terça-feira, 20 de abril de 2010

Prejuízos

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Por João Paulo Guerra

Volta e meia, com uma regularidade de relógio, uma frequência de metrónomo e uma pertinácia de santo, chegam com espalhafato à opinião pública os imensos “prejuízos” da saúde e dos hospitais.

NÃO ME RECORDO de ler notícias sobre os prejuízos das polícias, do sistema prisional, da tropa, da representação política, do funcionamento e protocolo do Estado. Mas a saúde, a propósito ou a despropósito, lá vem de vez em quando com os seus milhões de "prejuízo" à mostra. É assim como os "prejuízos" da reinserção social ou do fundo do desemprego. Não sei se é para criar remorsos aos doentes de tanto pesarem no Orçamento e, por conseguinte, no bolso dos contribuintes se é alguma novidade em matéria de tratamento de choque para redimir os doentes através da assumpção das suas culpas no cartório do défice.

Ou então se tudo isto não é mais que uma espécie de champô para lavar os cérebros dos cidadãos de maneira a que se convençam da premência de substituir a saúde pública pela privada, livrando o Orçamento de umas pesada canga e o país de um défice crónico. Porque uma coisa é certa: no dia em que fosse privatizada, a saúde tornava-se uma actividade proveitosa e os hospitais tiravam de imediato vantagens do tratamento dos doentes.

As fontes de todas estas notícias são variadíssimas: vão de inesperados estudos, passam por inopinadas declarações de responsáveis ou especialistas e culminam em imprevistas revelações de dados por parte das próprias entidades da saúde pública. Já não são tão transparentes os critérios da actualidade e oportunidade de tais notícias. Aparecem como que caídas do Céu. Ou largadas de pára-quedas pelo planeamento de uma ou outra agência de comunicação. E aparecem porquê? Porque o cliente tem sempre razão.
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«DE» de 20 Abr 10