sexta-feira, 2 de julho de 2010

Negócio

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Por João Paulo Guerra

UM LEITOR da edição online de determinado jornal defendia ontem a intervenção do Governo no negócio da PT declarando que assim se salvaguardam os interesses da Pátria contra os que querem vender Portugal aos bocados.

O leitor, embora confuso, a ponto de baralhar Portugal com uma empresa brasileira, estaria assim sintonizado com o primeiro-ministro quando este declarou que o veto à venda da Vivo defendia "os interesses estratégicos de Portugal".

Mas que interesses estratégicos de Portugal é que a PT representa? E se representa, porque foi desnacionalizada? E se foi privatizada, porque se mantém um mecanismo que permite pôr a privatização na gaveta de vez em quando? E poderá ser-se a favor das regras e do funcionamento do mercado, como reiteradamente se alega, quando as decisões do mercado agradam e desde que se tenha no bolso a chave para impedir as decisões que desagradem? Será a coerência um adereço de pôr e tirar? E os princípios serão figuras de geometria variável? Ou será que alguém anda a confundir interesses estratégicos de Portugal com o interesse particular de um ou outro negócio de conveniência e com a colocação da "boysada"?

Num momento em que a situação financeira do país está pendente da confiança dos mercados, a intervenção do Governo poderá ter efeitos de repercussões incalculáveis. Em primeiro lugar, porque a ameaça da intervenção do Estado nos negócios não dá confiança aos investidores. Em segundo lugar, porque o veto à venda da Vivo abriu a porta das hipóteses ao lançamento de uma OPA sobre a própria PT.

A intervenção do Governo nem para o próprio Estado foi boa. Apenas precipitou a sentença que vai abolir a ‘golden share'. Ou será que em certos casos o Governo preconiza mais Estado?
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«DE» de 2 Jul 10