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Por José António Lima
«CORTAR NA DESPESA do Estado é inexorável» para Portugal conseguir libertar-se do endividamento crónico em que tem vivido – avisava, há dias, Ernâni Lopes com a sabedoria de quem conhece bem os vícios do aparelho governativo e da administração pública; e com a lucidez de quem tem um pensamento livre aliado a uma reflexão profunda sobre a sociedade portuguesa e os constrangimentos da sua economia. Ora, soube-se agora, pelo balanço da execução orçamental no 1.º semestre, que a despesa do Estado continua – apesar de todas as promessas de contenção – a aumentar. Alegremente. Irresponsavelmente. No meio deste cenário, não deixa de ser perplexizante ouvir o ministro Jorge Lacão protestar contra a redução de 5% nos vencimentos dos assessores políticos que enxameiam os gabinetes. José Sócrates, aliás, já se opusera, na mesma linha, a igual diminuição nos salários dos políticos, classificando tal medida de demagógica e populista.
Quando se sabe que, neste e nos próximos anos, Portugal vai estar obrigado a uma cura radical de emagrecimento do Estado e do seu incomportável despesismo (que passará pela extinção de organismos, pela redução de clientelas, de pessoal e de salários), demagogia é escamotear-se esta inevitabilidade com um enganador optimismo embrulhado em discursos cor-de-rosa. Quando esta dura política de redução do nível de vida deveria ser acompanhada por um visível e efectivo combate às desigualdades sociais (onde Portugal é recordista na Europa e, a demonstrá-lo, o país onde cresceu mais, nestes primeiros meses de 2010, a venda de carros e, em especial, de carros de luxo), populismo é continuar a fazer de conta que há dinheiro para tudo e para todos, dos políticos aos assessores e demais clientelas.
Ernâni Lopes, com inexorável realismo analítico, não deixa dúvidas sobre o que nos espera: «Eu seguiria a lógica irlandesa e diminuiria os vencimentos dos funcionários públicos, incluindo os ministros, em15% sem dúvida, em 20% provavelmente». Em contraponto, a ministra Helena André veio prometer aumentos de 1,4% em 2011 e, no momento seguinte, dizer que, afinal, pode não ser bem assim. Este Governo e estes governantes ainda não perceberam de todo o filme em que estão metidos. Teme-se o pior.
.Por José António Lima
«CORTAR NA DESPESA do Estado é inexorável» para Portugal conseguir libertar-se do endividamento crónico em que tem vivido – avisava, há dias, Ernâni Lopes com a sabedoria de quem conhece bem os vícios do aparelho governativo e da administração pública; e com a lucidez de quem tem um pensamento livre aliado a uma reflexão profunda sobre a sociedade portuguesa e os constrangimentos da sua economia. Ora, soube-se agora, pelo balanço da execução orçamental no 1.º semestre, que a despesa do Estado continua – apesar de todas as promessas de contenção – a aumentar. Alegremente. Irresponsavelmente. No meio deste cenário, não deixa de ser perplexizante ouvir o ministro Jorge Lacão protestar contra a redução de 5% nos vencimentos dos assessores políticos que enxameiam os gabinetes. José Sócrates, aliás, já se opusera, na mesma linha, a igual diminuição nos salários dos políticos, classificando tal medida de demagógica e populista.
Quando se sabe que, neste e nos próximos anos, Portugal vai estar obrigado a uma cura radical de emagrecimento do Estado e do seu incomportável despesismo (que passará pela extinção de organismos, pela redução de clientelas, de pessoal e de salários), demagogia é escamotear-se esta inevitabilidade com um enganador optimismo embrulhado em discursos cor-de-rosa. Quando esta dura política de redução do nível de vida deveria ser acompanhada por um visível e efectivo combate às desigualdades sociais (onde Portugal é recordista na Europa e, a demonstrá-lo, o país onde cresceu mais, nestes primeiros meses de 2010, a venda de carros e, em especial, de carros de luxo), populismo é continuar a fazer de conta que há dinheiro para tudo e para todos, dos políticos aos assessores e demais clientelas.
Ernâni Lopes, com inexorável realismo analítico, não deixa dúvidas sobre o que nos espera: «Eu seguiria a lógica irlandesa e diminuiria os vencimentos dos funcionários públicos, incluindo os ministros, em15% sem dúvida, em 20% provavelmente». Em contraponto, a ministra Helena André veio prometer aumentos de 1,4% em 2011 e, no momento seguinte, dizer que, afinal, pode não ser bem assim. Este Governo e estes governantes ainda não perceberam de todo o filme em que estão metidos. Teme-se o pior.
«SOL» de 23 Jul 10