segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Desafio Street View - AML - 31 Ago 09

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Imagem da AML tal como a mostra o Google Maps, hoje.
(É possível fazer um zoom, mas não vale a pena...)
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Esta imagem é semelhante a muitas outras aqui afixadas - algumas até bem piores, com carrinhas da P.M. e da autarquia em estacionamento ilegal (estas últimas, até estacionadas em pleno jardim Fernando Pessa!).

Aqui, podemos ver 'apenas' 4 veículos em contravenção (um em 1.º plano, e 3 ao fundo), dos quais se destaca - todos os dias lá está este ou outro igual... - um carro da Polícia Municipal olimpicamente estacionado em Paragem Proibida.
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Que diabo!
Que formação têm estas pessoas, que nem sequer percebem que o mínimo que se exige às autoridades é que dêem o exemplo?!

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NOTA: Ver, [aqui], algumas fotos tiradas recentemente no mesmo local.
Disponho de muitas outras, porventura ainda 'melhores'...


O Fim do Segredo Bancário

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JL Saldanha Sanches

O SEGREDO BANCÁRIO” […]”desde sempre esteve institucionalmente presente na actividade deste sector económico, como factor e garantia do funcionamento eficiente do sistema”.

Estas doutas opiniões do nosso Tribunal Constitucional já tinham uma conotação cómica quando foram proferidas em 2007 pelo que revelavam de absoluto desconhecimento da matéria: são de um cómico irresistível hoje, quando o maior banco suíço cede às injunções de um juiz norte-americano para revelar à administração fiscal quem são os cidadãos americanos que lá têm contas e aumenta a lista dos paraísos que cedem as pressões da OCDE para se tornarem colaborantes.

Mesmo em 2007 já não tinha qualquer sentido que se dissesse, ao tratar da possibilidade de acesso da administração fiscal às contas bancárias, que o segredo bancário é um factor de funcionamento eficiente do sistema: um esforço mínimo de investigação iria revelar que nos sistemas mais eficientes – com excepção do suíço e bem sabemos porquê – convivem com o acesso permanente e regular do fisco sem qualquer intervenção de um juiz - às contas dos seus clientes. E que os paraísos fiscais são um problema sério para a supervisão bancária: recorde-se os off-shores do BCP como o melhor exemplo da ocultação de informação financeira e dos seus efeitos. Os accionistas deste banco que o digam.

Por isso, o conceito ‘segredo bancário’ – quando não se trata do dever de reserva do banqueiro perante terceiros sem qualquer interesse legítimo no acesso à informação bancária – está hoje de forma incidível ligado ao conceito paraíso fiscal.

Quando se aceita que alguns países ou territórios possam prosperar tornando-se coitos fiscais, defende-se o segredo bancário e o direito de não cooperação com as autoridades fiscais. Sempre na perspectiva da atracção de capitais interessados num secretismo que permite o incumprimento de obrigações fiscais.

Quando estas operações se tornam quase indefensáveis, aperta-se o cerco às fortalezas do crime e acaba-se com este tipo de segredo bancário.

A possibilidade de alargamento da base fiscal que estas medidas proporcionam não pode ser esquecida e deveria figurar nos programas eleitorais: deverá ou não haver uma amnistia para quem pretenda regularizar a sua situação fiscal declarando os rendimentos obtidos no exterior como está a suceder em alguns países? Se houver, em que condições?

É uma questão muito mais interessante – e com muito mais receita potencial – do que a constitucionalmente duvidosa limitação da dedutibilidade das despesas de saúde para as categorias de rendimento mais elevadas.

Exigirá a revisão de uma parte dos nossos acordos de dupla tributação em matéria de troca de informações tal como está a ser feito por outros países e a definição de uma política mais clara a este respeito: porque alguns dos nossos acordos ainda foram celebrados num período em que se considerava Portugal como uma espécie de paraíso fiscal hostil à troca de informações.

Apesar de, ao contrário dos paraísos autênticos, sempre termos tributados as contas dos não–residentes sublinhando a inconsequência deste projecto.

«Expresso» de 29 de Agosto de 2009 - www.saldanhasanches.pt

Dito & Feito

Por José António Lima

ALERTANDO SÓCRATES e o PS para as desgraças políticas que podem estar perto de bater-lhes à porta, Mário Soares veio avisar esta semana que «os resultados das próximas eleições não são nada fáceis de prever», abrindo caminho ao cenário de uma derrota socialista. E aproveitou para chamar a atenção sobre o balanço negro de quatro anos e meio de Governo PS: «A generalidade das pessoas está descontente e insegura quanto ao seu futuro próximo», o que prenuncia um voto muito volátil e facilmente transferível para outras forças políticas.


José Sócrates não precisava deste aviso à navegação dado por Soares. Ficou a perceber tudo isso na noite do desastre eleitoral socialista (e pessoal) das europeias de 7 de Junho. E sabe, por outro lado, que mais do que Oposições ganharem as eleições são os Governos que as perdem. Daí a incansável e ininterrupta actividade de pré-campanha eleitoral a que se tem devotado por estes dias, ora na pele de líder do PS ora na condição de primeiro-ministro. Aparece compungido e de gravata escura na praia Maria Luísa, exulta na primeira escavação do longínquo túnel do Marvão, passa pelo Hospital de Lamego, vai comiciar à Madeira de Jardim e acusar o PCP e o BE de quererem «enfraquecer o PS» (como se o PS não quisesse enfraquecer o PCP e o BE...), surge a gabar a redução do insucesso escolar, aterra em Santarém para receber (com lágrimas contidas) uma medalha de Moita Flores, visita a nova fábrica da Portucel que apenas será inaugurada em Novembro, etc., etc. Uma agenda interminável e um esforço, porventura, inglório.

Mas, a par das maratonas de Sócrates, o PS inaugurou agora um novo modelo de estratégia eleitoral: pôr dirigentes socialistas a dizerem mal das medidas mais impopulares do Governo igualmente socialista. Marcos Perestrello, membro do Secretariado nacional do PS, veio criticar a «atitude hostil» da ministra da Educação para com os professores, a «rigidez» de Maria de Lurdes Rodrigues, que «transformou a determinação em obstinação». Espantoso...

Que membros do Secretariado do PS se seguirão a Perestrello? Edite Estrela a arrasar a política do ministro Teixeira dos Santos pela perda de poder de compra e de apoios sociais dos funcionários públicos? António Costa a demolir os números do desemprego? No PS, em aflitivo tempo de eleições, parece que vale tudo. E o seu contrário...

«SOL» de 29 de Agosto de 2009

domingo, 30 de agosto de 2009

Passatempo «Fogos na Califórnia» - Solução

Os Amigos


Por Alice Vieira

PERDI QUATRO amigos neste mês de Agosto.

A minha cabeça e o meu coração andaram entre Lisboa e o Porto, tentando dar a cada um o pouco de mim que em vida, nalguns casos, não tive tempo de lhes dar: vamos sempre acreditando que os nossos amigos são eternos e, quando descobrimos que não são, já é tarde.

Com uma virose que teima em não me largar, e o trabalho atrasadíssimo, facilmente se compreende que este Agosto esteja a ser muito difícil de aguentar.

Felizmente os amigos que me restam conhecem-me tão bem que, sem eu dizer nada, se têm encarregado de me tornar os dias um pouco mais suportáveis.

Porque amigo é assim mesmo: conhece-nos por dentro, adivinha aquilo de que necessitamos, sabe o que nos alegra, entende os nossos silêncios, tem a capacidade de nos surpreender dando-nos aquilo de que estamos mesmo a precisar – mas sem termos de o pedir. Porque se o pedimos… qualquer estafeta serve.

Olho as rosas na minha mesa — e fico feliz por não ter tido necessidade de as pedir ao meu amigo João.

Penso no café bebido no Starbucks de Belém – e fico feliz por não ter tido necessidade de pedir à Inês que naquela manhã me levasse lá.

Espero o telefonema da Leonor, porque sei que, sem que eu o peça, ele chega sempre a meio da madrugada.

A Dina manda-me postais diariamente.

E o Vítor enfiou-me no carro e desandou comigo para o Café da Natália (em S. Pedro de Sintra, para quem não conhece) ignorando os meus protestos de que o trabalho se iria atrasar, porque sabe que nada faz melhor à alma do que as empadas que lá se comem.

Mas confesso que não esperava o telefonema do António, com quem ainda recentemente tinha estado no velório do Alberto.

À beira dos 80, o António é, de certeza, um dos melhores contadores de anedotas que existem à face da terra.

- O Alberto faz-me uma falta do caraças… – diz de repente, a meio de uma frase de circunstância — E é por isso que eu te estou a ligar.

Gaguejou mais meia dúzia de palavras, até que explicou tudo.

Do seu grupo de amigos, “amigos mesmo, mesmo a sério, tás a ver?”, já não restava ninguém.

Todas as noites o António ligava ao Alberto para lhe contar anedotas. E agora já não tinha ninguém com quem cumprir o ritual.
- Se tu não te importasses…

E pronto, todas as noites, muito antes do telefonema da Leonor, o António liga-me. Conta duas, três anedotas, ri muito, manda beijinhos, deseja boa noite e desliga.

Às vezes as anedotas são repetidas, mas eu rio à mesma, e ele fica feliz.

Só não me perdoo de não ter sido eu a pensar nisto e a tomar a iniciativa.

Acho que não fui grande amiga do António, porque precisei que ele me telefonasse a pedir o que eu deveria ter adivinhado.

Com o António, sinto que fui um bocado estafeta.

«JN» de 29 de Agosto de 2009

sábado, 29 de agosto de 2009


A cabecinha pensadora que colocou o pilarete (que, supostamente, deveria impedir a entrada de carros no espaço reservado a motociclos), foi tão generoso que até uma carrinha pode estacionar ali folgadamente.
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Neste dia, e com a chegada da EMEL (que se vê na imagem de baixo), o condutor da Mercedes tirou-a, a tempo de não ser incomodado.
A foto afixada no 'Sorumbático' (que mostra o espaço limpo) foi, portanto, tirada depois desta.

A felicidade total – ou quase


Por Antunes Ferreira

OS PORTUGUESES VÃO, FINALMENTE, ser todos – ou quase todos – muito felizes, depois do PPD/PSD e quiçá o CDS-PP chegarem ao poder, ou seja após terem vencido as legislativas que se aproximam a passos largos. Mais precisamente: elas já estão aí, ao virar da esquina, faltam umas cinco semanitas, mais coisa, menos coisa, para o 27 de Setembro.

Acabará, então, a maldita crise – é o que se pode (pelo menos eu posso) inferir das declarações programáticas dos dois partidos da Direita. Não concordam comigo? Têm todos o direito de discordar. Na vigência da Liberdade e da Democracia, é assim. Ainda que alguns queiram que não. Mas, podem-no fazer, diria até devem-no fazer. Com as necessárias justificações? Nada disso. O livre alvedrio supõe a responsabilidade. É, tão-só, a minha opinião, sublinho.

Explico-me, ainda que, face às boas propostas enunciadas, me pareça intuitiva essa felicidade que nos espera. Mesmo assim, sobretudo para os menos avisados ou para os mais distraídos, aqui deixo as minhas razões para antever esse Paraíso que nos vai abrir as portas, quiçá com as correspondentes huris, sabe-se lá se com as harpas da satisfação, as asas da abastança.

Vejamos. Manuela Ferreira Leite veio a terreiro prometer a baixa de impostos. Não de todos, está bem de ver, apenas dos suficientes para empolgar os que irão depositar os seus votos nas urnas. Bandeira agitada galhardamente mas, acentue-se, sem qualquer vermelho, sequer algo que se assemelhe a tal cor tradicionalmente perigosa – salvaguardando o Benfica, obviamente. Ainda que este seja mais encarnado.

O busílis da questão é que, em seguida, o partido da Santana à Lapa veio esclarecer que a sua líder não dissera o que aparentemente dissera. A interpretação do que afirmara é que tinha sido errada, ainda que a intenção da Senhora fosse realmente baixa-los (os impostos, naturalmente) logo que fosse possível fazê-lo. O que significava em linguagem popular, um verdadeiro tiro-e-queda. Um minúsculo quiproquó.

Além disso – que já não é pouco, destaco - o PPD/PSD vai meter ombros à tarefa ciclópica mas realizável de eliminar o estatal do… Estado. Para dar cabo do famigerado amplexo com que os socialistas têm vindo a asfixiar o País. Piedosa e excelente intenção que bem sintetiza a afirmação dos seus cartazes propagandísticos: «só prometam aquilo que podem cumprir».

Em primeira análise – e dada a limitação de espaço, sempre citada por quem escreve para publicações com ele reduzido – estes dois propósitos já chegariam, no meu modesto entender, para encher as almas da lusa gente da felicidade, gente que, aliás, merece que assim seja. Logo, assim seja. Há mais, mas ficam para melhor ocasião.

Por seu turno, o presidente do CDS-PP veio a terreiro anunciar que o "primeiro compromisso" do seu programa eleitoral é aumentar as pensões. E aditou que no referido programa se explicará «onde é que alicerçamos a melhoria de pensões, mas é o nosso primeiro compromisso social. Num país onde há um milhão de idosos que têm 245 euros ou menos para viver todos os meses não há outra prioridade social».

Porem, há mais. O “segundo compromisso” para a área social é o apoio às Instituições de Particulares de Solidariedade Social. Santo e coerente anseio. Segundo Portas, o seu partido irá avançar neste particular por entender que “o Estado, em vez de querer fazer tudo e depois não consegue, deve delegar e contratualizar nestas instituições”.

Aleluia, portanto. A felicidade vem realmente a caminho. Melhor dizendo: na prática já se vê sem necessidade de óculos ainda que com poucas dioptrias.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Lisboa - 28 Ago 09
O despertar de um sem-abrigo - em pleno Rossio, junto à estátua de D. Pedro IV

À porta do ACSantos, na Travessa Henrique Cardoso, em Lisboa.
A foto foi tirada anteontem, mas podia ter sido hoje, pois ainda está assim.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Futebol e Nacionalismo

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Por Maria Filomena Mónica

HÁ COISAS QUE SÓ A MIM acontecem. Este ano [2008] deliberei tirar férias ibéricas, a começar no dia 30 de Junho, jamais me tendo passado pela cabeça que os espanhóis pudessem vir a ganhar o campeonato europeu de futebol. Ora, como toda a gente sabe, foi isso que aconteceu. O hotel que tinha marcado ficava junto da Plaza Cólon, pelo que fui forçada a competir com os heróis do dia a fim de entrar na Calle Serrano. Evidentemente, perdi. Sem alternativa, fiquei entre os 400.000 castelhanos, bascos, catalães, galegos e andaluzes vibrando em uníssono. Pelos vistos, a nação espanhola ainda existe. Num cartaz à minha frente, pedia-se à presidente da câmara de Mostoles que atribuísse «el nombre de la madre que parió a Iker Casillas» (o guarda redes da selecção) a uma rua local: não a ele, note-se, mas à mãe. Apesar de não conhecer bem o que se passa nos esconderijos da alma lusa, conclui que os espanhóis pertenciam a uma raça diferente.

Sei que há gente inteligente, sofisticada e culta capaz de vibrar com a exibição de dois conjuntos masculinos enfrentando-se por intermédio de uma bola. Acontece que as proezas futebolísticas são incapazes de me excitar: não porque seja insensível a todo e qualquer tipo de patriotismo, mas porque o motivo tem de ser mais nobre. Apesar de escrito com intuito propagandístico, O Leão e o Unicórnio, de G. Orwell, é um ensaio que gostaria de ter assinado. Em 1941, diante da ameaça nazi, era assim que se devia reagir.

Infelizmente, o meu país tem-me dado poucas oportunidades para vibrar. Não é certamente um jogo que me levaria a colocar a bandeira nacional na janela. Até porque a que tenho cá em casa – oferecida pelo Diário de Notícias – contém erros ortográficos: «Heróis do mar, nobre povo, Nação valente, imortal. Levantai hoje de novo, o explendor de Portugal…». Os portugueses podem ter muito jeito para correr, mas estão-se nas tintas para o uso da língua. Gostaria que a primeira não impedisse a segunda: manias de uma snob cultural.

Junho de 2008

Passatempo «Melância» - Prémio

Passatempo-relâmpago de 27 Ago 09 - Solução

Solução da 1ª fase: Turim

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Passatempo-relâmpago de 26 Ago 09 - Solução

NOTA: embora na capa (como aqui se vê) o nome do autor apareça com "U" (LEU), no interior aparece com "O" (LEO).

A cega teimosia do dr. Cavaco


Por Baptista-Bastos

As eleições estão à porta. O dr. Cavaco é o Presidente de alguns portugueses - e não, definitivamente, de todos.

QUEREMOS MESMO mudar as coisas? Queremos mesmo alterar os factores políticos que nos dominam? O social fornece o cenário, e o cenário é fixo; quero dizer: os códigos sociológicos indicam que somos extremamente conservadores, tementes a qualquer reportório que suscite a apreensão de perdermos os nossos protótipos electivos. Secularmente inculcados pela Igreja. O recente veto do dr. Cavaco à lei das uniões de facto é disso exemplo. Mas não deixa de constituir um absurdo, porque as "explicações" de Belém, aludindo aos "valores", alimentam múltiplas incertezas.

O dr. Cavaco, sobre ser católico (o que ninguém leva a mal), impede-se, por uma estreita visão do mundo, de compreender as novas relações sociais. Ele não descortina os sinais do tempo; e aqueles de que dificultosamente se apercebe, fecha-os no círculo limitadíssimo das suas avaliações. Não se trata de birra; nem, sequer, admito-o, acaso ingenuamente, de um braço-de-ferro com Sócrates e o PS. Com perdão da palavra, o homem é, manifestamente, reaccionário, pouco permeável à fluidez social e tende a recuperar velhas figuras de autoridade. É o pior Presidente da II República.

Quem o lá colocou foram os mesmos que recusam, por ignorância, a pluralidade dos princípios, e apenas admitem como irretorquível aquele que lhes parece ser o "chefe." Há, nesta subserviência, algo que toca a servidão ou, pelo menos, uma redução de cidadania e uma renúncia do indivíduo aos elementos estatutários da sua própria identidade.

Os bispos rejubilaram com a decisão, que não é só triste: é escabrosa. Está ferida de insensibilidade, de desprezo pela mobilidade da sociedade humana, de abstrusa teimosia na defesa de um Portugal Velho, supersticioso, paralisado, de mentalidade pacóvia. Não enxergam, um, por ideologia cega; os outros porque continuam a reduzir o mundo à escala da abstracção, que os elos societários são animados por interesses colectivos. Mais cedo do que tarde, a lei será aprovada, porque concilia a generosidade das ideias com a dimensão colectiva.

Nesta desconsolada refrega, o dr. Cavaco esvaziou de sentido o tópico essencial das suas funções: o de mediador. Vetou, e é assim. Uma vez ainda, demonstrou que não está empenhado em estabelecer consensos, em moldar harmonias. Há uma parte da sociedade que o aplaude. Certamente, a mais anacrónica, como se tem visto. Será a mais significativa? Duvido. É nesse número de portugueses que o dr. Cavaco sustenta as decisões tomadas. O que significa uma ausência de definição geral, propícia a introduzir a instabilidade e, por consequência, a incerteza. E as eleições estão à porta. Quero dizer com isto que o dr. Cavaco é o Presidente de alguns portugueses - e não, definitivamente, de todos.

«DN» de 26 de Agosto de 2009

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Embustes marcianos

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Por Nuno Crato

DESDE QUE, EM 27 DE AGOSTO de 2003, Marte se aproximou espectacularmente do nosso planeta, que a imaginação de alguns internautas se inflamou com as notícias. Repescando e exagerando as informações que na altura circularam, todos os anos têm surgido de novo na Internet mensagens chamando apelando à observação dos céus na noite de 27 de Agosto. Este ano, ou porque o Verão tem estado menos quente, ou porque as notícias da política ou do futebol são menos animadoras, as mensagens surgem com redobrado vigor e muitos amigos me têm escrito, perguntando se é verdade que Marte vai aparecer tão grande como a Lua, como se diz nessas notícias.

Tomando como amostra os meus amigos, que prezo como pessoas sensatas — bem… quase todos! —, imagino que muitos curiosos haverá que estejam crédulos nessas notícias fantasiosas. Lamento desiludi-los, pois seria engraçado ver duas luas no céu, uma prateada e outra avermelhada. Nada disso vai acontecer. Dia 27 de Agosto, pela meia noite e meia, hora que se anuncia nas mensagens, Marte estará ainda adormecido debaixo do horizonte. Levanta-se pelas 2h da madrugada, pelo que apenas estará visível no céu para os mais noctívagos. Mesmo assim, terá uma luminosidade modesta. Não muito longe do planeta aparecerá, à sua direita, a estrela Aldebarã, de Touro, também avermelhada, mas mais luminosa do que Marte agora está.

Convém também que se diga que nunca o planeta vermelho nos poderá aparecer com tamanho aparente semelhante ao da Lua. Este nosso satélite e o Sol são os únicos dois astros que são visíveis a olho nu como discos luminosos. Todos os outros se encontram muito mais longe que a Lua e são tão mais pequenos que o Sol que, a olho nu, o seu tamanho aparente nunca é distinguível — aparecem-nos sempre como simples pontos luminosos.

A altura em que Marte é mais espectacular é a da chamada oposição, momento em que, para observadores sobre a Terra, se encontra na posição oposta à do Sol e, por isso, está frontalmente iluminado pela nossa estrela. Nessa altura está também mais perto de nós do que é usual.

Imagine o leitor que a Terra e Marte são dois corredores em pistas circulares concêntricas. A Terra é o corredor na pista mais perto do centro do estádio, por isso ligeiramente mais curta, e Marte é o corredor na pista mais afastada. A Terra dá uma volta ao estádio mais depressa do que Marte. Se os dois corredores começarem a correr, cedo estarão em pontos espalhados pelo estádio até que o corredor interior, representando a Terra, dando voltas mais rápidas, se aproxima por trás de Marte, mais lento. No momento em que estiverem ambos lado a lado, com a Terra a ultrapassar Marte, estão mais perto um do outro do que em qualquer outra posição. Nessa altura, a Terra tem à esquerda o centro do estádio, que representa o Sol, e à direita, portanto em posição oposta, estará Marte. Foi o que aconteceu em 2003, 2005 e 2007. Não este ano.

Se o leitor quiser observar o planeta vermelho em oposição — e o espectáculo vale a pena —, esqueça os dislates excêntricos dos amantes de notícias estapafúrdias. Espere apenas seis meses. Em 29 de Janeiro de 2010 terá oportunidade para ver Marte com um brilho espectacular. Até lá, neste Ano Internacional da Astronomia, contente-se com Júpiter, que aparece bem luminoso a sudeste logo que o Sol se põe. E tenha boas férias!

«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 22 de Agosto de 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Passatempo «Espiões» - Prémios

O "topophone", segundo «La Nature» de 1880

Passatempo «Incêndios» - Prémios


Dito & Feito


Por José António Lima

MOITA FLORES ganhou, em 2005, a presidência da Câmara de Santarém como independente apoiado pelo PSD e volta, em 11 de Outubro, a candidatar-se numa lista do partido. Um partido que, descobriu agora, «não é o PSD que me convidou e com o qual tenho trabalhado», devido às exclusões levadas a cabo por Manuela Ferreira Leite nas listas para deputados de «grandes quadros, de gente importantíssima para o futuro» e, em particular, ao afastamento de Miguel Relvas de cabeça-de-lista em Santarém, lugar oferecido a Pacheco Pereira, ao lado do qual Moita Flores diz que não fará campanha.

O recandidato a Santarém descobriu tudo isto e, também, que falta rigor ético nas listas do PSD devido à inclusão de António Preto: «A procura de rigor às vezes dói, mas ser rigoroso é fundamental», sentencia. Ora, Moita Flores fez todas estas descobertas ainda a tempo de se desvincular da lista e do apoio do PSD, constituindo uma lista de independentes. Coisa que não fez. Um bom exemplo de rigor e ética, como se vê. E avança mesmo que, em 27 de Setembro, não votará em Ferreira Leite e no PSD, mas, muito provavelmente, em Sócrates e no PS. Quanto a rigor e princípios, ficamos, pois, conversados.

Se, por um dever de decência e coerência, Moita Flores se devia ter desvinculado de um partido que tanto despreza, já Manuela Ferreira Leite devia ter retirado, de imediato, a confiança política e o apoio a tal candidato. Coisa que não fez. A líder social--democrata aceita, pois, ser publicamente desautorizada sem uma palavra ou um gesto para se fazer respeitar. A si e ao PSD.

Ferreira Leite tem, assim, uma destacada candidata às legislativas, Maria José Nogueira Pinto, que afirma ir votar PS e António Costa nas autárquicas. E um mediático candidato nas autárquicas, o multifacetado Moita Flores, que promete ir dar o seu voto ao PS e a Sócrates nas legislativas. Um partido sui generis, este PSD.

No meio desta balbúrdia, só faltava aparecer Aguiar Branco, na sua infinita ingenuidade política, a admitir que Moita Flores acabará por dar o seu voto ao PSD: «Estou convencido de que ele ainda vai reflectir e reconsiderar». Pois, pois. Espere pelos próximos episódios.

«SOL» de 21 de Agosto de 2009

domingo, 23 de agosto de 2009

Passatempo-relâmpago de 23 Ago 09 - Solução


O filme em causa era «Inimigos Públicos». O livro-prémio foi escolhido porque relata o ambiente vivido na América nos 'Anos 30' do séc. XX, a mesma época do filme.

sábado, 22 de agosto de 2009

«A asfixia democrática» segundo o BE

Por Antunes Ferreira

LEIO O PÚBLICO e fico pasmado. Quase penso em duvidar, quiçá mesmo em não acreditar. Mas, consultando por via das dúvidas, outros Órgãos da Comunicação Social, varrem-se-me as interrogações. Foi mesmo assim. Não quero com isto dizer que não confie no quotidiano do Senhor Engenheiro Belmiro de Azevedo, nada disso. Mas, as afirmações que o diário publicou causaram-me um verdadeiro espanto.

Com a devida vénia (nariz de cera que se vai perdendo no tempo – e no modo), passo a transcrever a notícia em causa:

«A deputada bloquista Ana Drago afirmou-se surpreendida pelo discurso da “asfixia democrática” de Manuela Ferreira Leite, na entrevista de ontem à noite na RTP1, acusando a líder do PSD de integrar governos onde esse clima era vivido.»

«“A doutora Manuela Ferreira Leite fez parte de governos no tempo do professor Cavaco Silva em que se percebeu exactamente o que significava asfixia democrática e portanto vejo com alguma surpresa que seja Manuela Ferreira Leite a falar da questão nestes termos. Lembramo-nos bem do fechamento do país, do assalto ao aparelho de Estado por parte do PSD nos tempos do cavaquismo, não nos esquecemos", comentou.»

«Quanto às propostas do PSD, Ana Drago critica a possibilidade admitida por Ferreira Leite de baixar os impostos que incidem sobre o trabalho. “Baixar os custos de trabalho quando Portugal já tem salários tão baixos é um caminho muito perigoso: vai descapitalizar a segurança social e vamos ter cortes nas reformas”, observou a deputada bloquista».

Insisto. Ainda pensei que as declarações fossem do ministro dos Assuntos Parlamentares, do porta-voz do PS ou, até, do próprio José Sócrates. A dúvida que de mim se apoderou – quase cartesiana, que me desculpe o ilustre autor do «Discurso sobre o Método» - não foi, de modo algum hiperbólica ou sistemática. Nada tem a ver com a Filosofia, tem apenas relação com a prosaica vida real, quotidiana, vulgar.

O Bloco habituou-me a outro tipo de afirmações. Em cartazes há poucos dias afixados, o já basta de 18 anos é sintomático. O PSD e, naturalmente, a Doutora Manuela Ferreira Leite já participou – e de que maneira – nesse prolongado período de tempo. O Partido Socialista e, em especial, Sócrates, igualmente. E o Professor Aníbal Cavaco Silva, idem, idem, aspas, aspas.

Donde, o BE entende que chegou a sua vez de estar no Poder. Pensamento que, de resto, se foi vulgarizando, a ponto do secretário-geral do PCP ter escrito em artigo que o partido estava pronto a assumir responsabilidades governativas. Como – é que me parece um tanto difícil entender. Quer num quer noutro dos dois partidos que se reclamam de possuidores da verdade da Esquerda.

As propostas que apresentam muito dificilmente seriam postas em prática. Não avalio dos seus méritos, nem dos referidos partidos, nem das respectivas propostas. São, porem, inexequíveis. Roçam o utópico e quem as apresenta e as enuncia sabe que assim é. Novas nacionalizações avança Jerónimo de Sousa. Onde, quando e como? Aumento do salário mínimo? Onde, quando e como? Pleno emprego? Onde, quando e como? Novos apoios aos desempregados, como atira Francisco Louçã? Novos subsídios? Onde, como e quando?

Thomas Morus, como se sabe no século XVI, escreveu a sua «Utopia». Tratava-se de uma concepção teórica de um estado perfeito onde se viveria em plena liberdade religiosa. Assim, para Morus, a sociedade de Utopia é a reacção ideal à sociedade inglesa de seu tempo; é a cidade de Deus que ele contrapõe à cidade terrestre. De tal forma foi a sua influência que, de título de tratado se transmudou naquilo que é impossível de alcançar.

A deputada Ana Drago veio pôr uma quanta água na fervura. Um destes dias, ainda se aventa que foi convidada a integrar as listas do PS às legislativas. Mas que, feliz e coerentemente, recusou.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Anúncio no Público

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O Dia do Trabalho Industrial Já Foi


Por Maria Filomena Mónica

FESTEJOU-SE HÁ POUCO [Maio 2008] o Dia do Trabalhador, uma criação da II Internacional Socialista, em homenagem à luta, iniciada em 1886, pelos operários de Chicago, com o objectivo de obterem condições de trabalho mais dignas. Ao olhar os grupos que, em Lisboa, se reuniram este ano na Avenida da Liberdade e na Alameda Afonso Henriques, senti que aquelas multidões representavam qualquer coisa de anacrónico. De facto, o 1.º de Maio pertence a um mundo que, a Ocidente, desapareceu. Depois da vitória, em 1984, de Mrs Thatcher sobre os mineiros britânicos, nada voltou a ser como dantes. Em vez de operários, com uma profissão organizada, temos jovens empregues em «call center», com trabalho precário e sem poder reivindicativo.

Este Verão aconteceu-me uma coisa extraordinária. Durante as cheias em Inglaterra, estando sozinha em casa, bateram-me à porta. Abri-a com o costumado ar de quem se sente invadida por um mundo odioso. Deparei-me com um homem de meia idade. Enquanto me mostrava um cartão do sindicato, o N.U.M., informou-me ter sido mineiro durante trinta anos. Explicou-me estar há muito no desemprego, pelo que não encontrara outra solução senão ir, de casa em casa, vendendo luvas para tirar a comida do forno. Além de eu não cozinhar, o par de Oven Gloves: Triple Thick for Extra Protection, fabricadas na velha cidade de Oldham, pareceu-me tão obsoleto como uma pedra lascada.

E no entanto dei comigo a dar nove libras por um produto que sabia jamais ter qualquer utilidade. Por suspeitar que a esmola me fazia remontar ao tempo em que éramos ensinados a dizer aos pobres para ter «paciência», acabei perplexa. Mas não era apenas a caridade cristã ressuscitada: o que sentia era compaixão por quem já não podia lutar de pé. Não havia motivo, decidi, para vergonhas. Dantes, pensava que tudo se resolveria com a Revolução. Agora, sei que o mundo em que nasci acabou e que, pelo meio, surgiram outras vítimas da fome.

Maio de 2008

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Vale a pena escolher comida orgânica?


Por Nuno Crato

É UMA QUESTÃO QUE MUITOS CIENTISTAS não gostam de colocar, pois as variáveis são muitas e as conclusões difíceis. Pior: corre-se o risco de parecer estar de um lado ou de outro da barricada. Quem critique os vegetais criados sem fertilizantes artificiais pode ser acusado de estar a soldo das empresas de adubos químicos. E quem defenda a comida orgânica pode parecer promotor desse negócio florescente. Mas nós — nós público consumidor — gostaríamos de saber.
Há poucos dias, um grupo de seis investigadores da escola de saúde pública inglesa, a célebre London School of Hygiene and Tropical Medicine, divulgou uma grande síntese de resultados sobre uma pergunta específica: o valor nutritivo da comida orgânica é superior ao da comida produzida de forma tradicional?

O trabalho será publicado em Setembro na revista American Journal of Clinical Nutrition. No entanto, como vem sendo hábito entre algumas revistas científicas, os resultados foram divulgados à imprensa ainda antes da publicação. O público interessado pode lê-los na Internet (www.ajcn.org, doi:10.3945/ajcn.2009.28041).

Os seis especialistas ingleses não fizeram trabalho de laboratório. Recolheram e seleccionaram trabalhos já feitos. Nas bases de dados científicas, consideraram mais de 52 mil artigos produzidos nos últimos 50 anos, dos quais seleccionaram 162 por terem estudos originais sobre o tema. Desses 162, escolheram apenas os que estavam elaborados com alto rigor científico e que tinham estudos conclusivos sobre os 11 nutrientes considerados mais importantes. Restaram 55 estudos fiáveis e conclusivos, que incluíram 24 análises de campo, 27 amostragens em herdades e 4 análises de cestos de compras.

Na selecção que fizeram exigiram cinco definições claras: do sistema de produção usado, da variedade de planta ou animal, do nutriente analisado, do método laboratorial e dos métodos estatísticos seguidos. «A nossa revisão» da literatura científica, escreveram, «sublinhou a heterogeneidade e fraca qualidade da investigação feita nesta área».

Há um ano, foi feita uma revisão de literatura científica ainda mais vasta e numa área talvez ainda mais polémica e mais marcada ideologicamente — a educação matemática. Um painel norte-americano muito diverso trabalhou durante dois anos na análise dos estudos existentes (www.ed.gov/MathPanel). As conclusões foram devastadoras. Dos mais de 16 mil estudos seleccionados por terem matéria relevante, menos de 15% foram considerados satisfazerem um mínimo rigor científico. A larga maioria dos estudos em educação matemática está atulhada de ideologia e falha de fundamentação rigorosa.

A investigação dos alimentos orgânicos tem problemas semelhantes. Defronta-se com um romântico regresso à natureza que criou um mercado florescente, atingindo mais de 30 mil milhões de euros em 2007. Mas o estudo dos especialistas ingleses é esclarecedor. Dos 11 nutrientes estudados, os vegetais produzidos de forma tradicional ganham num caso e perdem em dois. Nos restantes oito nutrientes, não há quaisquer diferenças significativas. No caso dos animais não há nenhuma diferença de conteúdo nutritivo.

A comida orgânica pode saber melhor e talvez seja mais saudável. Os investigadores britânicos nada nos dizem sobre esse e outros aspectos do problema. Mas o seu valor nutritivo não parece valer a diferença de preço.

«Passeio Aleatório - «Expresso» de 15 de Agosto de 2009

Parques para motociclos nas Avenidas Novas

Av. S. João de Deus
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Av. da Igreja
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Junto à Assembleia Municipal de Lisboa
(Esqueça-se o carro da P. Municipal, estacionado no seu habitual lugar de Paragem Proibida)
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Av. de Roma
Junto ao n.º 2, um parque vazio; junto ao n.º 1, uma moto no passeio
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Praça de Londres
À direita, 3 motos no passeio; à esquerda, o parque que se vê na foto anterior
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Av. Paris
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R. Conde de Sabugosa
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Junto ao café Luanda
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Av. de Roma
O motociclista veio da Av. Óscar Monteiro Torres, galgou o passeio na passadeira para peões, e foi por ele fora até lhe apetecer estacionar
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Av. João XXI, junto à esquina com a Av. de Roma
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Junto ao Hotel Roma
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Junto aos CTT da Av. EUA
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Idem, motos no passeio, por sinal fazendo companhia aos carros...
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Todas estas fotografias foram tiradas com pouco tempo de intervalo; e só se mostram motociclos "estacionados" a poucos metros dos parques a elas destinados. (Falta apenas o parque existente junto ao Vá-vá, que não está "protegido").

Sobressai (nestas e noutras fotos que aqui não afixo para não saturar - tiradas na Av. da Igreja, R. Frei Amador Arrais, Av. EUA, etc) o facto de a rapaziada continuar a preferir deixar os motociclos nos passeios, desprezando os lugares apropriados.

Porquê, dado que são gratuitos?! Vontade de chatear? Ou, pura e simplesmente, a recusa de viver numa sociedade com regras e minimamente ordenada?

domingo, 16 de agosto de 2009

Livros-prémio disponíveis

Em 21 Ago 11

«Amizades Virtuais, Paixões Reais - a sedução pela escrita» (Paulo Querido/Oferta CATI),
«CiberAPANHADOS» (Hugo Caramelo/Oferta CATI)
«O Debate-Tabu / Moeda, Europa, Pobreza» (J-P Fitoussi)
«O Incêndio» (Valentin Rasputin)
«Reportagem no Séc. XXI»
«Vagas de Fogo» (Filipe Faria)
«Ardabiola» (I. Ievtuchenko)
«Crónicas da InforFobia» (C. Medina Ribeiro)
«Betânia» (F. M. Beja)
«Fábrica sensível» (Carlos Porto)
«A cor ciclame e os desertos» (M. F. Borges)
«Janelas para além das nuvens» (L. V. Pedro)
«O reino proibido» (J.J.Slauerhoff)
«Chapéus para Alice» (J. Rios)
«Vale de Mulher (X.A.N. Cruz)
«Tristes Armas» (M. Mayoral)
«A casa vazia» (C. Gutman)
«O hotel do regresso» (C. Gutman)
«Chamava-se Luís» (M. Mayoral)
«Intercâmbio com um inglês» (C. Nostlinger)
«Memórias para Ema» (Antonella G. Silva)
«Lenhadores e Chulos / SFEU 1919» (N. Maclean)
«As cinzas de Maria Callas» (A. Cabrita)
«História da moeda» (J. Rivoire)
«Roda à beira-mar» (A. Benali)
«O emblema leonino» (Modesto Navarro)
«Morta» (F. Valière)
«Sal-gema» (P.L. Jorge)
«O 13.º andar» (S. Fleischman)
«A erva amarga» (M. Minco)
«O jogo da forca» (I. Turbau)
Queres Crescer e Depois Não Cabes na Banheira (M. Castro Caldas)
Sonetos Completos (Antero de Quental)
As Boas Consciências (L. Salvayre)
Amargas Foram as Horas (A. Fortes)
N' Zid (M. Mokeddem)
O Vírus Balcânico (S. Niksic / P. C. Rodrigues)
À Caça do Último Homem Selvagem (A. Vallvey)
Uma Ligação Perigosa (H.S. Haasse)
Contos Cruzados (F.-A. Almeida)

sábado, 15 de agosto de 2009

A minha quase gripe

Por Alice Vieira

COM ESTA PARANÓIA DA GRIPE, qualquer ponta de febre que se tenha nos parece de imediato os 40 graus que é suposto a gente ter quando ela ataca.

Até eu - que me gabo de não me deixar influenciar - me vi um dia destes, às quatro da madrugada (mas sem passarinhos a cantar) a ligar para a Linha-24, convencida de que ia engrossar as estatísticas.

Porque, com as rádios e as televisões a divulgarem constantemente os casos que vão aparecendo – e é mais um nos Açores, e mais três no Algarve, e a creche que fechou e a que vai fechar — a gente de repente tem a certeza de que a gripe já entrou na nossa casa, ó para ela a subir as escadas do nosso prédio, e agora é a vizinha do 1.º, depois a do 2.º, e de nada vale a gente tentar ser racional e pensar que não é possível porque está tudo de férias e não há ninguém no nosso prédio.

Então lá estava eu ao telefone a debitar os meus sintomas, e a enfermeira (cujo nome não recordo, com muita pena, porque aquela conversa foi das poucas coisas boas que me aconteceram nestes últimos tempos) a acalmar-me, sobretudo porque a todas as perguntas que me ia fazendo, eu ia respondendo que não: não, não tenho dores de garganta, não, não tenho o nariz a pingar, - e sobretudo não, não tenho febre.

Foi então que a enfermeira, com paciência evangélica, me disse uma frase que há-de ficar para todo o sempre na galeria das frases que mais marcaram a minha vida: “nem todas as gripes são Gripe-A; nem todas as viroses são gripe”.

E, se calhar porque já não sabia que mais dizer, perguntou :

“Por acaso esteve ontem com muita gente?”

Tive de confessar que tinha estado rodeada de meia Lisboa, aos abraços e beijos a meia Lisboa, a chorar nos braços de meia Lisboa, e que um enterro de um amigo não é lugar ideal para se fugir de contágios.

De qualquer maneira a enfermeira garantia que, se fosse mesmo A gripe, a febre já estaria a trepar pelo termómetro e não se ficaria pelos míseros 36,5, que era o máximo que eu conseguia atingir.

Mas ela era rigorosa (ó que bom, haver neste país alguma coisa que funciona bem, mesmo às quatro da madrugada!), e perguntou:

“Tem feito muitos esforços ultimamente?”

Explico-lhe o que tem sido o meu ritmo de vida nos últimos meses e ela acaba por descobrir o que realmente determina aquele terrível cansaço, aquelas terríveis dores no corpo todo: “o que a senhora está é cansada!”

E de repente a voz do meu querido amigo Raul salta para o meio da nossa conversa, naquela sua magnífica "Ida ao Médico" (“Tussa! O que o senhor tem é tosse!”), e os ben-u-rons ficam à espera de serem necessários, e a paranóia acalma, e a madrugada enche-se de gargalhadas e, pelo menos por enquanto, a gripe ainda não entrou no meu prédio. Acho que tem medo de gargalhadas.

«JN» de 15 de Agosto de 2009

Dito & Feito


Por José António Lima

O PSD TEM UMA CHANCE de ganhar as legislativas de Setembro. Como ficou claro com os resultados das europeias de 7 de Junho. Não tanto pelos 31,7% dos sociais-democratas, que poucos votos conquistaram fora do seu eleitorado tradicional, mas, sobretudo, pelos catastróficos 26,6% do PS. Que demonstraram até que ponto o país se fartou deste PS e desta governação de Sócrates.

A questão é saber se o PSD é capaz de captar, mais do que a abstenção ou a resignação em continuar a votar PS, esse descontentamento. E Manuela Ferreira Leite, registe-se, não tem feito muito por isso.

A incompreensível imposição do nome de António Preto nas listas do PSD é um mau prenúncio. «Não fui a única que o incluiu como arguido. Isso é um aspecto fundamental», argumenta agora Ferreira Leite. Acontece que Preto já não é apenas arguido, está pronunciado judicialmente e tem julgamento marcado – o que é uma diferença substancial, ou, por outras palavras, um aspecto fundamental. Não deixa, por outro lado, de ser irónico ver a líder do PSD a invocar as escolhas de deputados de Santana Lopes em 2005 para se justificar. Quem diria...

António Preto «não está acusado de nada no exercício de funções públicas», alega ainda Ferreira Leite. Tem a certeza? Terá sido no exercício de funções partidárias? E Helena Lopes da Costa, outra das suas protegidas pessoais, não está acusada de ilegalidades no exercício de funções públicas? Qual, então, o critério da líder do PSD? Varia, de acordo com as conveniências? Ou, simplesmente, nenhum?

Ferreira Leite acrescenta: «São casos de natureza privada sobre os quais eu não tenho de me pronunciar» (nem a simulação de um braço engessado a que Preto recorreu, para evitar uma perícia caligráfica na PJ, faz tinir uma qualquer campainha na cabeça da presidente do PSD?). E conclui: «Eu não tenho o direito de me antecipar à decisão da Justiça, dando a minha própria sentença». Ora, o que se lhe pede nestes casos é um juízo político sobre os candidatos do seu partido, não uma sentença judicial. Confundir esses dois planos distintos só interessa a quem quer baralhar o problema.

Já se percebeu que se fosse Manuela Ferreira Leite a líder do PSD em 2005, e não Marques Mendes, ainda hoje teríamos figuras tão gradas como Isaltino ou Valentim em posição destacada nas listas laranja. É tudo uma questão de perspectiva: da ética e da política.

«SOL» de 14 de Agosto de 2009

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O fado do 31


Por Antunes Ferreira

ULTIMAMENTE O 31 é número empolgante para os sportinguistas. É a camisola de Liedson, que vai ser Português dentro de dias, a tempo de tentar resolver o problema dos golos da selecção nacional. E de safar o infeliz Carlos Queirós. O Levezinho tem direito a cartaz especial empunhado por adeptos mais expectantes: ele resolve! E está tudo dito. Umas largas vezes não resolve coisa nenhuma, porque a equipa verde e branca é o que sabe.

Ele representa entre os de Alvalade a esperança do sebastianismo tão do agrado de muitos cidadãos deste País. Vã, diga-se, tais os resultados que os leões vêm alcançando, por falta de euros para adquirir grandes estrelas do chuto. E apesar das obnóxias declarações do novo presidente do clube, José Eduardo Bettencourt – por vezes difíceis de compreender pela massa associativa – a última coisa a morrer para aquelas bandas, salvo seja, chama-se Liedson da Silva Muniz.

O 31 já era célebre por mor de um fado. Antigo, que foi inclusive interpretado pela Beatriz Costa e hoje faz parte do repertório do Rodrigo. A letra é a melhor justificação para se entender que o 31 para nós quer significar sarilho grosso. Recordo aqui parte dela «À porta da Brasileira; dois tipos encontram dois; juntam-se os quatro e depois; lá começa a cavaqueira; agrava-se a chinfrineira; vai aumentando o zum zum; vem bomba arrebenta e pum; depois mais tarde vereis; 24, 26, 29 e 31 ... Ai !!!»

Poderia também referir o restaurante 31 da Armada, mais um exemplo apenas. No entanto, a partir da segunda-feira desta semana um novo elemento veio juntar-se a todos os outros. Pelo início da madrugada, membros do blogue com o mesmo nome, 31 da Armada, encostaram tranquilamente, uma escada à varanda da Câmara Municipal de Lisboa, treparam e substituíram a bandeira lisboeta ali hasteada pela da monarquia.

Episódio entre a galhofa e o kafkiano, que levanta muitas interrogações. Desde o saudosismo dos monárquicos, até à anedota da cena ter sido filmada em DVD, presumo, também com tranquilidade, penso, e posteriormente dada a conhecer ao público. Completando esta singular ocorrência, dois parceiros do blogue foram devolver a bandeira branca e preta na quinta-feira, «devidamente lavada e engomada» à CML, de onde seguiram para a Polícia Judiciária a fim de prestarem declarações. O município tinha apresentado uma queixa sobre o assunto.

O rocambolesco evento mereceu de Nuno da Câmara Pereira, líder do PPM, o comentário que fez ao Diário de Notícias: "não são só as eleições que qualificam a Democracia". E mais disse que a acção de hastear a bandeira da monarquia nos Paços do Concelho de Lisboa por parte de elementos do blogue 31 da Armada fora “um acto de grande dignidade e simbolismo".

Não me restam dúvidas, ainda que poucas já tivesse. O Senhor Doutor Sigmund Freud por estas nossas bandas não se safava nem com umas dezenas de divãs. Portugal não é para ser levado a sério, Portugal não é sério. Ponto. Este episódio podia perfeitamente ter sido interpretado pelos irmãos Marx – mas não era tão estapafúrdio. Ainda que o título de um dos seus filmes, “Casa de Doidos” seja perfeitamente aplicável ao nosso quotidiano…

Poderá dizer-se que não gosto da monarquia. É verdade. Mas também não gosto de palhaçadas. Li, já não sei onde, que o Senhor Dom Duarte considerara o que acontecera como muito significativo, nem sei mesmo se um sucesso. O pretendente ao trono (qual?) de Portugal também tem o direito à baboseira.

Convenhamos. A segurança da CML não é… segura. Se é que existe. Se calhar, apenas nas horas de expediente, com intervalo para almoço e subsídio de refeição. Expliquem-me que não tenho razão e darei a mão à palmatória. Entretanto, uma pergunta final. E se alguém tivesse colocado uma bomba na varanda de onde foi proclamada a República e feito explodir o edifício?

Psiquiatras Fora dos Tribunais Já


Por Maria Filomena Mónica

QUE EU SAIBA, os juízes são pagos para determinarem se um individuo é culpado ou inocente. Tanto quanto possível, a sentença baseia-se nos factos apurados no decurso da investigação, sendo os magistrados soberanos na formulação do juízo. Apesar de tentarem ser imparciais, os juízes são humanos, o que faz com que exista a possibilidade de erro. Daí a existência de recursos, embora nunca se possa ter a certeza de se ter atingido a Verdade. Além de no Vaticano, onde o Papa, esse sim, decreta o que é e o que não é, aquela só existe, e nem sempre, no interior dos laboratórios de Química.

Vem isto a propósito do famoso julgamento da Casa Pia. Há anos que, além das testemunhas, dos arguidos e dos advogados, o tribunal está o ouvir «especialistas» supostamente capazes de avaliar se os miúdos, que dizem ter sido violados por um bando pedófilo, têm «psicopatologias» capazes de originar «uma tendência para a efabulação ou mentira». A opinião pública considera isto aceitável. Mas não o é, pela razão simples de que, por mais graus académicos que possua, ninguém é capaz de determinar, através de testes, se um jovem tem, ou não, tendência congénita para dizer a verdade, toda a verdade e nada mais do que a verdade.

Assim como os sistemas legais funcionam na base da presunção da inocência, os indivíduos acusados de crimes não devem ser tidos como competentes ou incompetentes apenas porque um médico os rotulou como tal. Como, em tempos, disse o psiquiatra Thomas Szasz, a incompetência mental deve ser avaliada como qualquer outra forma de incompetência, ou seja, por meios legais e judiciais. O recurso ao psiquiatra radica, em grande medida, na covardia dos juízes. Em casos de pedofilia – os quais, pela sua natureza, são muito difíceis de resolver – a tentação para solicitar ajuda fora do tribunal é quase irresistível. Ao contrário do que aconteceu com o juiz Teixeira, a juíza Ana Peres tem-se dado ao respeito. Deve, por conseguinte, saber que é a si que, na solidão do seu colectivo, compete julgar.

Abril de 2008

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Pais e filhos - Passatempo-relâmpago - Solução

Pág. 151

Quem mais se tenha aproximado deste valor tem 24h para escrever para sorumbatico@iol.pt, indicando morada para envio do prémio. Em caso de empate, o vencedor será quem deu o 1.º "palpite".

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Uma história simples


Por Baptista-Bastos

DESÇO A AJUDA até à Madragoa. É sábado, vou dançar à Guilherme Cossoul, calhou desta vez. Não há atenuações nem imposições: são os rituais. Cabelo com popa, brilhantina a preceito, camisa da tabela, sapato de tacão alto, calça afiambrada. Vou para o baile. Ainda não sei, mas vou saber que, mais do que ir para o baile, vou arranjar um amigo para toda a vida. Foi amizade à primeira vista, com o Raul Solnado.

A partir daí não nos deixámos de ver, de almoçar, de jantar, de ir aos bares, de falar de mulheres, de telefonar com frequência. Quando sofreu um enfarte violentíssimo, em Caracas («um enfarte do caraças», como gracejava), ralhou-me porque me atrasara na chamada telefónica. O que nos uniu, durante cinquenta anos, foi a certeza da constante presença do outro, em qualquer circunstância ou situação. Escolher esta fraternidade, ou por ela ser tocado, assenta, sem outra justificação, em cumplicidades de tipo comunitário. Modéstia à parte, éramos de Lisboa. Pertencíamos aos bairros, sempre o reivindicámos, e havia, no mais íntimo dos nossos corações, um compromisso que designava a origem comum. Um dia, no Rio de Janeiro, perguntaram-lhe de onde ele era. Respondeu: «De Lisboa!» E o interlocutor: «Sim; mas de onde?» E ele, abrindo os braços: «De toda!»

Arranjou-me empregos extraordinários em épocas de aperto e de perigo. Viajei com ele para o Brasil, na qualidade de secretário, quando assinou um contrato fabuloso com a TV-Rio e cobrou um êxito incomum. Tínhamos a paixão do samba, dançáramos com belas raparigas, pelos Santos Populares, ao som de troupes-jazz que tocavam canções de Dick Farney e de Lúcio Alves, e Copacabana não era uma praia era o paraíso sonhado. «O primeiro que for ao Brasil, leva o outro», eis o acordo. Não havia fronteiras flutuantes nesta identidade que a amizade assegurava. «Então, pá, como é que vai isso?» E ele: «Bem, muito bem. E tu?» «Estou a aguentar-me.» Quando nasceu o Zé Renato, amanhecemos numa noitada de bares e de copos. E fomos à clínica, com dois ramos de flores comprados na Ribeira Nova. Quando nasceu o meu primeiro filho, o Pedro, fui ao teatro dar-lhe a notícia e comemorar com uns uísques.

Cada um era o próprio, e não precisávamos de muitas palavras para exprimir a convivência, resultante de uma longa história comum. A amizade exige a eleição e uma confiança que se não elabora, porque genuína. Penso agora: antes de nos fazer rir, ele passou a vida a ouvir-nos para nos contar - com uma ternura inextinguível e um afecto magoado e melancólico. «Nenhuma morte é natural», disse-o Jorge de Sena. E esta é a menos natural de todas as mortes. O vazio alarga-se, tenebroso, cavo, oco, inelutável.

E agora, Raul, peço-te adeus.

«DN» de 12 de Agosto de 2009

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Passatempo-relâmpago de 10-11 Ago 09 - Solução


Página 59


domingo, 9 de agosto de 2009

Do plágio à fraude científica


Por Nuno Crato

O EXPRESSO da semana passada (ver artigo relacionado, no final do texto), trazia uma extensa reportagem sobre o plágio nos trabalhos universitários. O problema é sério, como se mostrou na reportagem, e tem sido agravado com as imensas possibilidades de recolha de informação na Internet e com a facilidade digital de recorte-e-cola. Há teses que incluem, sem os citar, extractos extensos reproduzidos de outras fontes e há trabalhos que são completamente copiados de documentos existentes na Internet.

Muito terá mudado com as novas tecnologias, e para melhor. Mas será confundir informação bruta com conhecimento pensar que o professor deixou de ter conhecimento para transmitir, passando a ser unicamente os alunos a buscá-lo, construí-lo e organizá-lo. Bibliotecas sempre existiram, tornaram-se de consulta mais fácil pela Internet, que é algo como uma imensa biblioteca do conhecimento humano, mas a questão fundamental não se alterou: o ensino tem de ser uma transmissão organizada de conhecimentos guiada pelo professor. Se há mais recursos, isso significa que se abriram novas possibilidades de enriquecer o ensino. Não que o professor se deva limitar a promover 'a construção do conhecimento pelo aluno' ou, como dirão os mais cínicos, a 'estimular o recorte-e-cola'.

Na reportagem do Expresso, o professor Seabra Santos, reitor da Universidade de Coimbra, colocou o dedo na ferida: "Quanto mais regulares forem as reuniões entre orientadores e orientandos, mais fácil é combater a fraude". Ou seja, quanto maior for o acompanhamento dos professores ao trabalho dos alunos, mais difícil será apresentar trabalhos que sejam cópias de textos pescados na Internet.

Infelizmente, contudo, algumas escolas, departamentos e professores não actuam da melhor maneira. Há os que deixam os alunos sozinhos a escolher os tópicos, que não indicam literatura nem dão sugestões de pesquisa. Limitam-se a ler apressadamente o trabalho final. Assim, o plágio é fácil e, mesmo quando não há fraude, é pouco provável que o trabalho seja verdadeiramente enriquecedor para o estudante.

Proliferam confusões sobre o que é um trabalho de pesquisa original. Não é uma reflexão magna sobre o passado e o futuro do universo, nem é uma nova síntese da filosofia ocidental, de Parménides a Popper. É, habitualmente, uma investigação sobre um tema minúsculo e muito especializado, com conclusões modestas e com impacto reduzido. Mas exige muito trabalho original.

Em alguns locais e áreas, há professores que orientam simultaneamente uma dúzia ou mais de teses de mestrado e de doutoramento, o que é praticamente impossível de fazer de forma responsável. Uma orientação consciente é algo muito exigente e directivo, mesmo em trabalhos de doutoramento, em que o essencial é construído pelo próprio estudante. A orientação começa pela escolha do tópico que apenas pode ser feita por quem estiver na fronteira do conhecimento e souber onde se pode avançar algo de novo. Prossegue no método de investigação, que obriga a trabalho de laboratório, de campo ou teórico. Tudo isto é mais difícil de plagiar do que especulações sem rumo. Quando se procura contribuir para a ciência, a fraude é mais difícil.

«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 8 de Agosto de 2009

O Raul e os jaquinzinhos


Por Antunes Ferreira

JÁ LÁ VÃO UNS LARGOS ANOS, mesmo muito largos. Tive a oportunidade de conhecer o Raul Solnado, aliás, soldado, tal qual ele se me apresentou. Foi no Diário de Notícias, era eu ainda chefe de Redacção adjunto do Mário Zambujal, compincha dos sete costados, o primeiro dos bons malandros, prenúncio de um best-seller a cujo trabalho de parto assisti. Mas, no qual juro que não participei.

O Raul – a partir de então passei a tratá-lo apenas desta maneira singela – ainda não tínhamos desapertado a bacalhauzada, já estava a tratar-me por tu. E pegava na deixa do Mário, ou seja, para ele eu passava a ser o Antunes-sem-mais-nada. Com o teu tamanho, não precisas do Ferreira para nada. Nem esbocei uma mísera tentativa de protesto por esse atentado ao meu apelido de guerra. O Raul dissera, estava dito.

A empatia estabeleceu-se definitiva e para durar. Ambos assim o entendemos. Porra! Qual entendemos? Praticámos, militámos, assim é que foi, assim é que é, assim é que será. Não digo até à eternidade, por dois motivos. Primeiro, porque não acredito nela; segundo porque, mesmo que a aceitasse, eu estava definitivamente eliminado, o Raul levava já a camisola amarela.

Meses depois, fomos almoçar à Fonte dos Passarinhos, ali ao Calvário. Ou antes, mandibular – verbo que era uma criação dele. Eu ia fazer o Anuário do DN, nas oficinas do antigo Anuário Comercial, nas instalações amplas e libertárias que naquela zona existiam, depois adquiridas pela Mirandela. Ele aceitou a Minho honesta proposta e veio para una jaquinzinhos com arroz de tomate com ervilhas, especialidade da Dona Helena, cozinheira aprimorada, casada com um dos sócios do estabelecimento.

A receita por tais alturas era muito simples e claramente enunciada. Os bicharocos absolutamente fugidos às normas comunitárias, ou seja miseravelmente minúsculos. Só não traziam os biberões, na expressão do Raul. Mas tinham que vir ao prato esturricadinhos, para desinfectar alguma fralda esquecida no amanhar a que se sujeitavam antes da frigideira. O arroz devia ter o qb de pimento aliado ao tomate, ambos estrugidos e as ervilhas tenrinhas. A minha Mãe fora a criadora do pitéu e dado o mesmo a provar ao Raul, ele próprio declarara-se soldado de tal rancho.

Era no tempo em que o Raul descobrira petróleo no Beato. Todas as noites o seu Teatro Villaret esgotava a lotação. Um público rendido ao talento de um dos maiores músicos portugueses de sempre seguia à gargalhada as peripécias do taxista Juvenal Costa que encontrara no subsolo do seu quintal o precioso ouro negro que tanta falta fazia e tamanha mossa originava na frágil economia (?) portuguesa.

O Fernando Mata era para também vir amesendar connosco, mas porque tinha a unha do dedo mindinho pisada não compareceu. Os carapauzinhos neo-natos estavam um mimo, comiam-se inteirinhos, as cabeças foram particularmente aplaudidas e deglutidas. O arroz triunfante. Nem o de favas do Jacintinho de Tormes se lhe igualava, fomos unânimes.

Contou-me, sublinhou que em primeira mão, que a RTP ia transmitir a peça. Naturalmente com as necessárias adaptações exigidas pela transmissão no pequeno ecrã. Deixa-te de merdas, Antunes, isto é entre amigos, não é para publicar já, não te armes em parvo com cachas e essas coisas. Jurei-lhe pela minha virgindade que nunca praticaria um tal desatino. E ele, virgem? Só se for nas solas dos pés.

Respeitosamente o informei de que nunca pensara – ó sacrilégio – equiparar-me à Senhora de Fátima, mas que nascera a 20 de Setembro de 41, daí que fosse Virgem. Referes-te, portanto ao horóscopo. E sorriu. A minha tia que gostava de dizer coisas também era e teve três rapazes e duas raparigas.

Há bocado, a Alice Vieira mandou-me um mail (um imeile, como eu uso) a dizer só Morreu o Solnado. Pronto. Assim sendo, antes do funeral, lá vou passar na Fonte dos Passarinhos em busca dos jaquinzinhos, mesmo sem arroz de tomate com ervilhas e uns niquinhos de pimentos.

sábado, 8 de agosto de 2009

Cenas de Lagos

A
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B
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C
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D
.
E
.
A imagem 'A' foi a que se apresentou no Sorumbático, e é uma parte da 'B' . Esta já mostra algo mais: uma carrinha branca mal estacionada e um jipe em cima de um canteiro (onde estaciona todos os dias).

A imagem 'C' mostra o mesmo jipe (em beleza!), e as outras mostram aspectos do estacionamento selvagem em redor.

De facto, a PSP só tratou dos carros que bateram e depois foi-se embora.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Dito & Feito


Por José António Lima

HÁ PRECISAMENTE UM ANO, José Sócrates e o PS, cheios de si próprios e do poder da sua maioria, decidiram sujeitar o Presidente da República a uma insensata prova de força, a pretexto do Estatuto dos Açores. Insensata, politicamente infantil e infundamentada (como vários constitucionalistas então alertaram), gratuita e irresponsável no que respeitava à falta de sentido de Estado demonstrada.

Entretanto, veio a crise internacional, o desabar das ilusões de crescimento da economia, um novo e maior desequilíbrio das contas públicas, o aumento em flecha do défice e do desemprego. Vieram as greves e manifestações dos professores. Vieram as notícias do ‘caso Freeport’. Veio o traumatizante descalabro socialista nas europeias. E veio, finalmente, o acórdão do Tribunal Constitucional dar plena razão às objecções de Cavaco Silva sobre o enviesado Estatuto dos Açores.

Como reagiu o PS? O deputado Ricardo Rodrigues, com as suas habituais esperteza e subtileza argumentativas, apareceu a acusar o TC de «centralista» e de funcionar em sintonia com os interesses de Cavaco e do PSD. O socialista açoriano Carlos César, com o ego insuflado pelo seu pequeno poder regional, surgiu a proclamar que «não recebe lições» de ninguém, de «nenhum juiz ou titular de órgão de soberania». Os socialistas não recebem lições? Deve ser por isso que não aprendem nada. E que não percebem que o país e a predisposição política do eleitorado mudaram muito nestes últimos doze meses: os portugueses fartaram-se da arrogância maioritária e da falta de resultados desta governação.

Quem também parece não perceber os ventos de mudança é Manuela Ferreira Leite. Ao excluir das listas do PSD nomes como Passos Coelho ou Miguel Relvas deu um sinal público de autoridade. Mas também de fraqueza e pequenez política. E, sobretudo, de incapacidade de unir vontades, de congregar esforços, de abrir o partido a uma maior pluralidade de vozes e opiniões.

Ferreira Leite preferiu o autoritarismo da exclusão sectária à tolerância da inclusão abrangente. Quem afasta Passos Coelho para impor nas listas do PSD figuras a contas com a Justiça, como António Preto ou Helena Lopes da Costa, aliena a sua legitimidade política, não tem ética a que se agarrar. Além de oferecer a José Sócrates e ao PS a melhor notícia desta pré-campanha eleitoral.

«SOL» de 7 de Agosto de 2009

Bilhetes de Colares


Por Maria Filomena Mónica


UMA DAS COISAS MAIS TERRÍVEIS que nos pode acontecer ao longo da vida é a perda de um amigo. Com sorte, até aos cinquenta anos apenas o sabemos de forma teórica e nebulosa; depois, o facto torna-se concreto e frequente. Mas a trivialidade em nada contribui para diminuir a dor. Um dia, verificamos que já não podemos contar-lhe as nossas aventuras, segredar-lhe a última intriga, conversar sobre o livro que acabámos de descobrir. Foi isto que me aconteceu com A. B. Kotter, o inglês que, depois de ter passado vários anos em Portugal, morreu, em circunstâncias misteriosas, no Brasil.

Muitos se terão esquecido das crónicas que começou a publicar no jornal A Tarde, em Junho de 1982, passando por vários periódicos, até terminar, em 1998, no semanário O Independente. Mais do que de si próprio, falava do país que «o havia acolhido generosamente no seu seio». Dele, apenas sabemos que, após uma vida activa como advogado em Londres, entremeada por tarefas secretas para o MI6, se reformara, tendo escolhido Portugal como destino, não só pela amenidade do clima e a simpatia das pessoas, mas também pela tranquilidade social. Foi apressadamente que deixou a Várzea de Colares: nem a mim confidenciou o motivo, o que, conhecendo-o, não me ofendeu.

Relendo-o hoje, interrogo-me como foi possível a este estrangeiro, mais familiarizado com Thomas Hardy do que com Cesário Verde, escrever sobre Portugal de forma tão certeira e cordial. Até eu sou capaz de citar de memória algumas das suas frases: «Os homens portugueses ficam meninos toda a vida e finalmente acabam com complexos de masculinidade». Foram as saudades de Kotter que, passados dez anos sobre a sua morte, me levaram recentemente à Casa do Alentejo, a fim de ouvir o Embaixador José Cutileiro evocar o amigo comum. Se ainda não tem o livro, vá depressa a uma livraria, a fim de comprar os seus «Bilhetes de Colares» (Assírio e Alvim, 2007). Eu não tenho muitos amigos, mas os que tenho são bons.

Abril de 2008

Pelo direito ao Voto Nulo

Por Manuel João Ramos

Um Comunicado do Partido Nulo

Acaba de ser criada a secção portuguesa do PARTIDO NULØ.

O PARTIDO NULØ congratula-se com o resultado das sondagens publicadas pelo Expresso/SIC/Rádio Renancença e pela TSF, que nos consideram a 6ª força política mais votada, com uma percentagem próxima do CDS/PP, e com maior potencial de crescimento.

Este resultado, conjuntamente com a elevada percentagem de indecisos, a menos de dois meses das eleições, é um sinal de grande optimismo e de potencial crescimento para o PARTIDO NULØ.

Face à situação política do país, almejamos alcançar em breve o lugar de força política mais votada em Portugal, substituindo a abstenção.

Cremos que a elevada abstenção oferece um conveniente pretexto para governações minoritárias, tendencialmente alheadas dos interesses dos cidadãos e que só o voto nulØ surge como uma alternativa plena de potencial expressivo individual e colectivo.

Através do voto nulo, pretendemos afirmar a legitimidade do sistema de representação popular. Clamamos por melhores candidatos, melhores programas políticos, maior capacidade de entendimento das necessidades do país.

Através do voto nulo, afirmamos também a nossa criatividade individual: cada voto nulo é único; e cada voto nulo representa um potencial estético ímpar no contexto eleitoral.

Apelamos ao voto nulØ porque recusar os maus candidatos que se apresentam a eleições é um direito legítimo.

Não pretendemos governar. Pretendemos sim que quem nos pretende governar evidencie qualidade para tal.

Exigimos que o voto nulØ tenha expressão real nos órgãos colegiais (Assembleia da República, Executivos e Assembleias autárquicos). Queremos que os lugares elegíveis sem votantes suficientes sejam deixados vagos, para lembrar às outras forças políticas que o voto nulØ é um voto consciente e empenhado.

www.partidonulo.net

partidonulo@gmail.com