domingo, 16 de novembro de 2008

O chuto-na-canela nacional anda «muitíssimo agitadíssimo»

Por Antunes Ferreira
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É A MINHA SINA: adoro o futebol. Aliás gosto (mais ou menos, óbvio) de tudo o que é desporto. Pratiquei, «a sério», rugby e natação. Mas vou a quase todas, desde o atletismo ao snooker. Até já percebo de curling… As vassourinhas entusiasmam-me. Medianamente, é certo, não atingem o grau de deslumbramento com uma boa placagem ou uma melée. Ainda digo assim, tal como aprendi e pratiquei. Hoje, já nem na bancada: no sofá é que é bom.
De resto, é a sina da esmagadora maioria dos Portugueses: adorar o futebol, o que normalmente corresponde a discutir o dito cujo. E aí, é sabido e re-sabido, em cada um de nós há um técnico, em cada um do nós há um crítico, em cada um de nós há um seleccionador. Nisso, somos realmente, especialistas. Natural e normalmente o seríamos – para além da política, o futebol é o outro alvo preferencial do bota-abaixo.
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Esta semana, tem sido um fartote. Desde as declarações de Paulo Bento a propósito da desgraçada actuação do árbitro Bruno Paixão, faz hoje oito dias, em Alvalade, até aos novos contemplados na convocatória de Carlos Queirós para o encontro com o Brasil, um ror de confusões, imbróglios, acusações e destemperos, não faltou nada. De resto, como habitualmente. Ninguém nos bate, em tais «modalidades».
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Sobre o que disse o treinador leonino já correu tanta tinta, já se usaram tantas palavras, já se transmitiram tantas imagens que, na realidade, só tiveram concorrência na manifestação dos professores, curiosamente também no sábado fatídico para o Sporting, fruto principalmente do tsunami da asneira que foi o malfadado juiz de campo.
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Processos vão, processos vêm, órgãos ditos representativos da «arbitragem» acima, órgãos ditos representativos da «arbitragem» abaixo», declarações bombásticas, declarações rasteirinhas, tudo tem resultado num rega-bofe quotidiano que vem nos preenchendo de forma «exaltante» o dia-a-dia da crise vinda dos United States, mas anichada por todo o Mundo.
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Nós já tínhamos, neste particular do chuto-na-canela, motivos mais do que suficientes para a má-língua nacional. A candidatura do expoente máximo do futebol portuga, ou seja, o Cristiano Ronaldo, ou CR7, aos mais altos galardões do Mundo da Bola motivou, inclusive, que se iniciassem campanhas as mais diversas para que tal se concretizasse.
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Admiro-me: falta a peregrinação a pé a Fátima para que se realizem tais aspirações; em menor escala, umas novenas ao Santo Padre Cruz, no mesmo sentido. Ou mesmo a São Judas Tadeu. Mas não se desespere. Há tempo e tempo.
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No meio de todo este estardalhaço, há, no meu modesto entender, uma situação gravíssima, qual é a dos meses diversos de salários em atraso aos futebolistas do Estrela da Amadora. À mistura com as patéticas declarações do presidente do clube, um tal fantasmagórico António Oliveira, mentiroso militante e falcatrueiro praticante. E com outras de um outro senhor Júlio Evangelista, manda-chuva do Sindicato dos Jogadores.
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É sabido. Há atletas e respectivas famílias que estão na penúria, para não dizer na miséria, com dificuldades mesmo na compra de bens alimentares. São profissionais do chamado Desporto-Rei, mas não entendem porque estão a viver sem rei nem roque. O treinador Lito Vidigal demitiu-se por falta de condições – e de remunerações.
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Raio de terra, esta. Várias têm sido as ameaças do recurso à greve por parte dos futebolistas. Agora, parece que ela se irá concretizar. Curioso: só depois do jogo com o Benfica neste fim-de-semana.
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no Sorumbático [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.