domingo, 22 de setembro de 2013

O fim do Mundo e o cozido à portuguesa

Por Antunes Ferreira
OS HUMANOS - com as características que hoje temos - sempre se preocuparam com o fim do Mundo e muitos dentre eles previram e anunciaram como isso ia acontecer e, sobretudo, quando. Essas “profecias” continuamente indicaram a data fatal e fizeram-no para que a Humanidade se preparasse a fim de se precaver contra o cataclismo universal.
Aproveitando mais um falhanço da “previsão” do pastor protestante Harold Camping, que pela segunda vez pressagiava o dia da ocorrência final, a Times publicou em 2011 um curioso trabalho em que alinhavava as dez mais importantes conjecturas alinhadas ao longo da História. Trabalho complexo, simultamente de compilação e de motivo de ironia.
É dele que respigo uns quantos apontamentos, não pretendendo que sejam lidos como um suposto tratado sobre a matéria. Se o tentasse fazer morreria de exaustão, naturalmente antes do fim do Mundo. Na verdade e retomando os “cálculos “de Camping, em 1992 ele anunciara que dois anos depois, ou seja em meados de Setembro de 1994 estaríamos todos no Paraíso ou no Inferno… Penso, no entanto, que nessa data ainda existia o Purgatório e por isso ele também poderia ser o último apeadeiro do comboio do nosso planeta azul.
Face ao desabar da congeminação, ele não descansou e voltou à carga em 2011, desta feita garantindo que não se enganava na data do apocalipse final: 12 de Dezembro de 2012. O diabo é também a decepção foi total. Perante esta segunda “desgraça” o futurólogo decidiu aposentar-se da sua função de anunciador do tal fim e dedicar-se a obras de benemerência ou, quiçá, à pesca, de acordo com fontes idóneas e bem informadas.
 Mas já no século XIX um outro pastor norte-americano,  William Miller, a quem a Time chamou "provavelmente o mais famoso falso profeta da história", se dedicara a essa tarefa, verdadeira terapêutica ocupacional. Ele começou a pregar o fim do Mundo no começo da década de 1840, dizendo que Jesus retornaria à Terra e o planeta arderia em fogo em alguma data entre 21 de Março de 1843 e 21 de Março de 1844. Naufragou.

Faça-se uma tangente pelo mais do que famoso bug dos milénios: na passagem de 1992 para 2000 os computadores soltariam o seu último clique e os homens não poderiam fazer mais do que resignar-se e preparar-se para o Big Bang do fim do tempo. Outra presciência, outra desilusão. O ano de 2000 entrou decidido a dar cabo da antevisão. Nada feito. E até os Maias…

Mas, a que vem este arrazoado?

O fim da Humanidade está em contagem decrescente, revelou há dias um estudo britânico que esclarece que o planeta Terra só será habitável nos próximos 2 350 milhões de anos. Já não é mau. A mim não tira o sono…O cálculo é de investigadores da Universidade de East Anglia, no Reino Unido e foi publicado na revista Astrobiology. Nele, os cientistas explicam que a Terra deverá entrar na zona quente do Sol, acabando assim com as condições de habitabilidade do planeta, uma vez que os oceanos se devem evaporar.

«Haverá uma extinção catastrófica e terminal para toda a vida», disse o diretor do estudo, Andre Rushby, citado pelo Daily Mail. Porém, alertam ainda, o planeta pode deixar de ser habitável antes, daqui a 1 750 milhões de anos, uma vez que o estudo determina que a entrada na zona quente do Sol deve acontecer entre as duas datas milionárias- de anos.
Vá lá acreditar-se em prescientes. É que agora a roca fia mais fino. Não se trata de mais uns aldrabões; são cientistas, ainda que com uns laivos de Nostradamus. Eles não brincam e usaram os mais sofisticados meios para chegarem a uma tal conclusão. Mas, com esta mania de não confiar em ninguém, sequer mesmo da própria sombra, permito-me ter as minhas dúvidas.
Repare-se: eles não afirmam concludentemente que a desgraça acontecerá pelas 19:46 do dia 18 de Março do ano de 235000000. Nada disso: ficam-se por uma indecisão de 600 milhões de anos. Não se faz; mas pergunto: então a ciência não é exacta? Sempre me disseram que sim e eu, ainda que um tanto com um pé atrás, acreditei piamente. E agora, que fazer?
Para já – e escrevo no dia do meu aniversário, 20 de Setembro - não vou marcar nada na minha agenda entre 2350 e 1750 milhões de anos. E embora já o tivesse apontado, nem um cozido à portuguesa.