quarta-feira, 28 de abril de 2010

Garzón

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João Paulo Guerra

O JUIZ BALTAZAR Garzón enfrenta em Espanha uma perseguição miserável.

É o revanchismo por parte dos derrotados da História, os adeptos mais ou menos disfarçados de turvas ditaduras. Toda a sua vida profissional, Garzón foi um homem de grande coragem que enfrentou poderes ocultos, cumplicidades do passado mais tenebroso, fazendo-lhes frente. Mais do que isso, Garzón deu a milhões de pessoas, por todo o mundo, uma réstia de esperança para crer na justiça. Talvez nem ele próprio se aperceba da dimensão que adquiriu e do símbolo em que se transformou: o símbolo da vitória da justiça sobre a grande injustiça dos fascismos, da opressão, da repressão surda ou sangrenta.

O juiz Baltazar Garzón tem um largo passado. Mas foi uma acção do presente que espoletou a ofensiva brutal que com contra ele foi desencadeada e que tem em vista impedi-lo de exercer a magistratura. O momento preciso em que a ofensiva foi desencadeada identifica quem se mexe nas sombras por detrás da acção contra o magistrado. Garzón estava a mexer numa ferida que a sociedade espanhola sempre procurou mitigar com paninhos quentes: a questão dos desaparecidos na guerra civil e no franquismo. Os escrupulosos bonzos que saltaram dos seus cadeirões, e que nunca usaram o Direito para que se fizesse justiça, querem travar a investigação do juiz Baltazar Garzón. Ao mesmo tempo, na rua, manifestações falangistas evocam os tempos em que a "justiça" era cometida por manifestantes fanáticos e arbitrários em cenas de linchamento.

Num momento particularmente sensível da História, com uma crise financeira a galopar sobre o fundamentalismo capitalista, a ofensiva contra o juiz Garzón prefigura um inquietante regresso ao passado. Foi com estas e outras que surgiram e se impuseram os fascismos.
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«DE» de 28 Abr 10