sexta-feira, 3 de setembro de 2010

ÀVOLTAKÁTESPERO - Os cus dos elefantes

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Por Antunes Ferreira

DE ACORDO com fontes bem informadas e fidedignas – os meus quatro + uma netos – aqui em casa podem ser contados 327 presépios, 17 cristos, 29 budas e 35 elefantes. É obra. Há ainda, 32 ícones das origens mais diversas, incluindo a Albânia, bastantes quadros não quantificados (pelo menos até à hora em que escrevo estas linhas) de diversos autores e outros.

Nestes últimos, incluem-se, num bric-a-brac esplendoroso, peças assaz diferentes, desde dois samovares, um turco e outro (na altura soviético, hoje russo) estatuetas a dar com um pau, originárias da Tailândia até à Austrália, passando pelo Japão, Coreia do Sul, Creta, Venezuela, Brasil, Cabo Verde, Angola & correlativos. Registo que existem duas focas em pedra, dos inuis – para quem não saiba, o que me parece difícil, são o que vulgarmente chamamos esquimós.

Quanto a instrumentos musicais, nem é bom falar; pendurados nas paredes, em cima de estantes, um pouco por todo o apartamento, podem visitar-se à vista desarmada e em especial, um citar indiano e uma pipa chinesa, que não deve ser confundida com recipiente vinícola, com aduelas, pois se trata de uma espécie de como quem diz, mas não é exactamente. Um espécimen entre a guitarra portuguesa e o bandolim, mas só com três cordas.

Uma carapaça de tartaruga conveniente e pacientemente decorada a preto e branco jaz imponente sobre a lareira. Papiros egípcios, dizem que autênticos, nada de casca de banana para gringos, uma bailarina da Malásia, em madeira, com cerca de um metro de altura e até, na sua moldura à maneira, um desenho polícromo primorosamente executado pelo neto Vicente. Diz AVO, o circunflexo ausente, HENRIQUE. Encontra-se ao lado de caricaturas do subscritor. Há uma do Vasco, outra do Bandeira, outra do Júlio Gil, ainda outra do mano Zambujal e, finalmente, uma do goês Mário Miranda, na qual este vosso criado toureia, com o casaco, uma vaca sagrada, no caminho de Bombaim, agora Mumbai para Goa.

Uma amiga do Paulo (o nosso, do meio), giraça, 1,82 metros convenientemente recobertos natural e curvilineamente, a Milena, na primeira vez que aqui chegou disse que era um verdadeiro museu. Exagero, meninos, exagero. Porém, vindo de um exagero de moça, perdoa-se.

Ando a congeminar de há uns tempos para cá, se devo fazer um seguro. Mas, cada vez mais, tenho dúvidas, isto apesar do Luís Carlos, o nosso benjamim, ser director jurídico de uma Seguradora multinacional. Bancos e companhias de seguros já tiveram melhores dias, ainda que os respectivos lucros sejam o que se vai sabendo.

Chegado aqui, poderão Vocências perguntar, mas o que é temos nós com isso? E, deixem-me que vos diga que perguntarão muito bem. Não aceitando visitas guiadas naturalmente pagas, porquê esta publicidade, mesmo esta propaganda descarada e desaustinada? Depois das convenientes e justificadíssimas desculpas aos que ainda aqui vêm, passo a explicar. São os elefantes. São o quê, ponto de interrogação. Os elefantes.

Os já citados proboscídeos, de materiais e formatos assaz diferentes – só um exemplo: um, vietnamita, é um banco, sem tirar nem pôr – têm uma característica igualzinha, uma espécie de máximo divisor comum que se estudava na malfadada matemática. Todos eles estão de rabo virado para a porta de entrada. É um hábito, uma prática, um costume oriental na generalidade e indiano na especialidade.

Prontos, sem s. Aqui chegado, encerro a escrevinhadela. Mas não posso deixar de apontar, in fine: há os que nasceram com o cu virado para a lua; os paquidermes são mais para a porta.