Por João Paulo Guerra
PAULO PORTAS quer um governo de salvação nacional sem eleições. Se fosse há 35 anos, esta proposta seria mais uma malfeitoria do gonçalvismo.
Mas agora chegou a vez do PREC do CDS. Percebe-se por que razão Portas vai começar a fugir de eleições como o diabo foge da cruz. É que os resultados do CDS nas eleições do ano passado foram empolados num quadro de vitória anunciada do PS e esvaziamento do PSD. Em eleições futuras, com o PSD a aspirar à vitória, lá corre o CDS o sério risco de voltar a chamar um táxi para chegar a São Bento. E a ter por horizonte para acesso ao poder, a bolsa marsupial do PSD para transportar o partido canguru.
A ideia da salvação nacional lançada por Portas tem um outro aspecto peregrino. Trata-se de reunir num só governo, alegadamente para salvar o País, os partidos que um a um, dois a dois, ou três a três, governam há três décadas. Sozinhos ou acompanhados, o PSD leva 18 de poder, o PS 15, o CDS 8.
O resultado está à vista: afundaram a economia, esvaziaram a democracia e fizeram de Portugal o país mais pelintra, ignorante e atrasado da Europa. Embora com manias de grandezas que vão do betão aos submarinos, de preferência com luvas. Aliás, um governo tripé havia de ser um caso pegado, com mais bancos para o PSD, mais terminais de contentores para o PS e mais submarinos para o CDS.
A proposta do CDS levou para trás nas primeiras impressões. O PSD está confiante que passará incólume por eleições, apesar da ajuda decisiva que está a dar ao PS no trabalho sujo de arrasar todo e qualquer apoio social. O PS está esperançado num golpe de mágica. E o CDS reza para que tudo se passe sem recurso a eleições. Quanto ao futuro, uma previsão é certa: ou governam todos ou cada um governa-se.
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«DE» de 19 Jul 10