NÃO SENDO DO PSD, deveria ter ficado indiferente às eleições internas para a chefia do partido, mas visto considerar que, em democracia, é bom dispor-se de uma oposição forte, prefiro que o lugar tenha ido para Manuela Ferreira Leite do que para qualquer dos rivais. Notei que não se discutiu o seu sexo – supostamente uma deficiência – mas sim a sua idade, a qual, em sociedades que valorizam a juventude, é vista com um obstáculo. Sabem quantos anos tinha Churchill quando entrou para o governo que levou à vitória dos Aliados? 65!
Deixo de lado esta questão, para me concentrar no facto de Ferreira Leite ser a primeira mulher eleita presidente de um partido em Portugal. Durante décadas, as mulheres que ascendiam ao topo da vida política – Maria Luísa van Zeller ou Maria de Lourdes Pintassilgo – ou da carreira universitária – Virgínia Rau ou Isabel Magalhães Colaço – eram obrigatoriamente feias e supostamente virgens. As coisas mudaram.
A imagem da nova Ministra da Defesa em Espanha, com uma barriga de sete meses revistando as tropas, mostra quão longe estamos do que se passava ainda há pouco tempo. E, apesar de não possuir traços da beleza clássica (note-se a assimetria dos seus traços fisionómicos) Manuela Ferreira Leite usa os mais bonitos colares da classe política europeia. Em suma, nada que a aproxime das mulheres da anterior geração.
Ao longo da campanha, declarou que nunca falaria da sua vida pessoal – na minha opinião uma decisão contestável – mas acabou por o fazer, ao comunicar que, na eventualidade de a sua filha, a viver em Londres, dar à luz, preferiria estar junto dela do que entre os seus correligionários, no dia do encerramento da campanha partidária. Poderia ser um truque de marketing – certamente que os seus conselheiros de imagem deliraram – mas há qualquer coisa que me faz pensar ter sido uma opção genuína. Porque eu teria feito o mesmo. O que me suscita uma pergunta: qual o motivo por que o problema nunca se levanta quando os candidatos são homens? Há dias em que me convenço que as mulheres são diferentes. E, claro, melhores.
Junho de 2008