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Por João Paulo Guerra
O PRESIDENTE da Pastoral Social, o bispo Carlos Azevedo, verberou o actual “modelo económico” considerando-o “indecente, injusto, desigual, desproporcionado, dele resultando o agravamento da pobreza e da exclusão social”.
As palavras do bispo Carlos Azevedo, pelo conteúdo e pela forma, estão obviamente mais perto da doutrina cristã que a bênção das desigualdades como ordem natural das coisas, que muito pregam dentro e fora da Igreja de Jesus Cristo. "Indecente, injusto, desigual, desproporcionado" não são pecadilhos que se absolvam com umas tantas rezas. Mas claro que todos aqueles que se enchem com o actual "modelo económico", mesmo aqueles que simultaneamente batem com a mão beata no peito, estarão pouco preocupados com as palavras de Cristo ao preconizar que lhes será mais difícil entrar no Reino dos Céus que a um camelo passar pelo fundo de uma agulha. Na verdade, o paraíso goza-se na terra, no bem-bom da riqueza material e do poder do dinheiro.
De vez em quando, ergue-se uma voz a quebrar a monotonia do pensamento único que aponta a selvajaria do capitalismo como uma inevitabilidade da história e destino dos homens. Por vezes, essas vozes evocam a doutrina social da Igreja e os seus originais valores de generosidade pregados por Cristo. Mas Cristo, por essas e outras, acabou pregado numa cruz e dois mil anos mais tarde os princípios da solidariedade são motivos ou de chacota ou de suspeição, alimentados pelos ‘gauleiter' dos valores do mercado.
As palavras severas do bispo Carlos Azevedo ecoaram nos jornais de ontem. O poder tem capacidade para suportar uma crítica. E mais vale abrir, aqui e ali, uma válvula de escape que permita que salte a tampa da panela de pressão. Mas tão cedo não volta a falar-se do assunto. Ouviram?
.Por João Paulo Guerra
O PRESIDENTE da Pastoral Social, o bispo Carlos Azevedo, verberou o actual “modelo económico” considerando-o “indecente, injusto, desigual, desproporcionado, dele resultando o agravamento da pobreza e da exclusão social”.
As palavras do bispo Carlos Azevedo, pelo conteúdo e pela forma, estão obviamente mais perto da doutrina cristã que a bênção das desigualdades como ordem natural das coisas, que muito pregam dentro e fora da Igreja de Jesus Cristo. "Indecente, injusto, desigual, desproporcionado" não são pecadilhos que se absolvam com umas tantas rezas. Mas claro que todos aqueles que se enchem com o actual "modelo económico", mesmo aqueles que simultaneamente batem com a mão beata no peito, estarão pouco preocupados com as palavras de Cristo ao preconizar que lhes será mais difícil entrar no Reino dos Céus que a um camelo passar pelo fundo de uma agulha. Na verdade, o paraíso goza-se na terra, no bem-bom da riqueza material e do poder do dinheiro.
De vez em quando, ergue-se uma voz a quebrar a monotonia do pensamento único que aponta a selvajaria do capitalismo como uma inevitabilidade da história e destino dos homens. Por vezes, essas vozes evocam a doutrina social da Igreja e os seus originais valores de generosidade pregados por Cristo. Mas Cristo, por essas e outras, acabou pregado numa cruz e dois mil anos mais tarde os princípios da solidariedade são motivos ou de chacota ou de suspeição, alimentados pelos ‘gauleiter' dos valores do mercado.
As palavras severas do bispo Carlos Azevedo ecoaram nos jornais de ontem. O poder tem capacidade para suportar uma crítica. E mais vale abrir, aqui e ali, uma válvula de escape que permita que salte a tampa da panela de pressão. Mas tão cedo não volta a falar-se do assunto. Ouviram?
«DE» de 16 Set 10