quinta-feira, 29 de abril de 2010

Mercado

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Por João Paulo Guerra

A expressão “o mercado funciona” como “o mercado regula” perdeu todo o sentido embora tenha ganho um enorme significado.

O MERCADO não funciona e portanto não regula. O que funciona, e à grande, é a especulação. E nas mãos dos especuladores, os destinos de países e de povos parecem barquinhos de papel lançados ao mar no Cabo das Tormentas.

À crise provocada pela delinquência financeira segue-se a crise provocada pelos especuladores. Ninguém o quer reconhecer mas o que está verdadeiramente em crise é o capitalismo. Depois de enterrar de vez toda e qualquer preocupação de índole social, depois de arrasar conquistas sociais históricas, o capitalismo submerge numa imensa crise porque não consegue satisfazer todos os patamares de ganância sem que ele próprio se afunde.

Há poucos meses, dos "capitalistas selvagens" aos "socialistas modernos" - que dificilmente se distinguem dos capitalistas do século XIX - todos diziam que nada voltaria a ser como dantes em matéria de direitos sociais ou seja, de direitos humanos de âmbito social: Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; todos têm direito ao trabalho, à protecção contra o desemprego, a remuneração justa e satisfatória, ao repouso e ao lazer, a um padrão de vida capaz de assegurar a saúde e bem-estar. Mas agora ninguém se entende porque os vencedores dessa guerra contra direitos humanos não conseguem chegar a acordo quanto à partilha do saque. O "capitalismo selvagem" passou os limites da selvajaria.

E depois as receitas são sempre as mesmas, sejam quais forem os agentes ou as causas das crises: espremem-se mais um pouco os que vivem do trabalho assalariado. Nunca como hoje se percebe tão bem o que queria dizer Almeida Garrett ao falar do número de pobres necessário para fazer um rico.
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«DE» de 29 Abr 10