domingo, 11 de abril de 2010

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

PASSOS COELHO,
que este fim-de-semana recebe a consagração como líder no Congresso do PSD, terá o seu primeiro ano de liderança marcado por dois factos políticos: as eleições presidenciais de Janeiro e o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) que Portugal apresentou a Bruxelas.

As presidenciais, com a provável vitória de Cavaco Silva, ainda que numa reeleição bem mais disputada do que Mário Soares ou Jorge Sampaio tiveram de enfrentar, darão ao PSD e ao seu líder um momento de sucesso e uma boa embalagem partidária para o ano politicamente conturbado que se prevê venha a ser o de 2011. E o PEC, apesar de tudo o que o novo presidente do PSD tem dito dele, é uma espécie de sorte grande política que saiu na taluda a Passos Coelho. Ainda por cima, no melhor momento para as suas aspirações.

Por duas razões óbvias. Por um lado, porque a aplicação do PEC – com o seu cortejo de maior carga fiscal, cortes nas despesas sociais, restrições no regime de pensões e atrofiamento do investimento público – será um permanente exercício de impopularidade e de desgaste para José Sócrates e o Governo PS.

Por outro lado, porque o PEC contém, no essencial, muitas das medidas programáticas – difíceis de levar à prática e geradoras de contestação social – que Passos Coelho se propõe aplicar quando chegar ao Governo.

Como pode Passos Coelho garantir que não vai «alterar a posição em relação ao PEC» se este implica obrigar Sócrates a fazer a mão cheia de privatizações que ele, Passos Coelho, se dispunha a executar? A aplicar reduções no subsídio de desemprego e nas subvenções sociais que ele iria propugnar? A congelar vencimentos e entradas de trabalhadores na Função Pública que ele diz defender? A aumentar, aberta ou encapotadamente, impostos como ele, provavelmente, se veria forçado a fazer?

Que melhor cenário poderia desejar do que ver Sócrates a cada dia mais exangue e o PS a cada mês mais desacreditado com a aplicação de uma política e de um programa que, no fundo, são os que ele próprio iria pôr em execução? O PEC é o prémio grande da lotaria que, em 2010, calhou em sorte a Passos Coelho. A cobrar em 2011.

«SOL» de 9 Abr 10