sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

As teleconfissões

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Por Antunes Ferreira

O BLOGUE dn.notícias.pt do Funchal publicou na sua edição de quinta-feira um curioso comentário do jornalista João Filipe Pestana. O interesse que tem, na minha modesta opinião, leva-me a transcrevê-lo com os agradecimentos devidos ao autor e ao jornal mais do que centenário da Madeira.

O teme é quente. Como poderão ler de seguida é o caso das confissões telefonadas. Estou já a descortinar os sorrisos entre o condescendente e o lamento, bem a ouvir os comentários daqueles que ainda me conseguem ler. “Pobrezinho. O homem ensandeceu, pifou, está nas mãos dos psiquiatras. Confissões telefonadas é o que não falta, a toda a hora, minuto e segundo… Segredos, amores, dinheiros, compadrios, cuidado com as escutas. Era tão bom rapaz e, afinal…”

Alto lá; compreendo a perplexidade de leitores, mas não estou completamente passado. Refiro-me às confissões católicas, obviamente nos confessionários eclesiásticos, à atenção do padre confessor que é o fiel depositário das penitências a atribuir ao pecador confesso. Penas sem direito a recurso, aliás. Creio que me expliquei. Vamos, portanto, à transcrição.

«Confession: A Roman Catholic App'. Memorize o nome desta aplicação para o iPhone. Mas, já agora, é católico(a)? Então, esqueça este nome. E rápido. É isto que exige o Vaticano a todos os fiéis que têm um iPhone, proibindo-os de descarregarem este 'software' criado em parceria com a Igreja Católica dos EUA com a intenção de ajudar pessoas a 'recuperar' a fé, ou seja, permitindo uma espécie de confissão virtual.
Tal como a FIFA, sempre avessa às novas tecnologias quando não lhe convém, o Vaticano disse, por intermédio de Frederico Lombardi, que 'Confession: A Roman Catholic' "não serve como substituto para a absolvição dos pecados por um sacerdote, como há séculos é feito".
Curiosamente, lá foi reconhecendo, no passado, que era comum que os católicos se preparassem para a confissão escrevendo os pecados e os pensamentos em papel e que é natural, na era digital, que eles sejam substituídos por recursos de informática, como esta aplicação.
Será que a Igreja teme um esvaziamento ainda maior dos templos ou será que dá jeito continuar a saber os pecados da aldeia?
A título de curiosidade, esta aplicação plena de fé digital - e que é paga - permite ao utilizador fazer um exame de consciência tendo em conta factores como idade, sexo e estado civil. E pode fazê-lo sem se ajoelhar...
Aliás, o iPhone e o iPad estão cada vez mais carregadinhos de aplicações para fiéis, basta ter uns euros ou dólares para investir. É que isto de ter fé não é para gente pobre... de espírito».

Feito o registo, pouco me resta acrescentar face à qualidade do escrito, que é excelente. Plenamente de acordo com o confrade João Filipe Pestana, só me permito aditar umas quantas linhas.

A primeira é um aviso e uma advertência: Pestana, cuidado, as excomunhões, por muito menos do que escreves, continuam em vigor, em perfeito estado de conservação e de aplicação; e um excomungado sabe-se lá por que terá de passar para ser readmitido no rebanho fidelíssimo. Missão muito difícil, portanto.

A segunda abarca o universo das Comunicações e, em especial, o das tele. Uma absolvição, após a remissão dos pecados, quaisquer que sejam eles, não pode, diz o Vaticano, ser dada por via telefónica, por mais sofisticada que ela seja. A confissão é um dos sete sacramentos, que tem de ser presencial, e dada por pessoas habilitadas e qualificadas para o fazer, ou seja, os curas. Mesmo apesar da cada vez maior falta de vocações sacerdotais.