Por João Duque
NUMA DAS MAIS distintas reuniões de homens de finanças que recentemente decorreu em Lisboa, numa fina rua da Baixa, ouvi duras críticas aos CDSs (‘Credit Default Swap’), a principal das quais residia na sua aparente falta de utilidade social, sendo acusados de não passarem de um puro jogo que pode ter implicações catastróficas dentro de anos.
Assemelham-se, acusava-se, a um simples jogo de apostas. Mais, a venda de CDS a descoberto, propunha o denunciante, deveria ser proibida, uma vez que não se via a utilidade social desse instrumento financeiro.
Concordo em absoluto que alguns agentes entrem no mercado dos CDS como entram no casino. Mas infelizmente muitos investidores entram assim em qualquer mercado. Entram a especular em acções, obrigações (as Gregas agora estão divinas para ‘betting'...), petróleo, matérias-primas ou o que quer que seja, sem noção dos riscos incorridos. A meu ver o problema dos derivados não está na coisa, mas no seu uso. Eles são como o veneno ou as armas. Podem dizer que uma arma é um instrumento terrível que pode matar infelizes inocentes, e é bem verdade. Podem achar que o veneno é abjecto porque com ele se eliminam seres vivos indefesos porque mortos à traição. É verdade. Mas será que temos a mesma opinião se estivermos na selva ou se formos atacados na nossa casa por malfeitores? Ou será que não queremos tomar cicuta na medida certa para matar uma moléstia ou um parasita que nos suga e mata?
O problema não está no instrumento ou no seu uso em abstracto. O problema é o uso por inadvertidos ou desavisados e o fim para o qual é usado.
Os derivados foram vistos muitas vezes como jogo de apostas, a ponto da lei alemã considerar, durante anos, a lei do jogo, como enquadramento legal para as opções. Mas não são jogo. Melhor, até podem ser, mas o seu uso social reside numa forma sofisticada de transferir riscos entre agentes económicos. De uns, que os não querem deter, para outros que se dispõem a assumi-los. Os CDS podem ser úteis ao permitirem que agentes económicos subscrevam com facilidade as emissões gregas que estes, desesperadamente, necessitam de emitir. Se um agente comprar dívida grega e não desejar ficar com o risco de crédito dessa dívida, pode passá-lo a terceiros que o querem acomodar. Estes não são loucos.
Apenas não acreditam na possibilidade dos gregos virem a falir às mãos do mercado internacional e com a União Europeia a voltar-lhes as costas. Mesmo para quem não tem dívida grega, mas quer transformar outra dívida em dívida grega pode comprar ou vender CDS sobre ela e assim alterar a composição das suas carteiras sem a necessidade de se desfazer do que tem para comprar o que quer ter. Tendo em conta a iliquidez do mercado de dívida, esta é a forma certa de o fazerem.
Qual o mal de especular num activo se essa é a forma de encontrar contrapartes para o risco que outros não querem e desde que feito de modo consciente?
Talvez nem todos o possam fazer, talvez a banca comercial, mas como dizia o meu pai: "Nem tudo se diz a todos nem a todos se diz tudo, nem tudo é para todos nem para todos é tudo..."
«DE» de 8 de Abr 10
NUMA DAS MAIS distintas reuniões de homens de finanças que recentemente decorreu em Lisboa, numa fina rua da Baixa, ouvi duras críticas aos CDSs (‘Credit Default Swap’), a principal das quais residia na sua aparente falta de utilidade social, sendo acusados de não passarem de um puro jogo que pode ter implicações catastróficas dentro de anos.
Assemelham-se, acusava-se, a um simples jogo de apostas. Mais, a venda de CDS a descoberto, propunha o denunciante, deveria ser proibida, uma vez que não se via a utilidade social desse instrumento financeiro.
Concordo em absoluto que alguns agentes entrem no mercado dos CDS como entram no casino. Mas infelizmente muitos investidores entram assim em qualquer mercado. Entram a especular em acções, obrigações (as Gregas agora estão divinas para ‘betting'...), petróleo, matérias-primas ou o que quer que seja, sem noção dos riscos incorridos. A meu ver o problema dos derivados não está na coisa, mas no seu uso. Eles são como o veneno ou as armas. Podem dizer que uma arma é um instrumento terrível que pode matar infelizes inocentes, e é bem verdade. Podem achar que o veneno é abjecto porque com ele se eliminam seres vivos indefesos porque mortos à traição. É verdade. Mas será que temos a mesma opinião se estivermos na selva ou se formos atacados na nossa casa por malfeitores? Ou será que não queremos tomar cicuta na medida certa para matar uma moléstia ou um parasita que nos suga e mata?
O problema não está no instrumento ou no seu uso em abstracto. O problema é o uso por inadvertidos ou desavisados e o fim para o qual é usado.
Os derivados foram vistos muitas vezes como jogo de apostas, a ponto da lei alemã considerar, durante anos, a lei do jogo, como enquadramento legal para as opções. Mas não são jogo. Melhor, até podem ser, mas o seu uso social reside numa forma sofisticada de transferir riscos entre agentes económicos. De uns, que os não querem deter, para outros que se dispõem a assumi-los. Os CDS podem ser úteis ao permitirem que agentes económicos subscrevam com facilidade as emissões gregas que estes, desesperadamente, necessitam de emitir. Se um agente comprar dívida grega e não desejar ficar com o risco de crédito dessa dívida, pode passá-lo a terceiros que o querem acomodar. Estes não são loucos.
Apenas não acreditam na possibilidade dos gregos virem a falir às mãos do mercado internacional e com a União Europeia a voltar-lhes as costas. Mesmo para quem não tem dívida grega, mas quer transformar outra dívida em dívida grega pode comprar ou vender CDS sobre ela e assim alterar a composição das suas carteiras sem a necessidade de se desfazer do que tem para comprar o que quer ter. Tendo em conta a iliquidez do mercado de dívida, esta é a forma certa de o fazerem.
Qual o mal de especular num activo se essa é a forma de encontrar contrapartes para o risco que outros não querem e desde que feito de modo consciente?
Talvez nem todos o possam fazer, talvez a banca comercial, mas como dizia o meu pai: "Nem tudo se diz a todos nem a todos se diz tudo, nem tudo é para todos nem para todos é tudo..."
«DE» de 8 de Abr 10