segunda-feira, 26 de julho de 2010

Troca

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Por João Paulo Guerra

A DIRECÇÃO DO PS anda mortinha por ceder e negociar a revisão da Constituição com o PSD. Começou por dizer que nem admitia discutir o projecto de revisão de Passos Coelho.


O que terá levado alguns incautos a confundir as posições da direcção do PS com as de socialistas como Manuel Alegre ou António Arnaut. De facto, ficava muito mal aos dirigentes do PS dizerem algo menos forte que Alberto João Jardim sobre o projecto do PSD. Mas, em apenas três dias, os dirigentes do PS encontraram a fórmula para contornar a questão. Mantêm que não discutem o projecto do PSD, mas admitem introduzir "melhoramentos" na lei fundamental, o que constitui um sinal de abertura e uma piscadela de olho. Coincidindo com esta nuance socialista, o PSD começou a "melhorar" o seu projecto, aceitando duas propostas de alteração em Conselho Nacional.

Curiosa foi a preocupação do líder do PSD, ao apresentar o projecto de revisão, de frisar que assim já ninguém poderá dizer que PS e PSD se confundem. Só não diz quem não quiser dizer. Porque em domínio como seja o dos direitos constitucionais, tão desrespeitoso é quem propõe a sua eliminação como quem nela consente. Os dois partidos não se distinguem pelo vozear em torno de projectos de papel, mas pela decisão que os deixar passar. E a prática tem mostrado, mais que semelhança, cumplicidade entre ambos.

Daqui até ao final do processo da revisão, é bem provável que o PSD até se decida a manter no preâmbulo da Constituição o objectivo de "abrir caminho para uma sociedade socialista". Em troca, o PS aceitará, por exemplo, a eliminação da justa causa para os despedimentos e do carácter tendencialmente gratuito dos serviços estatais de saúde e educação. É ela por ela: uma flor de retórica trocada por medidas programáticas.

«DE» de 26 Jul 10