terça-feira, 8 de setembro de 2009

«Dito & Feito»


Por José António Lima

JOSÉ SÓCRATES ACUSA, com razão, o PSD de estar «hoje muito à direita, talvez como nunca esteve na sua história». Mas se é verdade que Manuela Ferreira Leite enquistou o PSD num discurso de cariz autoritário e redutoramente conservador, insistindo, em tom catastrofista e passadista, que se «diluíram os pilares da sociedade, como a família e o casamento», não é menos verdade que Sócrates radicalizou a mensagem do PS à esquerda. Teimando em fazer de temas fracturantes e minoritários, como a equiparação das uniões de facto ao casamento ou os direitos dos homossexuais, suas bandeiras de campanha.

Sócrates ficou muito alarmado com o que perdeu à esquerda, nas eleições de Junho, com os 21,4% que o BE e o PCP somaram, não percebendo que o PS deixou fugir a grande maioria dos seus apoiantes (mais de 400 mil votos) para o eleitorado central (abstenção mais brancos e nulos) e para o centro- direita?

Ferreira Leite não terá reparado que os seus escassos 31,7% de Junho indicam que não é ao CDS que o PSD pode e deve ir captar votos, mas à vasta faixa de eleitorado de centro e centro-esquerda que deu, no passado, as vitórias a Cavaco?

Os líderes do PS e do PSD menosprezam o centro eleitoral: eis mais um fenómeno difícil de explicar nesta campanha legislativa que assinala o fim da maioria absoluta.

Em tão ingrata conjuntura político-eleitoral, Sócrates ainda sofreu o revés de ver Pina Moura, seu influente ex-conselheiro, a elogiar o programa eleitoral do PSD como «clarificador» e «mais duro e mais focado» do que o do PS. Mais um desgosto...

O que vale a Sócrates, em contrapartida, é que a sua mandatária para a juventude, Carolina Patrocínio, veio tranquilizar o país quanto à evolução da crise e do desemprego: «Portugal foi objectivamente dos primeiros países a sair da recessão técnica e isto assinala o início da retoma económica». Com tão conceituada e reconhecida autoridade em ciência político-financeira a garantir o oásis português, Sócrates pode dormir descansado. E continuar a fazer inaugurações todos os dias: de túneis que não abriram, de fábricas que não arrancaram, de projectos de obras que ainda nem começaram. Como diz a sua especialista em finanças, Carolina Patrocínio: «Odeio perder. Prefiro fazer batota a ter de perder». Sigam, pois, as inaugurações virtuais.

Ah! e também a limpeza de jornalistas incómodos e não alinhados com o poder socialista, como Manuela Moura Guedes. Ainda que tamanha desfaçatez e tanta batota possam tornar-se eleitoralmente contraproducentes.

«SOL» de 4 de Setembro de 2009