sexta-feira, 17 de julho de 2009

A Ministra e os Professores


Por Maria Filomena Mónica

ALGUNS COMENTADORES QUE RESPEITO têm defendido a avaliação proposta por Maria de Lurdes Rodrigues com base em que é preciso acabar com a bandalheira que se vive nas escolas, a qual teria contribuído para que o país apareça num lugar vergonhoso nas estatísticas internacionais. Para eles, alguém que diz, com ar firme, ser necessário avaliar os professores tem necessariamente razão. Mas avaliar professores é diferente de emitir juízos sobre empregados de empresa, funcionários públicos ou gestores de topo. Nestes casos, há objectivos definidos – vender cadeiras, carimbar papéis ou arrecadar lucros – o que não se passa no caso das escolas. Estas servem para transmitir conhecimentos e, numa perspectiva optimista, contribuir para a formação de homens e mulheres mais cultos, o que não é mensurável. A visão mecanicista da escola - como se de um conjunto de peças de Lego se tratasse – é errónea.

Há ainda – e isto é crucial – o problema da competência pedagógica. É fácil conferir se os docentes faltam, se chegam atrasados ou se corrigem os testes. O mesmo se não pode dizer dessa qualidade, mais ou menos mística, a capacidade para ensinar, que as faculdades de Ciência da Educação – uma das pragas dos tempos modernos – são supostas transmitir. Não é através da observação directa, nem, muito menos, de grelhas imbecis que lá se chegará.

Depois de ter assistido à manifestação de Sábado– sim, fui lá, embora na qualidade de repórter – discuti a questão com algumas pessoas. A maioria estava atónita que eu, desde há muito vista como uma meritocrata a outrance, defendesse aquela cambada de preguiçosos manipulados pelos sindicatos. Além de isto ser uma caricatura, é irrelevante. O que está em discussão não é a existência de maus professores, mas se é possível detectá-los com a engenharia que a ministra montou. Não, não é.

Março de 2008