quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Catarse

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Por João Paulo Guerra

Este PS que, como toda a gente muito bem sabe, nasceu da decapitação do PS anterior, anda agora a queixar-se insistentemente que lhe querem cortar a cabeça.

E A "CABALA",
expressão falsamente atribuída ao líder do PS de 2003, renasce agora com todas as letras no discurso oficial socialista. Mas vejamos as diferenças, porque as há.

Em 2003, o nome do líder do PS foi "plantado" num processo judicial ignominioso. Embora a justiça não tenha encontrado o mínimo fundamento para a acusação, o então líder do PS veio a cair com a preciosa colaboração de sinistras omissões e cumplicidades dentro do seu próprio partido. E em lugar desse PS que havia, que se aguentou à bronca com a fuga de António Guterres com um honroso resultado eleitoral e que infligiu uma "banhada" nas eleições europeias a Durão Barroso, emergiu o PS neoliberal que há.

Em 2009, escutas telefónicas autorizadas por um juiz no âmbito de um processo por tráfico de influências - tudo legal, tudo nos conformes - apanharam conversas do suspeito com o primeiro-ministro e líder do PS. Não era o primeiro-ministro o escutado, pelo que as escutas não necessitavam de autorização ou de visto superior. O primeiro-ministro entrou nas escutas porque participou em conversas com o visado pela justiça, já depois de começar a investigação judicial.

Não há qualquer espécie de comparação, nem na forma nem na substância, entre os dois casos. E só se vislumbra um motivo para o actual PS vir alegar que incertos, algures, andam a querer descabeçar o partido. A rememoração e reconstituição de uma cena susceptível de causar remorsos é um método para aliviar sentimentos de culpa, perturbações psíquicas, angústias. Denomina-se catarse na terminologia psicanalítica.
«DE» de 24 Nov 09