nomes como Vishal, Karmonkar e outros, um clube denominado Vasco da Gama com photographya e pendão do descobridor que inaugurou o caminho marítimo para a Índia sem transferência em qualquer estação e sem cor identificadora da linha – é obra. Ainda que os croquetes já não sejam o que era, Sic transit…
 (Um destes dias sou capaz de recair; no textículo, no trambolhão nem pensar. Quando me der na bolha…)