Por José António Lima
EM MENOS DE DOIS MESES, Passos Coelho alterou significativamente o seu discurso sobre a necessidade de substituir com a maior rapidez o Governo de José Sócrates e a eventualidade de eleições antecipadas. Se, a meio de Fevereiro e em plena campanha para a liderança do PSD, afirmava sem rodeios que «é preferível termos eleições, é preferível enfrentar uma crise política do que estar todos os dias em permanente crise política», já no final de Março, no discurso de vitória nas directas do PSD, refreava a sua ânsia e garantia que os sociais-democratas «estão disponíveis para ajudar o Governo a ultrapassar as dificuldades em que o país se encontra».
E, ao terminar agora o Congresso da consagração em Carcavelos, a mensagem de Passos Coelho já mudara quase 180 graus: «Não há pressa para chegar ao Governo. Não estou à espera de uma primeira oportunidade para deitar o Governo abaixo e provocar eleições». A posição de liderança, como se percebe, abre outras perspectivas sobre os problemas e uma nova visão sobre o mundo.
Passos Coelho pode não ter ainda afinado uma alternativa programática com pés e cabeça, com propostas concretas e clarificadoras, limitando-se a lançar sugestões rebuscadas, como a do Conselho Superior da República para examinar as nomeações políticas, ou a avançar com matérias estratosféricas para a generalidade dos portugueses, como a de uma urgentíssima revisão constitucional. Mas ganhou já reforçada sensibilidade a vozes como a do Presidente Cavaco Silva, que não se cansa de defender a «estabilidade política para enfrentar os problemas económicos e sociais do país», a conselhos como o do banqueiro Ricardo Salgado, quando avisa que «não é o momento de estarmos novamente com eleições», ou à preocupante imagem de Portugal nos palcos europeus e nos mercados internacionais.
O novo líder do PSD está, pois, mais sensível às exigências do cargo que agora ocupa. E daquele que pretende vir a ocupar. Para lá chegar – com a crise que o país atravessa, o desgaste crescente que a aplicação do PEC irá provocar no Governo e a imagem cada vez mais debilitada de Sócrates – só tem que esperar sentado. E não se mexer muito. Para não cometer disparates políticos irreparáveis. Porque é esse o seu maior risco até chegar a S. Bento. Não já em 2010, como entretanto percebeu. Talvez no final de 2011.
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«SOL» de 16 Abr 10
EM MENOS DE DOIS MESES, Passos Coelho alterou significativamente o seu discurso sobre a necessidade de substituir com a maior rapidez o Governo de José Sócrates e a eventualidade de eleições antecipadas. Se, a meio de Fevereiro e em plena campanha para a liderança do PSD, afirmava sem rodeios que «é preferível termos eleições, é preferível enfrentar uma crise política do que estar todos os dias em permanente crise política», já no final de Março, no discurso de vitória nas directas do PSD, refreava a sua ânsia e garantia que os sociais-democratas «estão disponíveis para ajudar o Governo a ultrapassar as dificuldades em que o país se encontra».
E, ao terminar agora o Congresso da consagração em Carcavelos, a mensagem de Passos Coelho já mudara quase 180 graus: «Não há pressa para chegar ao Governo. Não estou à espera de uma primeira oportunidade para deitar o Governo abaixo e provocar eleições». A posição de liderança, como se percebe, abre outras perspectivas sobre os problemas e uma nova visão sobre o mundo.
Passos Coelho pode não ter ainda afinado uma alternativa programática com pés e cabeça, com propostas concretas e clarificadoras, limitando-se a lançar sugestões rebuscadas, como a do Conselho Superior da República para examinar as nomeações políticas, ou a avançar com matérias estratosféricas para a generalidade dos portugueses, como a de uma urgentíssima revisão constitucional. Mas ganhou já reforçada sensibilidade a vozes como a do Presidente Cavaco Silva, que não se cansa de defender a «estabilidade política para enfrentar os problemas económicos e sociais do país», a conselhos como o do banqueiro Ricardo Salgado, quando avisa que «não é o momento de estarmos novamente com eleições», ou à preocupante imagem de Portugal nos palcos europeus e nos mercados internacionais.
O novo líder do PSD está, pois, mais sensível às exigências do cargo que agora ocupa. E daquele que pretende vir a ocupar. Para lá chegar – com a crise que o país atravessa, o desgaste crescente que a aplicação do PEC irá provocar no Governo e a imagem cada vez mais debilitada de Sócrates – só tem que esperar sentado. E não se mexer muito. Para não cometer disparates políticos irreparáveis. Porque é esse o seu maior risco até chegar a S. Bento. Não já em 2010, como entretanto percebeu. Talvez no final de 2011.
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«SOL» de 16 Abr 10