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Por Antunes Ferreira
QUÉ VIVA ESPANHA! – canta no CD que toca no meu carro Maribel Estrada, uma jovem intérprete não muito badalada no país vizinho, mas cuja voz tem uma frescura e uma sonoridade magníficas. Chamasse-se ela Iglesias ou Flores e outro galo cantaria, passe a comparação espúria.
Estou em Badajoz, onde vim uma vez mais à Universidad de Extremadura. Acontece que sou o que aqui se chama Profesor Invitado del Grado de Comunicación Audiovisual e por isso, venho algumas vezes por ano para leccionar em Cursillos de Comunicación. Não sei por que bulas, talvez mesmo porque falo e escrevo medianamente bem o Castellano. Mais do que isso, nada adianto. Favores.
Por estas bandas a crise ainda não começou a abrandar. Os desempregados continuam a aumentar. Ontem, o El País publicava a quatro colunas da primeira página uma parangona péssima: Agosto se cierra com 84.985 parados más. El repunte del paro complica el inicio del curso político a Zapatero.
O desemprego registado (como aquí se diz) atinge 3.629.080 cidadãos. E os desempregados sin cobertura estatal eram 1.040.214 em Julho deste ano. De degrau em degrau, o Governo é obrigado a a ampliar a ajuda de 420 euros - já em vigor - durante mais um semestre, a outros 255.000 desempregados pelo menos até 1 de Janeiro. Zapatero chegou a um acordo com todos os partidos da esquerda parlamentar e mesmo sem representantes nas Cortes.
O PP ficou de fora, não quis entrar nas negociações. Mariano Rajoy, na rentré, minimizou a corrupção com que o partido se debate, pois vários dos seus membros foram acusados dela e afirmou que não havia condenados no PP. El País – que, como é sabido, não tem nenhuma inclinação para a direita, acrescenta à declaração do líder que «há uma dezena de sentenças, mas o PP que se trata de ‘casos antigos’.»
Deito uma vista de olhos pelos jornais e pelas informações televisivas. Ontem, à noite, através dos canais portugueses tomei conhecimento do estranho (?) caso ocorrido na TVI. Dos ataques das oposições ao que consideraram uma intervenção governamental, do PS ou do próprio Sócrates a originar a suspensão do famigerado Jornal Nacional de Sexta e da confusão daí resultante, até ao desmentido do primeiro-ministro foi uma verdadeira girândola. Com tudo fiquei muito preocupado, a liberdade é a liberdade, censura – nunca mais. E suspeitoso. Excepto com a saída da Manuela Moura Guedes. Já não era sem tempo.
Por aqui, «la cosa» é referida como um atentado à liberdade de informação, quiçá por parte do Executivo português, mas a declaração de um porta-voz da Prisa de que as medidas tinham sido tomadas pela direcção lisboeta e pelo administrador-delegado foi mais destacada. Madrid remete, pois, para Lisboa. Será que Lisboa remeterá para Madrid? Pudera, não. Para o maior grupo espanhol da comunicação social já chegam e sobejam os imensos problemas com que se debate, nomeadamente a nível económico e financeiro. A maldita crise.
Estou já de saída, porque o que me trouxe a Espanha está no bom caminho. O que se vai tornando cada vez mais raro, mas, no caso, felizmente é assim. E quando as preocupações são muitas e enormes, mais satisfeito estou com o que se passa comigo, neste particular.
Sobretudo quando de um lado chove e do outro faz vento, embora ainda estejamos no Verão. E, cada vez mais, entendo os que defendem o iberismo. Entre os quais me situo. As desgraças são comuns, a má-língua é comum, a corrupção é comum, as atitudes perante este rol é comum.
Tudo visto, quem devia ter sido considerado traidor era o João Pinto Ribeiro. O pobre e defenestrado Miguel de Vasconcelos devia, ele sim, ter estátuas a sério espalhadas aí. Neste particular (como noutros) alinho com o Saramago. O que não falta são os Cains.
Por Antunes Ferreira
QUÉ VIVA ESPANHA! – canta no CD que toca no meu carro Maribel Estrada, uma jovem intérprete não muito badalada no país vizinho, mas cuja voz tem uma frescura e uma sonoridade magníficas. Chamasse-se ela Iglesias ou Flores e outro galo cantaria, passe a comparação espúria.
Estou em Badajoz, onde vim uma vez mais à Universidad de Extremadura. Acontece que sou o que aqui se chama Profesor Invitado del Grado de Comunicación Audiovisual e por isso, venho algumas vezes por ano para leccionar em Cursillos de Comunicación. Não sei por que bulas, talvez mesmo porque falo e escrevo medianamente bem o Castellano. Mais do que isso, nada adianto. Favores.
Por estas bandas a crise ainda não começou a abrandar. Os desempregados continuam a aumentar. Ontem, o El País publicava a quatro colunas da primeira página uma parangona péssima: Agosto se cierra com 84.985 parados más. El repunte del paro complica el inicio del curso político a Zapatero.
O desemprego registado (como aquí se diz) atinge 3.629.080 cidadãos. E os desempregados sin cobertura estatal eram 1.040.214 em Julho deste ano. De degrau em degrau, o Governo é obrigado a a ampliar a ajuda de 420 euros - já em vigor - durante mais um semestre, a outros 255.000 desempregados pelo menos até 1 de Janeiro. Zapatero chegou a um acordo com todos os partidos da esquerda parlamentar e mesmo sem representantes nas Cortes.
O PP ficou de fora, não quis entrar nas negociações. Mariano Rajoy, na rentré, minimizou a corrupção com que o partido se debate, pois vários dos seus membros foram acusados dela e afirmou que não havia condenados no PP. El País – que, como é sabido, não tem nenhuma inclinação para a direita, acrescenta à declaração do líder que «há uma dezena de sentenças, mas o PP que se trata de ‘casos antigos’.»
Deito uma vista de olhos pelos jornais e pelas informações televisivas. Ontem, à noite, através dos canais portugueses tomei conhecimento do estranho (?) caso ocorrido na TVI. Dos ataques das oposições ao que consideraram uma intervenção governamental, do PS ou do próprio Sócrates a originar a suspensão do famigerado Jornal Nacional de Sexta e da confusão daí resultante, até ao desmentido do primeiro-ministro foi uma verdadeira girândola. Com tudo fiquei muito preocupado, a liberdade é a liberdade, censura – nunca mais. E suspeitoso. Excepto com a saída da Manuela Moura Guedes. Já não era sem tempo.
Por aqui, «la cosa» é referida como um atentado à liberdade de informação, quiçá por parte do Executivo português, mas a declaração de um porta-voz da Prisa de que as medidas tinham sido tomadas pela direcção lisboeta e pelo administrador-delegado foi mais destacada. Madrid remete, pois, para Lisboa. Será que Lisboa remeterá para Madrid? Pudera, não. Para o maior grupo espanhol da comunicação social já chegam e sobejam os imensos problemas com que se debate, nomeadamente a nível económico e financeiro. A maldita crise.
Estou já de saída, porque o que me trouxe a Espanha está no bom caminho. O que se vai tornando cada vez mais raro, mas, no caso, felizmente é assim. E quando as preocupações são muitas e enormes, mais satisfeito estou com o que se passa comigo, neste particular.
Sobretudo quando de um lado chove e do outro faz vento, embora ainda estejamos no Verão. E, cada vez mais, entendo os que defendem o iberismo. Entre os quais me situo. As desgraças são comuns, a má-língua é comum, a corrupção é comum, as atitudes perante este rol é comum.
Tudo visto, quem devia ter sido considerado traidor era o João Pinto Ribeiro. O pobre e defenestrado Miguel de Vasconcelos devia, ele sim, ter estátuas a sério espalhadas aí. Neste particular (como noutros) alinho com o Saramago. O que não falta são os Cains.