terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O meu nome numa estrela…

.
Por Nuno Crato

VLADIMIR NABOKOV, o genial escritor de que aqui falámos na semana passada, escreveu um poema em que descrevia o seu trabalho de entomólogo, mais precisamente, de estudioso de borboletas. Orgulhava-se de se ter tornado «padrinho de um insecto», depois de o ter descoberto e descrito pela primeira vez, e concluía: «não quero outra fama».

Um grupo de jovens da Escola Secundária de Alvide, Cascais, acaba de descobrir um asteróide, que recebeu a designação 2011 BG16 e que terá um nome português. Não querem outra fama!
A descoberta é motivo de orgulho para eles. E para todos nós. Constituem um dos grupos de 20 escolas portuguesas que participaram nas últimas campanhas da Colaboração Internacional para a Procura de Asteróides, um programa de ensino e de divulgação científica que tem atraído estudantes de todo o mundo. O programa, coordenado em Portugal pela professora Ana Costa e dinamizado pelo NUCLIO, Núcleo Interactivo de Astronomia, consiste no estudo de imagens obtidas por vários telescópios para detecção visual de asteróides e posterior determinação das suas órbitas.

São pequenos pontos luminosos que aparecem disfarçados entre miríades de outros pontos luminosos e que apenas se destacam como planetas menores, cometas, ou asteróides por se deslocarem lentamente, noite após noite, contra o fundo estelar. É assim que se percebeu que havia no céu astros diferentes das chamadas «estrelas fixas» e foi por isso que os Gregos chamaram planetas, isto é, passeantes, a Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno. Chamaram também planetas à Lua e ao Sol, pois também esses mudam de posição contra o fundo das estrelas. A designação demorou a mudar. Quando Camões falava do «Planeta que no céu primeiro/ Habita» (Lusíadas, V 24), referia-se à Lua; e quando falava do «lúcido Planeta/ Que as horas do dia vai distinguindo» (II 1), referia-se ao Sol. Um século depois, com a revolução astronómica, percebeu-se que a Lua era nosso satélite e que a Terra orbitava o Sol. O termo «planeta» mudou de acepção.

Úrano e Neptuno foram descobertos mais tarde, já com telescópios potentes. O mesmo se passou com os primeiros asteróides a serem conhecidos. Mas foi com a fotografia que se passou a poder pesquisar sistematicamente o céu à procura de astros mais pequenos ou mais distantes, demasiadamente pálidos para se acompanharem visualmente. Plutão foi descoberto em 1930 graças à persistência de um jovem norte-americano chamado Clyde Tombaugh, que passou anos à volta de fotografias do céu procurando verificar quais os pontos luminosos que mudavam de posição.

Com a fotografia digital e a internet abriram-se novas possibilidades. As fotografias tiradas por um telescópio no Chile podem ser vistas por estudantes em Tóquio e as imagens obtidas na Austrália podem ser esquadrinhadas por estudantes em Cascais. São olhos vivazes de jovens ocupados nesta procura internacional.

É uma ajuda para a astronomia, por modesta que seja, e é, sobretudo, uma ajuda aos jovens. Participando num esforço científico internacional, aprendem. Alguns aprendem muito. Agora que tiveram sucesso na descoberta de um pequeno asteróide até à data desconhecido, Carlos Martins, Karan Manghnani, Rafaela Silva, Rúben Costa e Rui Pimenta estão muito contentes. Nós também.

Nota: esta é a minha última crónica “Passeio Aleatório”. Foram 351 passeios ao longo de dez anos, e terminam com uma boa notícia! Regresso em 5 de Março com “Números e Letras”. Até breve!
N.C.
-
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 19 Fev 11