sábado, 21 de novembro de 2009

O São Queirós

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Por Antunes Ferreira

QUAL CRISE? Depois da «jornada miraculosa e gloriosa de Zenica» - estou a citar um título a toda a largura da página de um jornal desportivo, para que conste – quem se atreve a falar do BNP? Do Manuel Godinho? Das escutas telefónicas? Das universidades privadas? Dos terrenos do Júlio de Matos? Do padre Frederico? Da Casa Pia? De milhentos casos mais na mesma linha da Justiça a passo de tartaruga? Vamos à África do Sul. Hossana nas alturas!

Vamos a factos. Desde que o prof. Carlos Queiroz assumiu a selecção nacional de futebol, por este País fora (e até pela diáspora lusitana), os comentários negativo dirigidos ao homem não foram muitos; foram muitíssimos. Escrevo mesmo o pleonasmo: muitérrimos. Uma lista telefónica das antigas, grossas, espessas, não chegaria para os registar. Exagero, naturalmente, mas que posso resumir: o gajo é uma besta!

Tantos foram os trambolhões inauditos da turma das quinas – a expressão faz-me sempre lembrar aquelas caixas de fósforos do antigamente – que os cidadãos se dedicavam a, de acordo com terminologia de ministro, a malhar no seleccionador nacional. Oral e desbragadamente, mas se ele estivesse ali à mão de semear – outro galo cantaria.

À suspeições imensas que tinham rodeado a escolha e a contratação de Queiroz por Gilberto Madail, destinatário igualmente, dos mesmíssimos mimos, pior era difícil, seguiram-se tamanhos disparates futebolísticos, que tudo justificava o Povo. E Scolari, sobre quem havia também imenso tiroteio, ainda que sobrelevado pelas palmas, foi absolvido pela maioria dos que o apostrofavam.

O mundo do futebol é uma coisa complicadíssima. Pode este rectangulozito estar a afundar-se económica, financeira e politicamente, que nada disso passa de peanuts ao pé dos desastres do chuto na canela. A ponte de Entre-os-Rios foi um grande desastre? Ora essa. Muito pior foi o empate com a Albânia ainda por cima aqui em Lisboa. E que dizer do tsunami dos 2-6 frente ao escrete canarinho?

Nós, os Portugueses, (acentuo que escrevi nós) somos, de pleno, treinadores de futebol. Ainda que de bancada. Ou de pancada - cerebral. Está-nos na massa do sangue,.De resto, por algum motivo se diz que esta é nação dos três FFF. Sina da qual não se foge, porque não é possível fugir. Mas também porque não queremos fugir. Adoramos o chamado desporto-rei. Incensamos os seus protagonistas – se eles ganham.

Mas, vae victis! Os perdedores estão feitos. Nem a alma se lhes aproveita. Há, porém, que dizer que isto não é apenas nosso. Pelo orbe fora há imensos mais humanos que assim pensam - e agem em conformidade. O futebol transformou-se do football num dos maiores negócios do planeta, há mesmo quem diga que é o maior. Move multidões, vale milhões de milhões, e cada vez mais.

Sou seu adepto, mas não seu adorador. Tenho o meu clube, o Sporting, em menino e moço fui furioso pela Académica, até andei de capa e batina aqui na capital, pelos quarto e quinto anos liceais. Faço, portanto, parte da esmagadora maioria dos Portugueses. Não é uma confissão; é uma constatação.

Também invectivei Carlos Queiroz. Se calhar, sem a moderação necessária, enfim… E, mesmo com o milagre de Zenica, continuo a não o achar um génio, bem pelo contrário. Não gosto dele, ponto. Mas, depois de termos ganho o São Nuno Álvares Pereira, por que não o São Queiroz?