quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Crueldade

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Por João Paulo Guerra

NO ANO Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social, Portugal já regista um recorde nacional absoluto, o do desemprego.

Segundo o Eurostat, a taxa de desemprego em Portugal atingiu em Maio e Junho os 11 por cento, o que constitui um novo máximo histórico. Mas para que o drama do desemprego não seja tratado apenas através da fria indiferença dos números, há ainda um outro máximo entre as notícias diárias sobre extermínio de postos de trabalho.

O caso passou-se em Arouca, na fábrica de calçado Pinhosil, onde as 18 trabalhadoras da empresa, no dia do regresso de férias, foram despedidas por ‘sms'. O patrão da Pinhosil já tem cadastro em matéria de encerramento de empresas. Em 2006 fechou a empresa Pinho Oliveira, num contexto que os trabalhadores jamais viram explicado. Mas a questão actual é que, talvez para desmentir a proverbial tacanhez tecnológica do mais esfarrapado tecido empresarial português, desta vez o patrão foi de modas e lançou mão do ‘short message service' para mandar para casa as trabalhadoras da empresa. Os salários de Julho e Agosto, metade do subsídio de Natal de 2009 e o subsídio de férias deste ano terão ficado por pagar, mas isso não coube no formato ‘short' da ‘message' patronal.

Está assim inaugurada uma modalidade de comunicação entre empregadores e empregados, desempregadores e desempregados, mais imediata, expedita e desburocratizada. As formalidades do despedimento são desmaterializadas e transmitidas por via telefónica em mensagem de texto de sentido único, evitando assim recriminações e até mesmo eventuais desacatos. Claro que haverá quem considere que se trata de uma relação desumanizada, brutal e de extrema crueldade. Mas a crueldade, tal como a estupidez, não paga impostos.
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«DE» de 2 Set 10