quarta-feira, 7 de abril de 2010

Poder

Por João Paulo Guerra

PS e PSD deveriam seguir em relação a si próprios a lógica que defendem e praticam no que diz respeito a serviços públicos: não sendo rentáveis, deveriam fechar.

NÃO SE COMPREENDE
que PS e PSD sigam uma tal lógica em relação a serviços de saúde e escolas e que depois acusem défices e dívidas, em parte sustentadas por subsídios públicos, e mantenham os balcões em funcionamento para angariar novos clientes e satisfazer novas freguesias e empreitadas, mesmo que em situação deficitária e endividada.

Acontece ainda, para além da situação deficitária dos partidos que se apropriaram da democracia em Portugal, que o financiamento dos partidos do "centrão" é um mistério no qual apenas é possível vislumbrar com alguma clareza as parcelas de persistentes irregularidades. Mas como os infractores reincidentes são em simultâneo os legisladores usuais, as penas para as infracções têm a leveza e a consistência de penas de aves: são leves e proporcionam impermeabilidade.

Regularmente, os portugueses são confrontados com os relatórios da Entidade das Contas e Financiamento dos Partidos: um estendal dos vícios privados da democracia pública. Os partidos, que se arrogam o monopólio da representação popular na Assembleia da República, não cumprem as leis.

Mas quando têm na mão a palmatória do poder, vá de zurzir os cidadãos incumpridores com todo o vigor e arbítrio. O papel exemplar fica no tinteiro que, como se sabe, é instrumento que já não se usa. E a lei das leis continua a ser a lei da excepção à regra: façam o que os partidos dizem, não o que eles fazem. E o cidadão bem pode interrogar-se: mas porque é que os partidos se colocam acima da legalidade e não cumprem as leis que eles próprios fazem e aprovam? Reposta simples: porque podem.
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«DE» de 7 Mar 10