Por João Duque
PsT, PsT! Ó... faz favor! Olhe... está a ouvir?
É assim que a rapaziada do bairro traz de volta a este mundo o empregado de mesa que teima em continuar arrumado ao balcão a olhar o ecrã do mundial que lhe sugou Portugal e só lhe dá Espanha pela venta.
A onomatopaica é extraordinária: começa com um Ps entalado numa PT, e acorda, sem ferir, o sono do distraído.
Finalmente foi usada a golden share do Estado sobre a PT. Tudo porque a venda da participação da PT numa sociedade que detém 40% da Vivo é contra o "interesse nacional".
Devo ser estúpido, mas ainda não consegui perceber qual o "interesse nacional" que foi ferido na proposta de negócio.
Talvez o interesse dos acionistas da PT... Mas como 64% do capital da PT está nas mãos de não residentes, então o Estado português usou a golden share para proteger os interesses dos "estrangeiros"! Como ainda por cima o maior acionista é a Telefónica, o Estado português protegeu-a do seu próprio veneno...
Talvez o interesse nacional seja manter esse fluxo de rendimentos futuros que a Vivo proporcionará à PT em benefício dos acionistas. Mas se assim é, porque é que o Governo quer despachar todas as ações que detém em várias empresas de referência, como a EDP, GALP, CTT, etc. e que proporcionam igualmente rendimentos interessantes?
Talvez o interesse nacional seja manter a possibilidade de nomeação de uns portugueses para o conselho de administração da Vivo... Mas também não são assim tantos para que Portugal se sinta tão "tocado".
Ou talvez o interesse nacional seja o interesse brasileiro, porque até agora não ouvi os brasileiros sobre o assunto. E já agora que ninguém nos ouve, a Vivo atua no Brasil, digo eu... Imaginem o que seria se brasileiros e argentinos discutissem nas nossas barbas a venda de 40% da PT, sem nos passarem cartão!
Talvez o interesse nacional seja apenas o de levar os espanhóis a sentarem-se à mesa com os portugueses e com eles negociarem as condições do negócio. Irá isso aumentar alguns euros o valor do negócio? Quanto? Veremos assim convertidos em euros o valor do "interesse nacional", uma vez que, se por acaso, passa a ser do interesse nacional a venda que o não era, temos então o interesse nacional cotado a preço de mercado, o que é sempre bom de conhecer ("interesse nacional" a mark-to-market).
Desta trapalhada safávamo-nos bem se o Estado português vendesse, como deveria, a golden share à PT, desfazendo-se do que não faz sentido ter, evitando a humilhação europeia e realizando um encaixe de capital.
A livre circulação de capitais tem vários sentidos e destinos. Já agora, 90% da dívida pública emitida pelo Estado é tomada pelos "maus", pelos estrangeiros, esses que são contra os interesses nacionais e que nos ajudam a pagar as pensões e vencimentos de funcionários públicos para que não chegam os impostos! Esses que nos ganham nos jogos de futebol. E se não perceberam "perguntem ao Queirós!"
.
«Expresso» de 10 Jul 10
PsT, PsT! Ó... faz favor! Olhe... está a ouvir?
É assim que a rapaziada do bairro traz de volta a este mundo o empregado de mesa que teima em continuar arrumado ao balcão a olhar o ecrã do mundial que lhe sugou Portugal e só lhe dá Espanha pela venta.
A onomatopaica é extraordinária: começa com um Ps entalado numa PT, e acorda, sem ferir, o sono do distraído.
Finalmente foi usada a golden share do Estado sobre a PT. Tudo porque a venda da participação da PT numa sociedade que detém 40% da Vivo é contra o "interesse nacional".
Devo ser estúpido, mas ainda não consegui perceber qual o "interesse nacional" que foi ferido na proposta de negócio.
Talvez o interesse dos acionistas da PT... Mas como 64% do capital da PT está nas mãos de não residentes, então o Estado português usou a golden share para proteger os interesses dos "estrangeiros"! Como ainda por cima o maior acionista é a Telefónica, o Estado português protegeu-a do seu próprio veneno...
Talvez o interesse nacional seja manter esse fluxo de rendimentos futuros que a Vivo proporcionará à PT em benefício dos acionistas. Mas se assim é, porque é que o Governo quer despachar todas as ações que detém em várias empresas de referência, como a EDP, GALP, CTT, etc. e que proporcionam igualmente rendimentos interessantes?
Talvez o interesse nacional seja manter a possibilidade de nomeação de uns portugueses para o conselho de administração da Vivo... Mas também não são assim tantos para que Portugal se sinta tão "tocado".
Ou talvez o interesse nacional seja o interesse brasileiro, porque até agora não ouvi os brasileiros sobre o assunto. E já agora que ninguém nos ouve, a Vivo atua no Brasil, digo eu... Imaginem o que seria se brasileiros e argentinos discutissem nas nossas barbas a venda de 40% da PT, sem nos passarem cartão!
Talvez o interesse nacional seja apenas o de levar os espanhóis a sentarem-se à mesa com os portugueses e com eles negociarem as condições do negócio. Irá isso aumentar alguns euros o valor do negócio? Quanto? Veremos assim convertidos em euros o valor do "interesse nacional", uma vez que, se por acaso, passa a ser do interesse nacional a venda que o não era, temos então o interesse nacional cotado a preço de mercado, o que é sempre bom de conhecer ("interesse nacional" a mark-to-market).
Desta trapalhada safávamo-nos bem se o Estado português vendesse, como deveria, a golden share à PT, desfazendo-se do que não faz sentido ter, evitando a humilhação europeia e realizando um encaixe de capital.
A livre circulação de capitais tem vários sentidos e destinos. Já agora, 90% da dívida pública emitida pelo Estado é tomada pelos "maus", pelos estrangeiros, esses que são contra os interesses nacionais e que nos ajudam a pagar as pensões e vencimentos de funcionários públicos para que não chegam os impostos! Esses que nos ganham nos jogos de futebol. E se não perceberam "perguntem ao Queirós!"
.
«Expresso» de 10 Jul 10