segunda-feira, 26 de julho de 2010

Os vereadores que ensaiam ser cegos

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Por Ferreira Fernandes

RUA DA BAINHARIA. Rua de Belomonte. Rua de Cimo de Vila. Rua das Oliveiras. Rua Escura. Rua Bela da Fontinha. Rua de Baixo. Rua do Corpo da Guarda. Rua dos Caldeireiros. Travessa do Barredo. Viela dos Gatos. Rua dos Canastreiros. Rua do Cativo. Rua da Senhora das Verdades. Rua da Oliveirinha. Largo do Terreirinho. Calçada das Carquejeiras. Rua da Lada. Rua de Pena Ventosa. Rua D. Hugo. Escadas do Caminho Novo. Rua das Condominhas... São ruas do Porto. Não sei se Carlos Tê meteu alguma em letra de canção, mas bem podia. São nomes que mesmo não rimando com anel de rubi merecem ser cantados. Soam a granito portuense e a luz húmida, esses nomes.
Já Rua Rui Rio, Rua Álvaro Castello-Branco, Rua Matilde Alves, Rua Vladimiro Feliz, Rua Manuel Sampaio Pimentel, Rua Guilhermina Rego e Rua Gonçalo Gonçalves não soam a nada. É melhor não entrarem em cantigas. Rui Veloso ainda ia a meio e já haveria braços levantados no Coliseu: "Ei, Chico Fininho, esses têm nome de rua porquê?" Porquê? Terrível questão. Assim de repente, só nos lembramos deles por serem vereadores (e afins) que votaram contra o nome de Saramago em rua do Porto.
Os tolos deixaram-se ofuscar pela cegueira política. Votavam a favor da Rua Saramago e diziam que era por saramago ser uma erva. Afinal, a portuense Rua de Salazares tem sobrevivido porque também evoca uma planta.
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«DN» de 24 Jul 10