sábado, 16 de maio de 2009

Fazer amor

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Por Antunes Ferreira
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HÁ ANGLICISMOS que até nem são maus. Há, porém, outros, que nem sequer são bons. O amigo Banana não diria melhor. Aqui, apenas abordo a linguística, nada de política. Fora essa a ideia e logo viria à baila o Mapa Cor-de-Rosa, o Ultimato e o Guerra Junqueiro com o «ó cínica Inglaterra, ó bêbada impudente» contrapondo-se à conquista de Lisboa aos mouros, à aliança mais velha da Europa, à Dona Filipa de Lencastre e ao Wellington. Já para não elencar na economia a Anglo-Portuguese Thelephone, a Carris, os vinhos do Porto e da Madeira, os tecidos da Covilhã, enfim.
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Fique-me, portanto, pelo que são os registos vocabulares da nossa Língua Portuguesa provindos da Inglesa e, sobretudo, dos arrevesadamente adoptados. E é o caso do fazer amor. Expressão que não existia no vocabulário lusitano, até há bastante pouco tempo. Entretanto, com o advento do make love, lá fomos apressadamente incluí-la no corriqueiro dia-a-dia.
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Somos - apesar de em tempos apelidados e bem de colonialistas – estruturalmente uns colonizados. Volto a acentuar que me escapou a pena para a política, que, para o caso, não deve ser tida nem achada. Mas, é. Antes de tal invasão, usava-se, em bastas situações, terminologia a cair no calão. Hoje, por exemplo e só, ninguém está a ver um sujeito apostrofar outro vigorosamente sem o vernáculo.
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Quando se falava em paixão eterna, em almas juntas até à eternidade, ou se chegava mesmo ao Noivado do Sepulcro, as pessoas amavam-se, não faziam amor. É claro que faziam, mas não usavam o anglicismo. Utilizavam outros termos ainda que as práticas fossem as mesmas. E não falo do recato, mentira piedosa que era apenas disfarce para actuação atrás da porta. Falo no coito, para não falar noutra coisa semelhante mas menos publicável.
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No chiqueiro que foi o Vietname, ficou célebre a asserção make love, not war. Os hippies foram os seus principais criadores, de flor em punho, mas outros houve. Muitos. Não me posso esquecer da Jane Fonda, entre o coerente e o contraditório, pois a sua Barbarella conjugava o amor e a guerra, aliás de forma muito aliciante. Mas nem toda a gente nasceu para tais compromissos. Adiante.
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Não descortinei, pelo menos até à data, nenhuma unidade fabril que faça amor. Isto é que o produza, industrialmente falando. Nem sequer um artesão que seja. E pergunto-me se existe alguém que saiba tricotar amor, que ou que o saiba cozinhar de mil e uma maneiras como acontece com o bacalhau, ou que o saiba alinhavar, à maneira das costureiras em vias de desaparecimento.
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Apesar da intenção inicial, ocorre-me o acontecimento político de ontem, que foi a visita relâmpago do primeiro-ministro à Madeira. Onde Alberto João Jardim o recebeu «de braços abertos», tal como anunciara previamente. Não se veja aqui qualquer soez insinuação sobre o tema. Declaro, sob palavra de honra e devidamente ajuramentado – na dúvida, e em processo, ajuramenta-se o declarante – que não se trata disso.
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Mas não me admirava que, após os encontros no Palácio de S. Lourenço e a partida do chefe do Governo, o Sr. Dr. Alberto João desabafasse para Miguel Mendonça que reafirmava o que dissera, isto é, Sócrates era o pior primeiro-ministro de sempre. E que acrescentasse «ele que se vá f…azer amor… para Lisboa.
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.