quinta-feira, 8 de abril de 2010

Túneis

Por João Paulo Guerra

Um estudo do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, divulgado ontem pelo diário i, revela que o Túnel do Marquês é o lugar mais poluído de Portugal.

OU SEJA: apesar de todos os alertas e de todas as delongas, não foram avaliados todos os impactos ambientais da construção e funcionamento da obra faraónica do "santanismo". E vá lá que Lisboa se livrou nas autárquicas do ano passado de novos projectos megalómanos de outros túneis, porque a saúde de uma cidade e da sua população não se conforma com aventuras e negócios de responsabilidade limitada.

De acordo com o estudo do ISEL, os níveis de poluição no interior do Túnel do Marquês são dez vezes superiores ao limite legal. E não se pense ou se diga que este é um problema de todas as passagens subterrâneas com as quais as cidades modernas procuram desanuviar a superfície. Dizem os autores do estudo em apreço que a poluição é agravada no Túnel do Marquês por características específicas da obra, designadamente a demasiada extensão e o acentuado declive. Ou seja, quem imaginou o túnel não sabia o que estava a fazer, ou então sabia o que é ainda mais grave.

Portugal de todos os governos, nacionais e locais, de todas as cores e mesclas, é destas modas. Com muito bons argumentos substituíram-se os cruzamentos por rotundas, até que as rotundas se transformaram numa praga que se justifica a si própria: fazem-se rotundas porque sim. E túneis idem, idem, aspas, aspas.

E é assim. Ao Portugal Amordaçado, dos tempos do obscurantismo, segue-se o Portugal Esburacado dos tempos desta democracia em que o povo vota em partidos e elege mestres-de-obras. Com a agravante de que há muito mais obras que mestres. Os resultados respiram-se no Túnel do Marquês e entram rapidamente na corrente sanguínea.

«DE» de 8 Abr 10

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