quarta-feira, 28 de julho de 2010

Segredo militar é guerra perdida?

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Por Ferreira Fernandes

O SEGREDO é a alma do negócio e não há negócio mais secreto que a guerra. Ou, melhor, era assim, já não é. Calculem os estragos que o site Wikileaks fez ao tornar públicos 90 mil documentos secretos da guerra do Afeganistão…
O site especializou-se em contar segredos, é a Garganta Funda (o informador do caso Watergate) da era da Internet. Até já propôs ao Governo islandês converter a ilha nórdica num santuário para as fontes sigilosas e para os jornalistas, com leis que protegeriam as fugas de informação como as ilhas Caimão protegem as fugas ao fisco.
Esta semana, o Wikileaks e a sua face mais visível, o jornalista australiano Julian Assange, fizeram uma formidável provocação a Washington.
Em todo o caso, a facilidade de se obter e pôr a circular informações mesmo em cenários que exigem sigilo - os soldados andam armados com telemóveis que filmam e partem para a frente viciados nas redes sociais - garante que sites tipo Wikileaks vieram para ficar. Pelo menos em países com democracia. Países que prescindem desta podem continuar a confiar no juramento de fidelidade e silêncio dos seus soldados. Sendo as fugas de informação inevitáveis, cabe às democracias ensinar duas coisas: às suas tropas, que não metam o pé na argola, e à sua opinião pública, que as guerras não são convites para tomar chá. Esta última batalha é quase impossível de vencer.

«DN» de 28 Jul 10