segunda-feira, 29 de junho de 2009

Passatempo «Casa de ferreiro, espeto de pau»

As 4 "quinas" - solução





Vários leitores deram a resposta certa

sábado, 27 de junho de 2009

Podia ter sido pior

Por Antunes Ferreira

DEIXEM QUE VOS DIGA que estes míseros 14 dias de ausência corresponderam às melhores mini-férias que gozei nos últimos 15 anos. Em cheio, com gente amiga e boa – vai sendo um tanto difícil conciliar estes dois adjectivos – palavras ao correr do descorrer, leitura diversificada, galhofa q.b., de papo para o ar regaladamente, e no respeitante a cómidas e bóbidas, ignorando O Livro de Pantagruel e o Guia Michelin, por absolutamente desnecessários. Um mimo.

Saí – saímos, a Raquel e eu – logo após termos votado, cumprido o ritual do costume, sem grande resultado do procedimento cívico, como depois se constatou, e jurei (ámos) que não ligaríamos peva à política, com uma excepção óbvia: conhecer os resultados das urnas. O que se revelaria quase fatal. Mas, bem diz o Povo, o homem põe e Deus dispõe. Acontece mesmo ao mais pintado, e que fizera esse solene propósito de procedimento.

Foi em Viana do Castelo, poiso de dois dias, a Senhora da Agonia abençoando, tutelar, a cidade onde o Coutinho tristemente famoso continua em pé, aguardando demolição e justiça. Encontrámos um casal amicíssimo, vizinho (casa com casa) nosso em Luanda durante sete anos, e alinhado partidariamente connosco. Recordámos a Restinga, a cerveja, os camarões, o jindungo, os cacussos da barra do Cuanza, na altura sem K, e outros condimentos.

Claro que saiu muamba para o almoço do dia seguinte. Ela é especialista. Nem se atacara ainda o pudim do abade de Priscos e, de repente, sibilina, a questão insidiosa: ó Ferreira, que abanão; o que achaste das eleições? E eu, ainda dorido, mas tentando a prática do dito militar – incha, desincha e passa – confessei que, lamentavelmente, esperava que as coisas tivessem corrido malzinho, mas tanto não. Opinião imediatamente comungada e corroborada pelos três restantes comensais. Mas logo acrescentei o calino «como dizia o outro», podia ter sido pior. Espanto, incredibilidade, sobrancelhas levantadas, como?

Gente, a partir de agora declaro interdito o tema, estou farto de. Mas, explico-me: o tsunami que aconteceu ao Sócrates, ao Vital (?) Moreira e aos outros recorda-me uma anedota – a do sujeito que, perante as desgraças mais… desgraçadas, fazia sempre tal afirmação: podia ter sido pior. Os comparsas, sabedores experimentados e conscientes da minha propensão para o anedotário, esperavam, complacentes.

Um dia, o cidadão encontrou-se, como habitualmente, com um amigo do peito, no café da esquina, duas bicas cheias em chávena quente, dois copos de água (ou será com água?) fria e palitos. E o segundo, erguendo o dedo indicador direito, perguntou-lhe: conheces aquela nossa vizinha louraça, boazona, do 223, 2.º Esquerdo? Perfeitamente, um espécime daqueles é sobejamente conhecido, urbi et orbi, mais do que o Papa.

Pois, olha: hoje de manhã, o marido esqueceu-se das chaves do escritório, voltou a casa e foi encontrá-la na cama com um senhor que não era ele nem nada, aparentemente a experimentarem as respectivas aptidões para o wrestling, em trajes copiadinhos dos que o Adão e a Eva usavam no Paraíso, antes da perversa serpente, da maçã, do pecado original, enfim.
O esposo duplamente armado pois que trazia usualmente automática no bolso, despachou os dois apenas com dois balázios. E, aparentemente satisfeito, foi entregar-se na esquadra lá do bairro, dizendo que fizera o que tinha de ser feito. Prisão maior, no horizonte. Um drama, menino, um dramalhão de faca e alguidar.

Logo, do primeiro surdiu o comentário habitual: podia ter sido pior… Pior???, assoprou o outro. Pior??? Pior??? O palito benfazejo caiu-lhe da boca, tal o tom da interrogação tri-repetida.

Podia. Olha se fosse ontem. Era eu que estava na cama da louraça, engalfinhados e peladinhos ambos, até ao pescoço. Podia ter sido pior. E tomou um gole de água, geladinha.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Como Avaliar os Professores?


Por Maria Filomena Mónica

ANTEONTEM (*), a Ministra da Educação declarou no Parlamento que na Universidade de Harvard os alunos avaliam os professores, dando a entender ser esta uma boa prática. Além de perigosa, a afirmação é parola. Nem tudo o que se pratica naquela universidade, certamente uma das melhores do mundo, é positivo, porque o ensino dos EUA está infectado pelo «politicamente correcto».

Se há alguém no mundo que não pode nem deve avaliar os professores são os alunos: nem os das universidades, nem, muito menos, os do ensino básico ou secundário. Porque tal prática destrói o cerne da relação pedagógica, a qual se baseia no facto de o docente saber mais do que o estudante e de, por isso, ter obrigação de, no final, lhe dar uma nota. Tudo o resto são cedências às ideologias que dominam as Ciências da Educação. Há ainda um pormenor não despiciendo: Harvard é uma universidade privada e o que lá se passa apenas diz respeito ao seu conselho escolar. Ora, o que está em discussão em Portugal é um plano a ser aplicado no ensino público, ou seja, nas escolas pagas com o nosso dinheiro.

O desastroso estado do sistema educativo português tem muitas causas, mas não será através deste esquema de avaliação, provavelmente inspirado nas grelhas de avaliação para os alunos, que o nefando Secretário de Estado Valter Lemos apresentou no seu livro O Critério de Sucesso, que aquele melhorará. Mesmo que se pudesse instalar uma câmara de vídeo – o que espero não venha a suceder – em cada sala de aula, não haveria maneira de se determinar quem ensina bem ou mal. Os alunos sentem-no, os colegas sabem-no e os próprios terão uma noção das suas competências, mas basta ler a peça de teatro «The History Boys», do premiado Alan Bennett, para se ver quão arbitrária pode ser a avaliação de um docente. Às vezes, só tarde na vida, ao recordar o professor que nos aterrorizou, nos apercebemos que foi este, e não o doce «setor», que nos fez crescer em Sabedoria. Que eu saiba, é para isto que as escolas servem.

(*) Fevereiro de 2008

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Passatempo-relâmpago de S. João

Caros amigos,

Este post, com a solução (1218g), vai ficar visível automaticamente ,às 20h01m, mas a essa hora estarei em viagem, pelo que só amanhã de manhã poderei afixar os resultados.

No entanto, quem me quiser ajudar poderá fazer as contas, e o que se seguirá será assim:

1 - Haverá 4 prémios, e os 4 leitores que mais se tenham aproximado do valor correcto terão 24h para escrever para sorumbatico@iol.pt indicando morada para envio dos livros.

2 - O 1.º classificado deverá, nesse mesmo mail, indicar 2 dos 5 livros.

3 - O 2.º classificado só receberá 1 livro, mas deverá indicar 3, por ordem decrescente de preferência.

4 - O 3.º classificado também só receberá 1 livro, mas deverá indicar 4, por ordem decrescente de preferência.

5 - O 4.º (e último) classificado ficará com o livro sobrante.
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Actualização (24 Jun 09 - 23h15m): se não me enganei nas contas, os resultados são:

1.º-Nunormg: 1220g .. erro=2g
2.º-JSA: 1262g .. erro=44g
3.º-Carluz: 1272g .. erro=53g
4.º-Joana Dias: 1273g .. erro=55g

Certo?

O fado de todos nós


Por Baptista-Bastos

JOSÉ SÓCRATES continua o "animal feroz" que disse ser, ou é o "português suave", agora investido? O comoventíssimo problema tem queimado as meninges dos augustos comentadores da política nacional. Está mais sereno, está mais humilde, está mais modesto e menos arrogante - disse-se e escreveu-se. Há duas semanas que esta gente tem agido segundo os princípios de um pensamento feito de frivolidades e de absurdos; e o próprio primeiro-ministro, tão reservado em assuntos realmente graves, não resistiu à tentação da irresponsabilidade e respondeu-lhes. Não há prova histórica da mudança: "Eu sou o mesmo" e "não mudo de rumo". Parece um fado e, se calhar - "Chorai guitarras, chorai" -, é o nosso próprio e redondo destino.

Estas minudências são o retrato oval de uma democracia de superfície, que nos incita à renúncia de pensar. Eis o que nos sussurram: as coisas são como são, e deixem a política para os políticos. Não é bem assim. Há muitos anos, conversando com o saudoso prof. Pereira de Moura, disse-lhe, a páginas tantas, que não percebia nada de economia. Respondeu-me: "Mas sabe a tua mulher quando vai à praça."

A três meses de eleições fulcrais vivemos numa farsa sem graça e numa história aos quadradinhos. Pacheco Pereira demonstra a calamitosa ausência de humor que o caracteriza, e espirra-canivetes quando Luís Filipe Menezes lhe chama "a loira do PSD", numa analogia (ou metáfora?) experimental e divertida. Menezes tem sido o alvo privilegiado do Pacheco, mas aquele é muito melhor, mais inteligente e culto do que a maioria dos que este tem apoiado e incensado.

Fogo-de-artifício. É só. Nada do que é importante tem sido debatido, porque a estratégia é impedir-nos de pensar e de agir. Quando a dr.ª Manuela Ferreira Leite aplaude o "manifesto" de 28 economistas (alguns não o são, nem coisa que se pareça), reivindicando o conteúdo do documento como se de ideias suas e antigas se tratasse, a natureza profunda da iniciativa fica destapada. É um texto de abolição, uma birra de gente, certamente estimável, mas com pouco para dizer. De qualquer das formas, o documento não corporiza o antagonismo que pretende representar, além de não indicar, não sugerir, não propor: somente protesta. Para protestar, os 28 são inúteis. Para isso, cá estamos nós. Vamos à praça e contamos os tostões. Não me parece que os signatários estejam em baixo de fundos, e muito menos que foram, unânime e piedosamente, movidos por um escaldante amor ao povo.

Todo este folclore não é cândido. O que está em causa é irresumível nessa espécie de competição de caracteres entre Sócrates e Manuela.
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«DN» de 24 de Junho de 2009.

Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

terça-feira, 23 de junho de 2009

18 Jun 09 - 12h17m

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A procura inteligente

www.wolframalpha.com
Por Nuno Crato

O SENHOR A. escreveu-me de Viseu com um pedido. Por razões legais, precisava de saber a cubicagem de um poço existente na sua propriedade e não se lembrava como se calcula o volume de um cilindro. Tinha-o contudo medido e sabia que tinha 2,5 metros de diâmetro e 5 de profundidade. Fiz-lhe com gosto os cálculos, que são muito simples, mas fiquei a pensar como poderia o assunto ser resolvido pelo próprio, sem interferência de outrem.

Evidentemente, o senhor A. sabia bastantes coisas. Sabia que se tratava de um cilindro e que bastava conhecer o diâmetro de uma secção e a sua altura para calcular o volume. Não sabia dar os passos seguintes.

Claro que o senhor A. poderia ter decidido estudar um pouco de geometria. Compraria um livro, teria de ler algumas partes, teria de encontrar a fórmula do volume do cilindro, que está habitualmente expressa em função da altura e do raio da base (e não do diâmetro) e por aí adiante. Também poderia ir à Internet procurar essa fórmula, que é fácil de encontrar. Mesmo assim, teria de fazer alguns cálculos; imagino que quem saiu da escola há muito e não está habituado tenha sempre receio de se enganar.

A pergunta do senhor A. ficou mais fácil de resolver com um novo motor de busca acabado de lançar: o Wolfram|Alpha (www.wolframalpha.com). É a nova criação de Stephen Wolfram, um cientista prodigioso que nasceu em Inglaterra, escreveu o seu primeiro artigo científico quando tinha 15 anos, estudou na Califórnia e criou a sua própria empresa de investigação. O seu produto mais famoso é o Mathematica, um programa pioneiro no cálculo simbólico. Enquanto outros programas resolvem, sobretudo, problemas numéricos — tais como calcular o volume de um cilindro fornecendo as suas medidas —, o Mathematica consegue trabalhar com fórmulas produzindo outras fórmulas. Para dar um exemplo muito simples, imagine o leitor que escreve: y=5x+2x/x-2x-10x/5.
Para simplificar o resultado, o programa obtém y=x+2, ou seja, trabalha com os símbolos. Mostra-lhe ainda, por exemplo, que se trata de uma equação de uma recta, que essa recta intersecta o eixo dos yy no ponto x=0, y=2, e que tem declive um.

Mathematica resolve problemas incrivelmente mais difíceis. Deriva funções complicadas, faz integrais de ordem fraccionária, calcula transformadas de Fourier. Resolve cálculos que são complicados mesmo para matemáticos profissionais. Desenha gráficos sofisticados e faz praticamente tudo o que um estudante de engenharia aprende em matemática ao longo de um curso — o que é, ou devia ser, muito. Claro que não substitui o ser pensante, mas dá-lhe uma grande ajuda.

Mathematica foi lançado em 1988 e tornou-se um sucesso estrondoso. Representou um extraordinário passo em frente e não tem deixado de evoluir. Para esse programa, calcular o volume de um cilindro sendo dado o diâmetro e a altura é uma brincadeira de crianças. Mas trabalhar com ele implica algum treino e, sobretudo, a capacidade para formalizar matematicamente os problemas.
Stephen Wolfram deu agora um novo passo em frente com a criação do Wolfram|Alpha. Trata-se de uma mistura de um motor de busca, como é o caso do Google, com um sistema de computação. Como disse, «não estamos a usar o que outras pessoas colocaram na Web, estamos a tentar usar o corpus de conhecimento humano para calcular respostas específicas». Para esse efeito, o sistema está munido de uma variedade imensa de equações matemáticas e de dados recolhidos de milhões de fontes, tais como revistas científicas, enciclopédias, estatísticas oficiais e cadastros geográficos. No seu total, a informação arquivada e acessível no sistema ultrapassa os 10 terabytes. É um volume inacreditável: cerca de metade do contido na maior biblioteca do mundo, a Biblioteca do Congresso, em Washington.

Se o leitor quiser, por exemplo, saber quanto tempo demora uma viagem de Lisboa a Nova Iorque num avião a jacto, consegue sabê-lo neste novo motor de busca. O Wolfram|Alpha desenha-lhe mesmo o caminho mais curto, a chamada geodésica. Se se quiser surpreender, procure o caminho entre Caracas e Phenon Pen. Imaginava que um voo directo demoraria mais de 19 horas e que passaria pelo Atlântico Norte?

Para o Wolfram|Alpha, resolver o problema do senhor A. é uma brincadeira de crianças. Escrevendo «volume of a cilinder with diameter 2.5 meters and height 5 meters», o programa corrige educadamente o inglês, diz que «cylinder» se escreve com «y» e faz as contas. Diz que o volume é de 24,5 metros cúbicos, aproximadamente, e explica como se obtém o resultado. Faz a conversão para litros e para outras unidades.

Vale a pena experimentá-lo. Pergunte que factos importantes se passaram no dia em que nasceu. E seja criativo. Ponha o seu peso, altura, sexo e idade. O Wolfram|Alpha dir-lhe-á se tem peso a mais e se já está preparado para a época balnear.
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Passeio Aleatório» - «Expresso» de 20 de Junho de 2009 (adapt.).

Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

22 Jun 09 - de manhã

Passatempo «Mais fósforos» - Solução

Passatempo «A trabalheira»

O vencedor do passatempo correspondente à crónica «A trabalheira», de Alice Vieira, poderá escolher um destes dois livros.

A trabalheira

Por Alice Vieira

JÁ DEVE SER para aí a terceira vez que a oiço dizer a mesma coisa, mas não entendo.

Longe de mim dar parte de fraca, a linguagem dos adolescentes muda todos os dias, eu já devia saber, e por isso continuo na conversa, e ela vai falando.

Ela, que ainda há tão pouco tempo se alimentava da “little Kitty”, e do “meu pequeno poney", e dos livros da Miffy - e agora troca de t-shirts comigo, e entra nos meus segredos e eu nos dela.

Ela que, num dia de crise (minha) me deu o sábio conselho de que “nenhum homem merece que se engorde por causa dele”.

Ela, em tantas coisas tão adulta, vai falando das amigas, da escola, do grupo de teatro, e da “seca” que foi ter de ler o Garrett.

Armo em avó pedagógica, lá saio em heróica defesa do Garrett, mas ela repete “uma seca” e, logo a seguir, a misteriosa palavra. Interjeição? Onomatopeia? Grunhido?

Pelo menos agora distingo os sons: “lol”.

Entre duas frases, aquele estranho vocábulo: lol.

Não me contive:

“Mas o que é que tu estás sempre a dizer?”

Ela olha para mim, sem entender, encolhe os ombros, “então, respondo ao que tu perguntaste”, e eu “não, não é isso, é aquela palavra que tu disseste depois, mesmo no fim da frase”, e ela faz um ar admiradíssimo, e lá repete “o quê? Lol? Ó avó, tu não me digas que não sabes o que quer dizer “lol”!

É evidente que sei, também não ando assim tão afastada dessas magníficas aquisições linguísticas que as novas tecnologias motivaram! Sei perfeitamente que “lol” é a sigla que corresponde à expressão “laugh out loudly”, ou seja, a maneira de, em telemóvel e e-mail, se explicar às pessoas, que não nos vêem, que estamos a rir que nem uns doidos. O meu espanto é essa linguagem já ter passado à oralidade.

“Então”— proponho —“ e se em vez de dizeres isso, tu te risses, muito simplesmente, não era bem melhor?”

Faz um ar espantadíssimo, como se eu lhe propusesse qualquer coisa do outro mundo e, com aquele ar condescendente que se deve ter para com quem ainda certamente privou de perto com os dinossauros, explica que agora todos falam assim, porque assim é muito mais fácil.

E remata: “ai avó, se tu soubesses a trabalheira que dá a gente rir…”

Rir dá trabalho?

Pelos vistos dá.

Pelos vistos agora já não é só a escola que dá trabalho, não são só os livros que é preciso ler que dão trabalho, não é só o Garrett que dá trabalho. Agora, até rir dá trabalho.

Olhámos uma para a outra, muito sérias ambas, mas de repente não houve “lol” que nos valesse, e desatámos as duas a rir, mas a rir mesmo, gargalhadas das boas, das genuínas.

Se calhar daquelas que dão mesmo uma grande trabalheira, mas que ainda nada conseguiu substituir.
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«JN» de 20 de Junho de 2009

Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

domingo, 21 de junho de 2009

O Código da Estrada, tal como a CML o entende

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Agente da Polícia Municipal combatendo o estacionamento selvagem junto ao C. C. Acqua.
Ali, a lei cumpre-se - e muito bem!
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Mas do outro lado, mesmo à porta da AML...
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Carro e carrinha da P. M. estacionados em Paragem Proibida.
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Carrinha da CML estacionada em Paragem Proibida.
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Carrinhas da CML estacionadas em pleno jardim Fernando Pessa.
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Um carro da P. M. e outro da CML estacionados em Paragem Proibida
Note-se o parque de estacionamento subterrâneo, com 636 lugares, com indicação de "vago" (até porque está às moscas, mesmo nesses dias).
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EM DIAS de reunião na AML, a Polícia Municipal coloca um ou dois agentes ali perto, na Av. de Roma (junto ao C. C. Acqua), e durante algumas horas o estacionamento selvagem é reprimido. Mas apenas nesses dias da semana e no intervalo de algumas dezenas de metros! Se alguém se der ao trabalho de atravessar a rua e ir ver o que se passa mesmo junto à AML, corre o risco de rebentar à gargalhada!

NOTA: Estas fotos são apenas algumas de uma infinidade que tenho em arquivo, tiradas nesses dias e nesses locais.
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Actualização (22 Jun 09/12h40m): acabei de passar pelo local mas, desta vez, já nem tirei fotografias - para quê gastar tempo, pachorra e bits?!
Lá estava o inevitável carro da P. M. estacionado em local de paragem proibida (à porta da AML), o estacionamento selvagem à porta do estacionamento subterrâneo, um carro particular a bloquear a saída de uma garagem ali ao lado... e tudo isso debaixo dos olhos de um agente a pé e mais dois de
segway!
Que diabo!, ninguém explicará a essa gente (a começar por António Costa!) o descrédito que lhes cai em cima devido a isso tudo?

Actualização (6 Out 09/9h30m): ontem, a situação era a mesma... Uma situação que até pode ser vista no Google Street View!

Dia de Eratóstenes - Solução

Eratóstenes ensinando em Alexandria
Óleo sobre tela de Bernardo Strozzi (1581/1644).
Data: c. 1635
Montreal, Museum of Fine Arts

Passatempo «época de fogos» - Solução

sábado, 20 de junho de 2009

Passatempo relâmpago 22 Jun 09

Passatempo relâmpago de 21 Jun 09

Prémio

Oscar Wilde - Solução

Exames e Radicalismos


Por Filipe Oliveira

NOS ÚLTIMOS ANOS temos assistido a formidáveis avanços científicos com relevância para a Educação. É o caso de recentes progressos em áreas tão diversas como a Psicologia, as Ciências Cognitivas ou mesmo a insuspeita Neurologia: à luz da compreensão moderna dos fenómenos fisiológicos subjacentes aos diferentes processos de aprendizagem, velhos dogmas são postos em causa e algumas práticas abusivas são denunciadas. Surgem novas ideias e outras, menos novas, são reabilitadas.

Por outro lado, uma grande determinação por parte de alguns governos em resolver os problemas do Ensino levaram a que fosse possível realizar estudos sistemáticos do que se sabe e não se sabe em Educação, identificar pontos fracos e delinear uma estratégia clara para o futuro. Veja-se a este propósito o colossal trabalho do National Mathematics Advisory Panel nomeado pelo Governo Federal dos Estados Unidos em 2006. Equipas multidisciplinares de dezenas de cientistas passaram a pente fino milhares de publicações, realizaram novas investigações e geraram consensos extremamente importantes. As conclusões e recomendações deste painel foram recentemente publicadas no documento intitulado “Foundations of success – The final report of the National Mathematics Advisory Panel”.

Como a última avaliação internacional encomendada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia parece demonstrar, a grande maioria dos Centros de Investigação em Ciências da Educação portugueses parece não acompanhar estes progressos. Depois de amplamente denunciado, o discurso dito “eduquês” - caracterizado por um arrevesado discurso hermético pejado de termos obscuros sem significado tangível - tem-se vindo a esbater progressivamente. No seu lugar permanece uma doutrina vaga, fortemente ideológica, opinativa e recheada de falácias e argumentos incongruentes. É o retrato de uma comunidade fechada, auto-referenciada, distante da comunidade científica internacional e sem soluções para o Ensino pré-universitário português. Uma comunidade em que muitos se recusam liminarmente a dialogar com os especialistas das áreas a que se propõem ensinar a ensinar, apesar das suas manifestas fragilidades nesses campos.

Exemplo de tudo isto é a entrevista dada à revista Guia do Estudante por Leonor Santos, professora do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. O artigo descreve-a como uma especialista em avaliação desenvolvendo investigação nessa área há cerca de vinte anos.

Vejamos em que consistem as suas posições:

Do estudo e do não-estudo

À pergunta “Para que servem os exames?” Leonor Santos responde:

“A questão dos exames é uma polémica recorrente e há quem seja a favor e quem seja contra. Para mim, é muito mais importante discutir as razões que são apontadas com maior frequência para justificar a existência de exames.(…)”

É um início de entrevista algo enigmático. Será que Leonor Santos quer dizer que antes de se tomar uma posição sobre um determinado assunto há que medir os argumentos de um dos lados (o que seria de uma evidência desconcertante se fosse de ambos os lados)? Ou estará a querer dizer que mais importante do que tomar uma posição é discutir os diferentes argumentos envolvidos, à imagem de um médico a quem se pergunta se fumar faz mesmo mal e que responde “Bem mais importante do que dizer se faz mal é discutir por que algumas pessoas pensam que faz bem.”?

Sim, de facto, há quem seja a favor e há quem seja contra os exames. Assim como há quem seja a favor ou contra o ensino estruturado, ou a favor ou contra o ensino enquanto transmissão de conhecimentos. Quando surgem opiniões duais deste tipo, a solução não passa por identificar e discutir apenas as razões mais frequentemente apontadas por um dos lados da polémica.

Leonor Santos prossegue, tentando provar que um certo número de argumentos a favor da realização de exames não são tão inquestionáveis quanto se julga:

“Parte-se do princípio de que se não houvesse exames os alunos não estudariam. Este argumento só poderá fazer sentido se for aplicado aos alunos que normalmente não estudam, já que não se pode aplicar àqueles que o fazem.”

Trata-se, obviamente, de uma falácia que pode ser aplicada a qualquer implicação. Por exemplo, afirmar que “se não existissem despertadores as pessoas não chegariam a horas ao emprego” só fará sentido, no entender de Leonor Santos, quando aplicada às pessoas que “normalmente” não chegam a horas ao emprego. Da mesma forma, dizer que “se não tivessem asas, os aviões não levantariam voo” só se aplica aos aviões que “normalmente” não levantam voo. De onde se tira a conclusão que não se devem usar despertadores nem os aviões devem ter asas?

De facto, esta declaração é totalmente vazia em termos de conteúdo argumentativo e apenas traduz um erro lógico elementar.

De qualquer forma, ainda que um número muito limitado de alunos aprenda bem, independentemente de ter de estudar para exames ou não, sabemos que eles estudam mais e, em consequência, aprendem mais, quando existem exames com fins de classificação. Estes podem pois ser um factor importante de aprendizagem.

Uma das linhas de investigação mais activas e interessantes da psicologia experimental moderna dedica-se precisamente a medir os efeitos da avaliação sobre a aprendizagem. As conclusões, praticamente consensuais, são que um dos factores fundamentais da retenção das aprendizagens a longo prazo, senão o factor principal, é a avaliação repetida e sistemática. Vejam-se, por exemplo, os trabalhos recentes de Karpick, Roediger & al publicados na prestigiada revista Science (The Critical Importance of Retrieval for Learning, Science 319, 966 (2008) ).

Leonor Santos argumenta de seguida:

“Mas para os alunos que realmente não estudam há muita investigação que prova que as aprendizagens feitas de uma forma concentrada nas vésperas dos exames, fazendo noitadas, tendem a perdurar muito pouco no tempo”.

Sem dúvida, aqui apenas se diz que o estudo atabalhoado não produz grandes resultados. Penso que seja consensual e é pouco relevante para o assunto que se discute. Em todo o caso não invalida de forma alguma a existência de exames.

“Importa então saber se os exames são, ou não, eficazes a pressionar os alunos para estudar.”

Exacto, mas Leonor Santos ainda não se pronunciou. Apesar de ter começado por declarar que se trata de um assunto que lhe parece muito importante discutir. O leitor poderá agora voltar ao início “Há quem seja a favor e há quem seja contra…” e ler a intervenção em loop.

Da ética e da equidade

Leonor Santos ataca de seguida o problema da equidade:

“(…)Uma vez que qualquer exame procura medir conhecimentos, pretende-se que o exame coloque todos os alunos em igualdade de circunstâncias.”

Pode-se concordar que “qualquer exame procura medir conhecimentos” e pode-se concordar que é desejável que “o exame coloque todos os alunos em igualdade de circunstâncias”. Mas não há aqui relação causal entre as duas proposições. Trata-se da famosa falácia conhecida por non-sequitur, em que não existe qualquer ligação lógica entre a premissa (o exame procura medir conhecimentos) e a conclusão (pretende-se que o exame coloque todos os alunos em pé de igualdade).

Mas enfim, esta introdução serve para Leonor Santos apresentar o seguinte argumento contra a realização de exames:

“Há um conjunto de regras que assenta no pressuposto de que, se conseguirmos criar regras iguais para todos num dado momento, é possível reduzir as diferenças que existiram durante o ano lectivo. Esta ideia de que se cria uma igualdade de situação e que assim conseguimos controlar as diferenças é problemática.”

Parece haver aqui uma vez mais uma falácia construída em torno da ideia de “igualdade de situação”. Confunde-se igualdade à partida, no percurso e à chegada. Um aluno nunca tem as mesmas oportunidades de outro nestes três momentos, pois os alunos são diferentes e as circunstâncias em que vivem também o são. Uma coisa é trabalhar no sentido de oferecer igualdade de oportunidades à partida para todos. Isso faz-se apostando na formação de professores e na qualidade de programa, currículo e manuais. Outra completamente diferente é tentar garanti-la artificialmente à chegada, fazendo-se tábua-rasa do esforço e do estudo dos alunos mais dedicados durante o ano lectivo. Aparentemente é isto que Leonor Santos considera “problemático”. É de facto problemático, e ainda bem que o é. Já do ponto de vista “ético”:

“Do meu ponto de vista coloca-se, desde logo, uma questão ética. Se de facto os alunos tiveram durante o ano lectivo melhores professores, será que estamos a garantir a igualdade de oportunidades ou pelo contrário estamos a reforçar a desigualdade existente até àquele momento?”

Insiste-se nesta confusão conceptual em torno da “igualdade de oportunidades”. A igualdade de oportunidades inicial não fica garantida por se banirem os exames. Aparentemente, na opinião de Leonor Santos, é extremamente perverso alertar os pais, os professores e a Escola de que um grupo de alunos não está a evoluir adequadamente pois a responsabilidade pode não ser deles. O melhor será os referidos professores incompetentes continuarem a acompanhar e avaliar estes alunos sem recurso a exames externos, garantindo-se assim “igualdade de oportunidades” e ocultando-se da vista de todos o mau funcionamento do sistema.

É uma posição radical e insensata. Por esta ordem de ideias em nada poderia haver avaliação por nem todos terem exactamente as mesmas condições. Se calhar, dever-se-ia acabar com os exames de condução, pois há instruendos que tiveram melhores professores do que outros...

Continuemos:

“Outra crença que existe relativamente aos exames é a de que conseguem medir com algum rigor o conhecimento dos alunos (…)”.

Partindo do princípio que se trata de uma “crença” infundada e que os exames não têm qualquer rigor na medição dos conhecimentos dos alunos, dificilmente se entende a razão que leva Leonor Santos a afirmar que os alunos que tiveram melhores professores não estão em pé de igualdade com os restantes quando confrontados com um exame.

A verdade é que décadas de investigação em docimologia vieram mostrar que, não sendo os exames infalíveis, são uma razoável medida dos conhecimentos adquiridos. Exames bem feitos têm bastante fiabilidade.

Exames perfeitos, contudo, não existem. Mas será que, por não existirem termómetros perfeitos deve deixar-se de medir temperaturas?

Da utilidade dos exames

“Ainda entre as razões que habitualmente são enunciadas para justificar os exames, por vezes aponta-se a necessidade de dar credibilidade ao sistema. Mas será que quem a enuncia quer dizer que os professores são competentes para ensinar, mas não o são para avaliar?”

Este argumento é incompreensível, pois não se trata de saber se os professores são ou não competentes para avaliar os seus alunos. Alguns professores têm critérios muito exigentes na sua avaliação. Outros são mais permissivos, sem que para tanto se possa dizer que fazem um pior trabalho. Uns dão mais importância a certos aspectos em detrimento de outros. Alguns são efectivamente incompetentes, como em qualquer profissão. Em rigor, há muito que os especialistas em docimologia recomendam que haja momentos em que os professores que ensinam não avaliem com fins de classificação, pois o contacto que têm com os alunos durante todo o ano, ou no decorrer dos vários anos, pode enviesar o processo e retirar-lhe objectividade.
Por outro lado, é sabido que certas escolas tendem a inflacionar os resultados dos seus alunos, por razões diversas.

Desta manta de retalhos de vontades, atitudes e idiossincrasias, obter dados objectivos que permitam estudar correctamente a evolução do Ensino em Portugal e, simultaneamente, seriar com justiça os alunos que concorrem, por exemplo, ao Ensino Superior, parece muito difícil sem exames nacionais. É certo que a seriação não é perfeita, mas esse é o argumento seguinte de Leonor Santos, como sempre na forma interrogativa sem tomada de posição:

“Os exames têm por função seriar. Mas até que ponto é que essa seriação permite ter alguma confiança?”

De facto existem muitos estudos realizados no início do século XX que mostram que factores externos ao que se pretende medir podem afectar os resultados dos exames. Há quem conclua que por essa razão devem ser postos de parte. Esta lógica nihilista e totalmente radical, que muitos “especialistas” em avaliação defendem, baseia-se uma vez mais num erro de lógica. De facto, a negação da afirmação “Os exames são totalmente fiáveis” não é, como se quer dar a crer, “Os exames não têm qualquer fiabilidade”, mas simplesmente “Os exames não são totalmente fiáveis”.
E os defeitos podem ser corrigidos, sendo hoje possível construir exames de uma eficácia arrasadora. Na realidade, ignora-se por completo muito trabalho que foi feito a partir dos anos vinte por especialistas em Ensino e que permite melhorar substancialmente a qualidade dos exames. Desistir dos exames é um pouco como desistir de fabricar e melhorar um dado medicamento por este não se mostrar totalmente eficaz no tratamento de alguns doentes.

Do “facilitismo”

Á pergunta “Algumas associações de professores acusam o Ministério da Educação de produzir provas cada vez mais fáceis. Concorda?”, responde Leonor Santos:

“Para dizermos que são mais fáceis ou mais difíceis, temos de recorrer a técnicas que permitem perceber o grau de dificuldade das questões e elaborar provas que possam ser comparáveis.(…)”

Fantástico! Mais uma vez se foge à pergunta.

“Temos comparado apenas resultados das provas?”

“Exactamente. Na sociedade portuguesa temos esta tentação: se os resultados são maus, diz-se que os alunos não sabem nada; se os resultados melhoram, é porque as provas se tornaram mais fáceis. Com esta lógica não vamos conseguir progredir.”

Quem lê Leonor Santos fica convencido que os comentários das associações de professores são feitos depois de os resultados serem divulgados. Nada está mais longe da realidade. Por exemplo, todos os pareceres da Sociedade Portuguesa de Matemática são redigidos no próprio dia da prova, assim que ela se torna pública.

Em 2008, a S.P.M. declarou que o Exame Nacional de Matemática A (12º ano) era anormalmente fácil. Verificou-se a posteriori uma subida da média de 3,5 pontos em 20 relativamente a 2007, atingindo-se o valor recorde de 14 valores. Situação similar aconteceu com o Exame Nacional do 9º ano de escolaridade, em que o número de escolas com média positiva passou de cerca de duzentas para mais de mil. No dia da prova da segunda fase de Matemática A, a S.P.M. declarou que o nível de dificuldade da prova subiu relativamente à primeira fase. A média, veio-se a saber posteriormente, desceu mais de três valores, situação inédita se atendermos aos resultados nos últimos anos (as médias das duas fases costumam ser comparáveis).

Ou seja, os pareceres das referidas “associações de professores” têm capacidade de previsão. E a capacidade de previsão é um dos mais importantes critérios que permitem validar uma metodologia científica. A S.P.M. não se limita a comentar resultados: prevê resultados após o estudo técnico da dificuldade das questões.

Prossegue Leonor Santos:

“O ano passado foi o primeira vez que em Portugal foram construídas provas que pudessem ser comparadas com as do ano anterior Nunca tal tinha sido feito.(…)”

Nesta curta frase, ficamos a saber duas coisas: que afinal é possível fazer exames fiáveis e que o Ministério da Educação, com o auxílio dos “especialistas” a que habitualmente recorre, não tem feito um trabalho muito sério nos anos anteriores.

Leonor Santos é então confrontada com a pergunta:
“Como é que explica então o crescimento das médias a Matemática entre 2006 e 2008?”

“É natural que os novos programas de Matemática de 2002 estejam agora a produzir resultados (...) Os exames evoluíram mais depressa do que a própria prática e experiência de aprendizagem dos alunos, mas neste momento o trabalho dos professores e dos alunos está muito mais consonante e é natural que havendo maior coerência entre aquilo que se ensina, aprende e testa haja melhores resultados.”

O argumento parece ser o seguinte: os alunos demoraram um pouco a reagir a alterações feitas a partir de 2002. Mas finalmente, entre 2006 e 2008, alunos e professores “entraram em consonância”, o que explica o salto das médias. Isto é naturalmente falso. Estamos a falar de uma subida de 6 pontos em 20 no espaço de dois anos. Só entre 2007 e 2008, a média subiu 3,5 pontos. Não existe nenhum sistema de ensino no mundo que possa evoluir a esta velocidade! A única explicação plausível é, obviamente, uma acentuada descida do nível de dificuldade das provas. Aliás, esta descida foi claramente notada por professores e alunos. Como foi dito mais acima, vários observadores a denunciaram veementemente muito antes dos resultados serem efectivamente conhecidos.

Precisamos de especialistas em Ensino que tomem posições claras, coerentes, ponderadas e sustentadas. Que não se limitem a discursar na forma interrogativa, atacando de forma desastrada os argumentos que vão de encontro às suas ideologias. Que aceitem analisar objectivamente os vários lados das diferentes polémicas, que aliás são (ou deveriam ser) de natureza científica e não ideológica. Essencialmente, precisamos de bons especialistas que não hesitem em dialogar de maneira franca e aberta com cientistas de outras áreas, em particular daquelas áreas que são leccionadas no Ensino Básico e Secundário. Só assim se podem gerar consensos que possam vir a melhorar o nosso debilitado sistema de ensino. Com este radicalismo doutrinário e impermeável à razão, dificilmente serão feitos progressos.
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Texto original [aqui]
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Dpto. Matemática, FCT / Universidade Nova de Lisboa / Portugal
webpage:
http://filipe.s.oliveira.googlepages.com
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Passatempo relâmpago de 19 Jun 09 - Solução




quinta-feira, 18 de junho de 2009

Se eu soubesse...

Por Maria Filomena Mónica

SE EU SOUBESSE NA ADOLESCÊNCIA o que hoje sei a minha vida teria sido diferente. Em vez de me ter inscrito num estúpido curso de Filosofia e, alguns anos mais tarde, num prestigiado doutoramento de Sociologia, deveria ter ido para a Faculdade de Medicina. No final, afastaria a hipótese de uma especialidade menor, como oftalmologia, pediatria ou urologia, seleccionando a de cirurgia: não uma qualquer, mas a dos transplantes, embora, mais uma vez, não um tipo de transplantes qualquer, mas o de fígado ou de rins, não me resignando, em seguida, a ser colocada num estabelecimento que não fosse o Curry Cabral.

Há muito que me interesso pelo problema da doação de órgãos. Em Julho, se bem se lembram, escrevi aqui um artigo intitulado «O Meu Cadáver», em que me insurgia não só contra a lei vigente, baseada no chamado consentimento presumido, mas contra a incúria dos serviços encarregues da recolha de órgãos. Eis que, nesta frente, surgem novidades. No ano passado, além do respectivo salário-base, o chefe da equipa de transplantes do Curry Cabral ganhou prémios no valor de muitas dezenas de milhares de euros: segundo a Visão, de 277 mil, segundo o Público de 30 mil euros (1). Quando apanhado, declarou não ser «um mercenário».

Trabalhando num hospital do Estado, com as facilidades inerentes a quem tem vínculo, estes médicos olham a vida como se estivessem na privada, não lhes ocorrendo que existe uma coisa chamada serviço público. A brincadeira pode sair cara ao país. O Dr. Manuel Antunes, de Coimbra, o qual, não só faz transplantes do coração como de rins – sem nunca ter recebido «incentivos» - declarou considerar a sua equipa credora de 2,6 milhões de euros do Estado pelos transplantes realizados desde 2003. De facto, também ele tem família, a quem justamente deseja dar um estilo de vida adequado. Sabendo o que auferem estes cirurgiões, espero que doravante os pais ensinem os filhos a responder à pergunta «o que queres ser quando fores grande?» da seguinte forma: «cirurgião de transplantes hepáticos no Curry Cabral».
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(1) - Qual o motivo que leva os periódicos portugueses a nunca acertarem quanto se trata de números?

Janeiro de 2008

Passatempo-relâmpago de 18 Jun 09 - Solução



Projecto para a Costa da Caparica

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Passatempo relâmpago de 17 Jun 09 - Solução da 2ª fase

O Prof. Piccard inspirou Hergé na personagem do Prof. Tournesol.

Passatempo relâmpago de 17 Jun 09 - Solução da 1ª fase



Entre a certeza e a contingência

Por Baptista-Bastos

HÁ ANOS, num semanário que por aí se publica, José Sócrates declarou, crudelíssimo e terrível: "Sou um animal feroz." A frase não permitia a mais exígua nesga de bondade. O homem queria apresentar-se à puridade com o estofo de um lutador indomável e o estilo de quem não hesita no uso do ditirambo. Foi gozado. Os gozadores esqueciam-se, ou ignoravam, que o exercício da política obedece a círculos concêntricos. Cedo, enfiaram a viola no saco. Com idêntica plenitude incensaram-no de rosa e levaram-no em ombros.

A Imprensa precisa sempre de vítimas e de carrascos, de santos com defeito e de heróis evasivos. Uns e outros fazem as primeiras páginas e alvoroçam os leitores. A vida dos jornalistas é uma triste configuração do Sísifo mitológico. A vida dos leitores é uma melancolia privada. Ambos rejubilam com um escândalo, por modesto que seja, ou com uma frase que passeie, desgarrada, por aqui ou por ali. Durante vinte e quatro horas, o bulício anima-os.

Sócrates beneficiou da reservada simpatia de profissionais da Comunicação que viam nele um Jacob a amarinhar pelas escadas, a caminho de um novo céu socialista. Falava desenvolto; enfrentava, empertigado, opositores, adversários e recalcitrantes; vestia caro, bom e bem; parecia não ter medo da força que apregoava. Varreu do léxico palavras e expressões presumivelmente associadas à ideia de compromisso. E também varreu a voz da rua, a angústia da rua, o drama da rua. Foi muito elogiado pelos grandes patrões, homens calculados, infalíveis e devotos.

O Governo dele tem sido este filme barato e negro, desprovido da tirania das emoções, frio, inclemente e rude. Sacudido pela derrota nas "europeias", fechou a cara e, sem impaciência nem tolerância, logo garantiu não "mudar de rumo." Eis o "animal feroz", cuja indiferença pelos outros é mais do que pejorativa. E aqueles que o julgam caído por terra, comentadores de prosa com mau hálito, abjurantes de nascença, já preparados para a viragem - que se acautelem. Para sobreviver às legislativas ele irá cerzir, aqui e ali, os rasgões provocados nesse tecido absurdo e espúrio, a que chamou "socialismo moderno" e, ligeiro e feliz, dirá "alguma coisa de Esquerda", também ela feliz e ligeira.

Deixem correr o tempo. O tempo é mais importante do que aquilo que com ele fazemos. Temos de reconhecer este facto para admitirmos que um homem cercado, como ele foi e tem sido, não cede com facilidade. Demais, Sócrates está inebriado de poder, e os que desse poder beneficiam não estão dispostos a dispensá-lo. Les jeux sont faits. Sócrates é, para eles, uma certeza; os eventuais outros, uma dúvida e uma contingência

«DN» de 17 de Junho de 2009

Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Magritte em Bruxelas

Por Nuno Crato

ABRIU A SEMANA passada em Bruxelas o novo Museu Magritte. Ocupa todo um edifício na Praça Real, mesmo ao lado dos outros grandes museus de arte. Na inauguração, o largo ficou em festa. Tocou-se, dançou-se e foram distribuídos chapéus de coco. Retiraram-se panos pintados que envolviam o próprio edifício. Para Magritte, tudo se justifica. Trata-se, afinal, de um dos maiores artistas belgas e a inauguração do museu tinha de fazer jus ao seu gosto pelo surpreendente e pelo absurdo. Estima-se que o novo espaço atraia meio milhão de visitantes por ano.

René Magritte nasceu em Lessines, na Valónia, em 1898. Estudou em Bruxelas e trabalhou em várias etapas da sua vida como gráfico e como publicitário. Desenhou cartazes e folhetos, fez aquilo a que chamou «trabalhos idiotas» — o certo é que a sua pintura revela os traços limpos e as superfícies homogéneas da publicidade. Aderiu aos movimentos modernos, teve tentações cubistas e foi seduzido pelo trabalho de Giorgio de Chirico. Foi um dos fundadores do grupo surrealista belga. Aderiu ao Partido Comunista depois da Segunda Grande Guerra, mas veio-se a afastar das doutrinas do realismo socialista e dos dogmas artísticos de Estaline e de Jdanov.

Magritte é um surrealista especial: pensado, intencional e preocupado em transmitir nas suas obras um sentido de absurdo muito próprio do século. Quando em 1928 e 1929 pintou um cachimbo e escreveu na própria pintura «Ceci n’est pas une pipe» (Isto não é um cachimbo), e quando em 1952 o repetiu e escreveu «Ceci continue de ne pas être une pipe» (Isto continua a não ser um cachimbo), foi acolhido como um pintor profundo, que reflectia os paradoxos entretanto descobertos nos fundamentos da lógica e da matemática.

Como em quase tudo, podem-se encontrar origens nos gregos. O célebre paradoxo do mentiroso, o homem que diz «eu minto», é o protótipo da contradição auto-referencial. Se o homem mentir, então está a falar verdade; se estiver a falar verdade, então é mentiroso.

O primeiro registo de uma contradição deste tipo encontra-se em Eubúlides, um filósofo que viveu no século IV a.C. e que criou várias antinomias célebres, algumas delas ainda hoje debatidas sem se chegar a um consenso. A importância dos paradoxos está em que revelam falhas de raciocínio e obrigam a repensar os fundamentos da lógica que tomamos como óbvia. O lógico Raymond Smullyan escreveu em 1980 um livro a que deu o título «Este Livro Não Precisa de Título». Experimente o leitor pedir essa obra numa livraria.

Nos anos 1930, quando Magritte começava a ser um pintor conhecido, Kurt Goedel provocou uma revolução nos fundamentos da lógica matemática explorando esse tipo de auto-referências. Os seus resultados foram depois muito explorados e abusados para questionar os fundamentos da ciência. Uma boa resenha do seu trabalho acabou de aparecer em tradução portuguesa com o título «Incompletude». É um trabalho de Rebecca Goldstein, em edição da Gradiva.
Alguns surrealistas, muitos críticos de arte e, sobretudo, pensadores pós-modernos posteriores, tentaram ver nas novas correntes artísticas a tradução directa dos conceitos da ciência moderna.
Magritte, contudo, é muito mais directo e simples. «Como as pessoas me criticaram pelo famoso cachimbo! E, no entanto, como poderiam enchê-lo de tabaco? De forma alguma; é só uma representação, não será? Por isso, se tivesse escrito no meu quadro ‘Isto é um cachimbo’, estaria a mentir».

Estaria?

«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 13 de Junho de 2009 (adapt.)

Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

sábado, 13 de junho de 2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Solução do passatempo de 12 Jun 09
Ilustração incluída no livro do passatempo de 12 Jun 09

O Meu Tipo de Homem

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Por Maria Filomena Mónica

NA SEGUNDA-FEIRA, de madrugada [Jan 2008], a TVI começou a exibir a quarta série de House. Há meses que ocupo as minhas noites a observar, em versão DVD, a vida deste médico. Sempre gostei de séries passadas em hospitais, as quais me permitem juntar ao meu catálogo de doenças, as que, por lapso, ainda não estavam lá incluídas. Além de ser uma hipocondríaca, tenho outro defeito: gosto de homens bonitos. Ora, Hugh Laurie, que conhecia da série Blackadder, brilha aqui em todo o seu esplendor físico.
Reconheço de bom grado que isto não pode servir de explicação exclusiva para o sucesso de House junto do público americano nem, muito menos, para o número de prémios que tem recebido desde 2005. O êxito deriva do facto da série constituir uma revolução no género. Agora, já não é o ambiente das urgências, muito menos os tratamentos clínicos, que contam, mas o médico que produz os diagnósticos que mais ninguém é capaz de fazer. E, no entanto, não é o seu talento ou não é apenas ele que nos atrai.
Viciado em analgésicos, egocêntrico e cínico, Gregory House possui um calcanhar de Aquiles, supostamente causado por um trauma sofrido na infância. Como o próprio confessou a uma das suas colaboradoras, a melíflua Dra Cameron, é «um ser emocionalmente danificado». Daí provem não só a sua dificuldade em lidar com os doentes vulgares mas a sua incapacidade em se apaixonar. Intelectualmente, House é um génio; afectivamente, um monstro. Dele se poderia dizer o mesmo que Lady Caroline Lamb disse de Lord Byron: é louco, mau e um perigo para quem com ele se cruza. As frases que House displicentemente murmura ao longo dos programas são brilhantes, mas o que nele nos atrai não é tanto isso, mas a fissura primordial que atravessa o seu espírito. No fundo, todas as mulheres gostariam de o salvar: é este o segredo da série.
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Janeiro de 2008.
Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.
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Também na Av. Almirante Reis...
No seguimento das fotos da Av. Almirante Reis e da Morais Soares, em Lisboa, aqui fica outra, da Rua Frei Amador Arrais (Bairro de S. Miguel, em Alvalade), na mesma cidade.
Os primeiros devem ser dos 'anos 30-40' (morei num, na Praça do Chile, em 1950, que já não era nada novo); os segundos são do início dos 'anos 50' (1952-54). Estes também têm a roupa a secar do lado das traseiras e pequenos logradouros.
Curiosidade: todas as casas desta zona eram de 'renda limitada' (manteve-se em 1.11o$00 durante mais de 3 dezenas de anos).

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Passatempo-relâmpago de 9 Jun 09 - Solução

PRIMEIRA FASE

A 1ª fase do passatempo tinha como resposta «Página 88». Foi ganha por Jaime, com a 'aposta' 87. Tem 24h para escrever para sorumbatico@iol.pt indicando morada para envio do livro.
NOTA: pouco depois, Ferreira deu a mesma resposta mas, como sempre, em caso de empate o prémio vai para o 1.º 'apostador'.
Tem direito, no entanto, a uma menção-honrosa.
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SEGUNDA FASE (surpresa)

Este passatempo, como se explicou em "comentário", veio a propósito da «Investigação Perigosa» que está a decorrer em torno do BPN, e a frase escolhida (que se vê na imagem de cima) era uma piada ao "supervisor". Ora, como na mesma investigação também sobressaíram alguns "amnésicos", a imagem de baixo prestava-se a um passatempo semelhante. E assim será; simplesmente, o prémio vais ser 100% surpresa, sendo atribuído ao leitor que, sem o saber, mais se aproximou do número da página, a 25...

Assim, este prémio-surpresa vai para Luís Bonito, com a sua 'aposta' na pág. 23. Tem 24h para escrever para sorumbatico@iol.pt indicando morada para envio do livro.

Exemplos exemplares

Junto à Assembleia Municipal da Lisboa:
À esquerda, três carros multados pela EMEL. Ao fundo, um da Polícia Municipal de Lisboa (estacionado, como habitualmente, em local de Paragem Proibida)
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«Segurança Rodoviária» - Av. Almirante Reis
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«Reservado a deficientes» - Av. Roma.
Do outro lado da rua, lugares vagos com fartura...
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Novamente junto à Assembleia Municipal da Lisboa:
Carrinha da Polícia Municipal estacionada em local de Paragem Proibida
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No mesmo local, Carrinha da CML estacionada em Paragem Proibida
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Ainda junto ao mesmo local, carrinhas da CML estacionadas no Jardim Fernando Pessa
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Também no mesmo local, carro da Polícia Municipal em Paragem Proibida, tendo atrás de si um carro da CML. Ao lado, um parque de estacionamento subterrâneo, com 636 lugares, sempre às moscas. Aprecie-se o ar pensativo da senhora agente.
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Um agente da P.Municipal estacionou a moto na paragem de autocarro e foi-se embora dali.
Os carros vão chegando e estacionando 'normalmente'.
Av. de Roma, junto ao N.º 27
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Paragem de autocarro na Av. João XXI
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Para multar carros indevidamente estacionados (neste caso o azul), a P. M. faz exactamente o mesmo (Av. João XXI)
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Av. de Roma (junto ao n.º 27):
Funcionários da EMEL estacionam a carrinha na paragem de autocarros e vão tratar de um parquímetro do outro lado da avenida.
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E ficamo-nos por aqui, de contrário excedia a capacidade de armazenamento do Blogger...