terça-feira, 13 de julho de 2010

Futuro

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Por João Paulo Guerra

O BEM GUARDADO mistério sobre o futuro de Portugal e dos portugueses poderá ter começado a desvendar-se através de uma notícia breve, publicada na sexta-feira passada.

Com ou sem formação, os portugueses foram condenados ao fim do emprego e à precariedade. Isso já se sabia. Mas agora ficou também a saber-se que a venda de cautelas e a engraxadoria podem ser actividades de futuro em Portugal. Ora isto representa uma clarificação não só para cauteleiros e engraxadores, mas para todos os putativos equiparados: amoladores, plastificadores de cartões, bufarinheiros, biscateiros e serventes podem igualmente dar livre curso ao espírito de empreendedorismo.

Por outro lado, a boa nova abre alargados horizontes ao sentido de desenrascanço dos portugueses que não tardarão a consagrar novas profissões, filhas da crise, por parte da mãe, e do fim do emprego, pelo lado do pai. Antigamente havia o Instituto das Novas Profissões. Agora há o instituto do desenrasca. E com a formação da escola superior do desenrascanço, os portugueses poderão enveredar por ocupações e até mesmo carreiras de futuro como sejam guia turístico ocasional, indicador de ruas, polidor de calçadas, arrumador transeunte, vendedor deambulante, disseminador de publicidade, figurante, mirone, emplastro ou basbaque, agitador de claques, respondente a inquéritos de rua, testemunha ocular, alegada vítima ou mesmo suposto criminoso. Tudo isto, para além de tudo o que representa economicamente, significa um incremento da intervenção social dos portugueses.

A menos que os termos da notícia tenham outros sentidos. E que profissões de futuro sejam os engraxadores - dispostos a dar graxa ao poder - e os cauteleiros - sempre prontos para todas as cautelas de maneira a não levantar ondas.

«DE» de 13 Jul 10