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Por José António Lima
JOSÉ SÓCRATES apareceu, no caso PT-Telefónica, como o paladino do nacionalismo de esquerda. Chamando a si os galões de «não se envergonhar de defender os interesses nacionais», Sócrates disparou em todas as direcções.
Acusou Durão Barroso e a Comissão Europeia de terem, «de há muitos anos, posições ideológicas ultraliberais», desconsiderou o patrão do BES e seu apoiante desde que é primeiro-ministro, Ricardo Salgado, dizendo «compreender muito bem os interesses financeiros dos accionistas da PT em obterem ganhos a curto prazo» e fustigou, de caminho, o PSD, publicamente dividido sobre esta questão, ao incriminá-lo de «agir como Pilatos, lavando as mãos» e «querendo agradar a todos os sectores». Para concluir, acalorado: «Isso connosco nunca: ou sim ou sopas!».
Este acrisolado e súbito patriotismo de esquerda permitiu ao líder do PS receber um raro apoio, público e conjunto, do PCP e do Bloco de Esquerda. Mas Sócrates corre o risco de estar a combater moinhos de vento espanhóis e de ver a lança da sua golden share – «anacrónica e em breve obsoleta», nas palavras do conceituado Financial Times – transformada num instrumento inútil por decisão inexorável de Bruxelas. Segundo Ricardo Salgado, Sócrates estará mesmo a brincar com o fogo, ao extremar condições para uma eventual OPA da Telefónica sobre a PT.
Mas esta viragem à esquerda da estratégia socialista não é acidental nem politicamente inocente. José Sócrates já percebeu, pelos bem ilustrativos resultados das últimas sondagens, que o PSD o ultrapassou eleitoralmente e ameaça alargar a distância entre os dois partidos a cada mês que passa.
A inflexão à esquerda, nacionalista ou em tons de campanha presidencial, visa segurar eleitorado contra esse crescimento inevitável do PSD e esvaziar as inflacionadas intenções de voto do BE e do PCP.
Mas essa é mais uma quadratura do círculo para Sócrates: não se vê como conciliar um discurso de esquerda com constantes pacotes de austeridade e medidas típicas de direita. Ele lá saberá.
.Por José António Lima
JOSÉ SÓCRATES apareceu, no caso PT-Telefónica, como o paladino do nacionalismo de esquerda. Chamando a si os galões de «não se envergonhar de defender os interesses nacionais», Sócrates disparou em todas as direcções.
Acusou Durão Barroso e a Comissão Europeia de terem, «de há muitos anos, posições ideológicas ultraliberais», desconsiderou o patrão do BES e seu apoiante desde que é primeiro-ministro, Ricardo Salgado, dizendo «compreender muito bem os interesses financeiros dos accionistas da PT em obterem ganhos a curto prazo» e fustigou, de caminho, o PSD, publicamente dividido sobre esta questão, ao incriminá-lo de «agir como Pilatos, lavando as mãos» e «querendo agradar a todos os sectores». Para concluir, acalorado: «Isso connosco nunca: ou sim ou sopas!».
Este acrisolado e súbito patriotismo de esquerda permitiu ao líder do PS receber um raro apoio, público e conjunto, do PCP e do Bloco de Esquerda. Mas Sócrates corre o risco de estar a combater moinhos de vento espanhóis e de ver a lança da sua golden share – «anacrónica e em breve obsoleta», nas palavras do conceituado Financial Times – transformada num instrumento inútil por decisão inexorável de Bruxelas. Segundo Ricardo Salgado, Sócrates estará mesmo a brincar com o fogo, ao extremar condições para uma eventual OPA da Telefónica sobre a PT.
Mas esta viragem à esquerda da estratégia socialista não é acidental nem politicamente inocente. José Sócrates já percebeu, pelos bem ilustrativos resultados das últimas sondagens, que o PSD o ultrapassou eleitoralmente e ameaça alargar a distância entre os dois partidos a cada mês que passa.
A inflexão à esquerda, nacionalista ou em tons de campanha presidencial, visa segurar eleitorado contra esse crescimento inevitável do PSD e esvaziar as inflacionadas intenções de voto do BE e do PCP.
Mas essa é mais uma quadratura do círculo para Sócrates: não se vê como conciliar um discurso de esquerda com constantes pacotes de austeridade e medidas típicas de direita. Ele lá saberá.
«SOL» de 9 Jul 10