sábado, 8 de novembro de 2008

Os carunchos e os bichos da Madeira

Por Antunes Ferreira
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O EPISÓDIO INQUALIFICÁVEL acontecido no Parlamento madeirense é um bom exemplo de que o caos em que se encontra o PSD já alastrou à Região Autónoma. Por incrível que pareça, a espantosa questão fez renascer das cinzas, qual Fénix estremunhada, um PND que ninguém sabe o que é realmente, nem sequer o seu fundador, agora demissionário, Sr. Manuel Monteiro.
A bandeira nazi agitada pelo deputado regional José Manuel Coelho foi o detonador de uma atitude no mínimo prepotente do PSD – M e, em especial do Presidente da Assembleia, Sr. Miguel Mendonça. O caso conta-se em breves palavras. Na quarta-feira, na tribuna da sessão plenária que decorria, o deputado do Partido da Nova Democracia (PND) Sr. José Manuel Coelho exibiu uma bandeira nazi alegadamente em protesto contra o «regime ditatorial» que vigora na RAM.
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Os sociais-democratas madeirenses deliberaram adiar as sessões seguintes do Parlamento Regional, até que se obtenha uma decisão judicial sobre a ocorrência, já que o Parlamento presidido pelo Sr. Miguel Mendonça apresentou uma queixa-crime contra o Sr. Deputado do PND. Espanto geral.
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As reacções não podiam faltar. Mas, a embrulhar ainda mais o imbróglio, o Sr. Presidente M. Mendonça mandou impedir a entrada do Sr. Deputado J. M. Coelho no Parlamento. Como a PSP não se tivesse prestado a fazê-lo, foi contratado segurança que assim procedeu. O Sr. Deputado Coelho ficou, assim, barrado à porta da Assembleia Regional.
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Desde o BE que pediu ao Presidente da República para intervir no escabroso caso, até ao PCP que considerou tratar-se de «uma grande irresponsabilidade» (terminologia que se vai tornando recorrente, a partir da Sr.ª Dona Manuela Ferreira Leite), passando pelo CDS-PP que considerou que «o Parlamento da Região não se pode substituir aos tribunais». E, ainda que «A atitude do PSD é a mesma que tem há trinta anos, de permanente confronto com as oposições, com todas as instituições e órgãos de soberania» e ainda que «o Parlamento da Madeira bateu no fundo», tendo igualmente apelado à intervenção de Cavaco Silva.
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O Partido Socialista da Madeira contestou também na quinta-feira a suspensão das sessões no Parlamento da Madeira, repudiando o processo e afirmando que os sociais-democratas têm perpetrado «uma postura de ilegalidade» desde que governam a Região. Os socialistas contestam a «decisão» de adiar as sessões, mas repudiam «todo este processo».
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Para os socialistas madeirenses, «não se pode deixar passar em claro a postura da mesa da Assembleia, ou do presidente da mesa, que perante um requerimento ilegal do PSD/M, colocou-o à votação e o fez cumprir ».
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As agências noticiosas que, a espaços, cito, não têm dúvidas sobre o que se verificou: é uma ilegalidade praticada pelos membros do PSD-M, que se supõe e com alguma razão, ter tido o apoio do Sr. Alberto João Jardim. Por cá, e até ao momento em que escrevo este texto, da Rua de Santana à Lapa – nem um pio.
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Os bichos da madeira, como se sabe, são os carunchos. E já há quem diga que o bicho da Madeira é o Sr. Presidente do Governo Regional. As Regiões Autónomas estão, pois, na berlinda. A Madeira por este incrível charivari. Os Açores por mor do malfadado Estatuto. O Atlântico as separa, o Atlântico as une. E, a geografia não mente, ambas estão também unidas pelo mesmo Atlântico ao Continente. E, claro, aos Portugueses a quem os Srs. Alberto João, Jaime Ramos, Miguel Mendonça e outros mais chamam «Cubanos». Afinal quem é e qual é a ilha e os insulares?
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Este texto é uma extensão do publicado no Sorumbático [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.